sábado, julho 18, 2009

Irão: "Mulheres e moda não podem ser amigas no Irão"

Com este título publicou a jornalista do Publico, Joana Amaral Cardoso, há alguns anos, um texto interessante e que recordo, porque ajuda a perceber os desejos de mudança que hoje se espalham rapidamente entre as mulheres iranianas: "No seio de um país, que apesar de clamar viver em "reforma" de costumes, subjuga as suas mulheres e lhes reserva um papel limitado na vida social e pública, a moda não existe. Mas no país em que as mulheres são quase obrigadas a usar sempre o "chador", o telegénico manto negro que as cobre da cabeça aos pés, ficando só com a cara e as mãos de fora, ocorreu uma revolução. Abafado, silencioso e, "reparem, completamente coberto", o Irão viu em Janeiro a primeira passagem de modelos em 22 anos.Desde a Revolução Islâmica que os hábitos no Irão se tornaram mais negros. O "hijab", o véu que cobre a cabeça das iranianas, voltou a tornar-se obrigatório e no campo das cores a opção é reduzida. Nas ruas de Teerão, uma mancha negra, ou azul escura, é uma mulher, que certamente está acompanhada de outras mulheres e, no caso de ter a seu lado um homem, ele só pode ser, de acordo com a "sharia", a lei islâmica, um familiar ou o marido.No entanto, sob esta rígida vivência do corpo e da moda, no início de Janeiro a estilista Mahla Zamani conseguiu realizar a primeira passagem de modelos no Irão em duas décadas, marcada pelo desejo da criadora de "reavivar a herança de roupa colorida do Irão". O evento atraiu mais de 16 mil pessoas, aliás mulheres, visto que se realizou no âmbito de uma feira de juventude, aberta apenas ao sexo feminino. A colecção apresentava no início peças mais curtas e até alguns decotes, mas as novidades esvaziaram-se na segunda parte do desfile, aparte a cor. Um dos comentários que mais se ouvia - porque não há fotógrafos, aplausos ou gritos - era o da própria Mahla Zamani, que assegurava, a cada modelo, que a roupa apresentada permitia que estivesse "totalmente coberta!".No entanto, a passagem atraiu algumas das mais jovens espectadoras. "Foi fantástico. Deu-me uma sensação de liberdade e de frescura", confessou Leila Mousiqidan, de 19 anos, ouvida pela CNN. Outras, mais cautelosas, sorriram e limitaram-se a dizer que se usassem "aquelas coisas" iriam rir-se delas na rua, como descreve a edição europeia da revista "Time". A opinião de Tahereh Housseinpour, de 30 anos, é completamente diferente. Depois de ter visto a passagem, que a filha da criadora, uma adolescente vestida com roupas coloridas, confessou ser "um sonho tornado realidade", Tahereh criticou duramente o que viu: "Não é islâmico que jovens mulheres apareçam semi-nuas em público, mesmo que apenas perante uma audiência feminina". "Infelizmente, podemos ver alguns dos símbolos da corrupção ocidental a infiltrar-se na nossa sociedade", desaprovou a iraniana, citada pela Associated Press.Antes da Revolução Islâmica não havia quaisquer limites impostos às roupas das mulheres. Hoje, 22 depois, 60 por cento da população tem menos de 25 anos e, consequentemente, não tem qualquer recordação da liberdade de antes, de acordo coma investigadora norte-americana Donna Hughes, da Universidade de Bradford, no Reino Unido. Os vestidos apresentados no desfile de Zamani eram de seda e algodão, e muito coloridos. Usáveis, no sentido em que cumprem o código de vestuário que obriga à cobertura total do corpo, mas com cores que algumas potenciais compradoras acham que ainda não são "aceitáveis". As roupas mostradas na "passerelle" tinham mesmo decotes e algumas mangas curtas, que as mulheres que assistiram ao desfile não estavam muito dispostas a adquirir, apesar da ressalva da criadora, que explicou que os vestidos mais reveladores podem ser usados por baixo do "chador". Zamani acredita que o modelo iraniano não deve ser posto em causa, mas que são possíveis algumas mudanças. Vai começar por vestir as empregadas da maior cadeia de mercearias do Irão, tal como já faz com as assistentes de bordo da Iran Air, o que pode "dar coragem às outras".A mulher iraniana não riNa rua, as iranianas não podem sorrir - um aspecto da cultura de flagelação e martírio defendida pelo Islão - e o "hijab" mais colorido começa agora a ser o único sinal de alívio da pressão imposta sobre as mulheres no que respeita à forma de vestir. As cabeças das universitárias podem ser agora cobertas de forma mais colorida. Ainda assim, os tons permitidos são o verde escuro e o castanho chocolate, graças à atitude reformista do Presidente Khatami.A mulher no Islão é vista como a encarnação do vício e da sedução sexual, vendo controlada a sua vida social e a forma como se apresenta em público. Durante anos, não foi permitido o uso de maquilhagem (agora as faces começam a aparecer ligeriamente mais coloridas) ou de qualquer objecto de enfeite, como bijuteria. A violação de qualquer destas normas é punível com penas de prisão que vão dos três meses a um ano de duração, multas ou ainda 74 chicotadas por uso indevido de vestuário. Outra das consequências para as mulheres que insistem em utilizar o "hijab" de forma imprópria é serem enviadas, depois de detidas, para um centro educativo que combate a "corrupção social", segundo a investigadora Donna Hughes".

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