O PS é o partido político que menos autoridade moral e política tem para querer carregar, por sua própria imposição, a cruz do padecimento dos portugueses. Muito menos tem autoridade ética para querer colocar-se na primeira fila da procissão de indignação e de protesto social contra a austeridade criminosa que todos sofremos e que resultou da falência do pais legada pelos governos socialistas anteriores, da incompetência e do despesismo descontrolado e obsessivo que caracterizou o reinado de José Sócrates, agora transformado num raivoso comentador televisivo sem qualquer audiência digna de realce e que decorre do facto dos portugueses continuarem a não se esquecer dos culpados desta catástrofe financeira, económica e social onde estamos atulhados.
O PS é hoje um partido desesperado, na medida em que se debate com o dilema duplo de, por um lado querer branquear o passado recente e as responsabilidades criminosas que tem na situação hoje existente em Portugal e, por outro, querer criar condições para ganhar eleições - embora eu continue a pensar que não quer esse cenário no imediato, mas tudo faz para o disfarçar e dar uma imagem contrária – apesar de se confrontar com uma liderança que reconhecidamente não consegue mobilizar os eleitores para os níveis pretendidos, que não é capaz de apresentar alternativas concretas aos cidadãos, que não esclarece o seu posicionamento sobre nada em concreto, nomeadamente sobre o que fará, caso ascendam ao poder, às medidas adoptadas por este governo de coligação e que se limita a olhar para as sondagens como se os indicadores delas decorrentes resultassem de mais-valias próprias e não da incompetência, da insensibilidade, dos erros políticos e da teimosia e cegueira deste governo de coligação em queda.
É sabido que o PS de Seguro - que esteve sempre calado durante o anterior governo socialista de Sócrates que nos conduziu a este estado caótico das nossas contas públicas, em termos de défice do Estado, que não propriamente dos custos do chamado estado social - já revelou que não promete milagres e que não vai travar a austeridade, caso não existem alternativas, insistindo na ideia correcta de que estamos sob intervenção externa, pelo que não dependemos de nós próprios mas antes de factores que não controlamos. Ou seja, na realidade o PS não quer ir para o poder neste momento, quer que este governo de coligação continue a partir pedra, por isso não diz que medidas deste governo e que foram tomadas ao longo destes dois anos de austeridade, serão revogadas ou mantidas caso os socialistas regressem ao poder, etc. O PS vive numa mentira, continua a alimentar-se de um embuste, mente aos portugueses, manipula a opinião pública na comunicação social, não é capaz de gerar confiança apesar de liderar as sondagens, o que não deixa de ser natural, dado o descalabro da governação e a dimensão catastrófica, em termos sociais e económicos, desta austeridade criminosa, que está a destruir o país e a empobrecer os portugueses.
Esta semana vimos o PS - fruto da demagogia facilitista que caracteriza o seu discurso, confirmar que se mantém refém da necessidade de começar a ganhar espaço já que aspira a vencer eleições que se aproximam – querer dar nas vistas ao suscitar um debate na Assembleia da República sobre a alegada taxa de sustentabilidade a incidir sobre pensões e reformas bem como sobre a anunciada retroactividade de cortes a aplicar em pensões do sector público já em pagamento. Foi um debate falhado, um pouco à imagem do próprio PS de Seguro. A verdade é que nem uma coisa nem outra são decisões já tomadas, não há nada de concreto sobre elas, pelo que esta tentativa de antecipação dos socialistas se revelou um fracasso, sem quaisquer ganhos políticos e muitos menos sem mais-valias para Seguro e para a sua corte de dirigentes esfomeados pelo poder a todo o custo. A verdade é que se este governo de coligação decidir avançar com essas medidas - que penalizarão de forma contundente os dois partidos da coligação, quiçá de uma forma irreversível e perigosa, porquanto os dois partidos podem ser atirados para desaires eleitorais históricos - obviamente que o debate ocorrerá na Assembleia da República, onde qualquer proposta a implementar terá que se discutida e aprovada.
Repito: uma coisa é a austeridade necessária para pagarmos o que devemos aos nossos credores, para podermos ter condições para que nos emprestem dinheiro futuramente e podermos financiar-nos nos mercados, outra coisa é o fundamentalismo miserabilista e criminoso cegamente seguido por esta coligação e por este governo de Lisboa, de uma forma vil e servilhista, mas sobretudo pelo ministro das finanças, em termos de execução dessa estratégia de combate ao défice crónico das contas públicas.
Ninguém consegue normalizar as suas contas, sejam estados, empresas ou famílias, sem recorrer à austeridade, sem prescindir de determinados níveis consumistas, sem deixar de assumir despesas que estejam de acordo com as receitas. Gastar mais do que recebe é catastrófico porque significa, a prazo, o endividamento descontrolado das contas pública se a necessidade de aumentar a carga fiscal para tapar os buracos à medida que eles aparecem. Mas isso não significa a inevitabilidade do empobrecimento obrigatório do país nem a pobreza tem que ser encarada como uma fatalidade incontornável, muito menos para que o colector de impostos Gaspar garanta os tais 8 mil milhões de juros que só este ano terá que entregar aos credores e à tróica.
Portanto, o que se questiona não é a necessidade da contenção orçamental. O que se questiona é a perspectiva absolutamente criminosa de haver quem esteja disposto a perseguir objectivos financeiros e orçamentais compreensíveis, diria mesmo necessários e legítimos, insistindo cegamente em o fazer à custa de pesadas consequências sociais, ignorando os gravíssimos impactos causados por fobias doentias que têm arrasado a sociedade portuguesa e as famílias, causando choques terríveis bem expressos no aumento da pobreza, do endividamento, das falências, do desemprego, etc., que deviam envergonhar este país e sobretudo os governantes.
Temos que ser realistas. Quando o governo de coligação fala em cortar a despesa pública, estamos a falar de uma realidade incontornável, pressionada não só pelo facto de estarmos sob intervenção externa e sujeitos a um penoso programa de ajustamento financeiro, mas também porque cerca de 75 por cento dos encargos do estado serem absorvidos pelos salários da função pública e pelos encargos do chamado estado social.
Percebe-se que quantos maiores forem esses encargos, mais acentuada será a carga fiscal sobre os cidadãos, que já é absolutamente criminosa, uma das mais elevadas da Europa, num processo que tem sido vergonhosamente distorcido, manipulado e usado de forma criminosa, particularmente por este poder sem carácter, sem ética e sem dignidade, na tentativa de colocar trabalhadores públicos contra privados, tal como o faz com os jovens versus os reformados e pensionistas.
E não venham com a demagogia fácil, recorrentemente tão do agrado de alguns, de colocarem em cima da mesa argumentos populistas, sempre que se fala no corte da despesa pública: não são as principais instituições da democracia portuguesa ou das regiões nem são os políticos que delas fazem parte, apesar de todos os erros que lhe possam ser imputados, até porque ninguém é perfeito, os culpados pela dimensão de encargos atingidos pelo estado.
É sobre isto que as pessoas precisam de reflectir. (LFM-JM)