Ao nosso jornal, José Filipe Pinto, professor catedrático e especialista em
Relações Internacionais, vê com naturalidade estes ‘movimentos’ e acredita que
a tendência são para se manter. «É evidente que a nível do poder local conta
muito a empatia que o candidato ou a candidata criou com a população e, por
isso, é normal que alguns partidos procurem cativar anteriores independentes ou
até mesmo membros de partidos para que troquem o partido e optem por um novo
apoio partidário», salienta.
É certo que do lado dos partidos a tentação é
grande, como reconhece o especialista: «Os partidos percebem que quem tem poder
ao nível do poder local é quem criou um bom relacionamento junto dos munícipes
e, simultaneamente, tem obra feita. E, como tal, são pessoas apetecíveis».
José Filipe Pinto acrescenta que há «independentes que são apetecíveis para os partidos e há pessoas dentro de um partido que são apetecíveis para outro partido. O partido aposta sempre em quem lhe parece que tem mais condições para vencer e, por isso, é natural que tentem atrair militantes de outros partidos ou independentes, preferencialmente independentes».
Este é o caminho que deverá ser seguido pelo
Chega, uma vez que o partido concorre aos 308 municípios, defende José Filipe
Pinto. «É evidente que vai precisar de 308 cabeças de lista e mesmo usando os
seus deputados que já apresentam um número muito significativo nas listas tem
de recorrer a personalidades locais com peso político». E frisa que «é evidente
que está sempre interessado em tentar captar dissidentes de todos os partidos».
O mesmo cenário, diz, aplica-se ao PS e ao PSD.
«Numa tentativa de se apoderarem da Associação Nacional de Municípios tentam
atrair que figuras que já foram dos partidos ou que estavam ligadas aos
partidos regressem à vida interna partidária», refere, dando o exemplo do
Porto: onde Rui Moreira foi eleito como independente apesar de contar com
apoios partidários. «Os partidos hoje estão a tentar capturar alguns daqueles
que foram feudos de movimentos independentes, como por exemplo o Porto, em que
já percebemos que vai ou para o PS ou para o PSD e deixará ser gerido por um
movimento, o mesmo se passará com Oeiras, que verdadeiramente volta para o
PSD», salienta.
E lembra que, assim, do lado de quem é o rosto do movimento fica com a vida facilitada. «Tanto o movimento de Rui Moreira, como o de Isaltino Morais são movimentos muito centrados numa figura. O que é que acontece? É normal que os principais partidos tentem atrair essas figuras porque, além de contarem com o apoio da máquina partidária também verdadeiramente ficam livres de uma infinidade de tarefas burocráticas», acrescenta. Por outro lado, chama a atenção para quem bata com a porta para não ter de responder às exigências dos partidos. Um desses casos é Aníbal Pinto, que desistiu da sua candidatura à Câmara do Porto como cabeça de lista pelo partido Nova Direita, alegando falta de autonomia nas listas e no programa da candidatura. «Nesse caso, entendeu que devia dispor de liberdade para ordenar a lista, mas é evidente que o partido opôs-se a isso», afirma.
Isaltino: um caso isolado
José Filipe Pinto aponta Isaltino Morais como um
caso isolado. «Saiu do PSD em litígio com a direção, liderou um movimento,
ganhou as eleições com ele e tem a eleição garantida como independente, no
entanto, é um rosto apetecível para o PSD. É visto como o regresso do filho
pródigo, porque o PSD não teria nenhuma
hipótese de vencer em Oeiras, mas acaba por ter como garantida a Câmara de
Oeiras através da figura de Isaltino Morais», refere.
O especialista lembra ainda que estes movimentos independentes só têm existência legal até ao dia das eleições e, a partir daí, extinguem-se, o que implica que após vitória seja criado todo um tipo de apoio e uma infraestrutura «para perpetuar a existência do espírito do movimento», porque o movimento, em si, já não existe. «E depois há outra agravante, quando houver nova eleição, estes independentes vão precisar de formar um novo movimento, mesmo que seja com a mesma designação» (Sol, texto da jornalista Sónia Peres Pinto)
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