"O governo de Gaspar (erradamente ainda se diz que é de
Passos...) cometeu dois erros tremendos que lhe foram fatais para a
imagem que hoje tem aos olhos dos portugueses e que me leva a acreditar que
terá poucas possibilidades de cumprir a legislatura. E de ser capaz de suster
uma tendência - oxalá esteja equivocado - de crescente contestação social, de
agravamento da crise social, de estagnação económica, de multiplicação dos
índices de endividamento familiar, de falências de empresas, de pobreza e de
desemprego, já a níveis absolutamente escandalosos, o que poderá conduzir-nos
para situações de violência graves.
O primeiro erro, leva-nos ao que se
passou na Islândia, mas sobre isso escreveu amanhã. O segundo erro, já
sobejamente falado, relaciona-se com a desastrada política de comunicação,
melhor dizendo, com a falta de uma adequada comunicação política que não se
pode confundir com operações de charme e de venda de gato-por-lebre,
disfarçadas com teorias à volta do marketing político propriamente dito.
Um governo pode e deve ter uma política
de comunicação, sem que necessariamente tenha que privilegiar uma atitude de
permanente recurso à demagogia do marketing político. Aliás, quem minimamente
sabe do que se trata, percebe que nesta conjuntura de crise profunda, o que faz
falta é de uma comunicação política séria, acessível, actualizada e sustentada,
e não qualquer tipo de marketing político mais ou menos disfarçado, como aliás
acontecia com o governo socialista anterior, de Sócrates, onde se confundia
frequentemente comunicação com marketing político. Durante algum tempo,
reconheço, ajudou, terá sido mesmo uma arma decisiva para o governo socialista
e para a sua manutenção no poder.
Mas quando a situação de foi
degradando, quando a crise social de agravou, quando a crise orçamental se
transformou num pesadelo, todos os esforços para esconder (ou disfarçar)
o problema tornaram-se ineficazes. O que é estranho, ou talvez não, é que
Sócrates insiste hoje, nos comentários políticos semanais na RTP, nessa mesma
linha de actuação, tentando manipular situações e factos, distorcendo a
realidade, minimizando acontecimentos que sabemos terem sido decisivos e
valorizando minudencias em detrimento do essencial e das causas que se
revelaram determinantes para o caos e para a crise e a austeridade que hoje
vivemos.
Este governo de
Gaspar não só não comunica, como sempre manteve uma relação estranha com os
meios de comunicação social, desprezando-os, desvalorizando mesmo em
determinados momentos. Não só perdeu agora o chamado "inimigo de estimação" dos jornalistas como perdeu
sobretudo, e simultaneamente, quem (Miguel Relvas) supostamente teria o encargo de resolver este défice
tremendo do executivo na gestão de toda a sua estratégia comunicacional
incluindo as relações com os média.
Ao perder a
imprescindível capacidade de comunicar e de explicar às pessoas as medidas que toma,
porque as toma e com que objectivos, este governo foi perdendo aos poucos o
apoio das pessoas que votaram nos dois partidos que o suportam no parlamento,
essencialmente porque os tratou com desprezo, tal como faz com os portugueses
em geral.
Este
contestado, e cada vez mais hostilizado, governo de coligação - relativamente
ao qual o PSD da Madeira, e bem, tem o dever político e ético de se distanciar
- e nunca é demais referi-lo, quer por oposição à criminosa política de empobrecimento e de roubalheira
descarada que vem insistindo, quer porque ideologicamente tudo isto não tem
rigorosamente nada a ver com o PSD e com os seus pilares ideológicos e
programáticos, mas antes com desprezíveis teorias protofascistas - conseguiu,
por causa desse défice comunicacional, perder todos os dias o apoio de uma
parte do eleitorado que foi enrolado pelo embuste que esteve na origem da
vitória eleitoral de Junho de 2011, que acreditou numa mudança mas sobretudo
acreditou que a austeridade, sendo necessária, tinha um objectivo concreto e
que começaria a dar frutos dois anos depois de nos ser imposta.
Ora nada disso
aconteceu. O que temos é um governo de coligação desacreditado, mentiroso e
bandalho, que insiste arrogantemente, e sem legitimidade para o fazer, na
imposição de mais austeridade quando a anterior austeridade falha – tal como
falham todas as previsões desse incompetente Gaspar, que não passa de um
autoritário colector de impostos e procurador dos interesses dos nossos
credores, mais preocupado com a sua imagem e com futuros tachos que lhe possam
ser atribuídos (oxalá que
sejam, única forma deste desacreditado e traído projecto europeu caia mais depressa) do que com o futuro do pais e dos
portugueses.
E como se tudo
isso não bastasse, temos agora se dá ao desplante de querer impor regras
orçamentais e de conduta governativa para os governos que o sucederão para além
de 2015, caso a fragilidade da oposição, conjugada com uma política sindical
que se revela cada vez mais como mais do mesmo, imprópria para consumo o (que é que os sindicatos conseguiram
fazer para travar o desemprego criminoso que hoje temos, o que fizeram para
suster as alterações da legislação laboral facilitando o despedimento e
tornando-o mais barato, o que é que fizeram para travar a perda de rendimento
dos trabalhadores, o que é que farão para travar a onda selvática de
despedimentos de funcionários públicos?), não seja capaz, como pretende, de
obrigar a uma antecipação do calendário eleitoral que tantas e estranhas náuseas
parece causar ao Presidente da República. Provavelmente este governo de
coligação comporta-se como se estivéssemos sob as amarras de uma asquerosa ditadura
ultra neoliberal, a roçar as ditaduras fascistas que existiram na Europa - e
que pelos vistos algum saudosismo deixou… - como se não existissem alternativas
políticas e se em democracia não exista alternância.
No fundo, e
lamentavelmente, somos todos vítimas dos mistérios de um bem-sucedido assalto e
tomada de poder, iniciado nos partidos e depois alargado, que viabilizou o
desencadear de uma agenda ao serviço de uma ideologia próxima de determinados
grupos de interesses e de pressão, essencialmente não políticos, que viveram e
sempre viverão sentados
na mesa do
orçamento, exercendo manipulação, beneficiando do tráfico de influências, etc, que se concentraram
todos no apoio a este projecto social, político e económico executado por um
gangue de oportunistas, sem experiência política, que nunca exerceram cargos executivos
de responsabilidade, que fizeram o seu percurso profissional rasca em empresas
privadas habilidosas, ou mergulhados nos caixotes do lixo e do esquecimento de
gabinetes institucionais, onde as prateleiras e a incompetência são mais que muita, a que se
junta, nalguns casos, um estranho percurso académico universitário que explica
porque se revelaram doentiamente impreparados e incompetentes face à dimensão do desafio a que deram
corpo.
Se este governo não for capaz de
recuperar pelo menos parte dessa base eleitoral de apoio, se não mudar
drasticamente a sua política de comunicação, se não tiver com os cidadãos em
geral uma outra atitude e forma de estar, se insistir cegamente, influenciado
por uma patética visão "messiânica" de castigar os portugueses,
considerados os culpados pela situação em que nos encontramos, é mais do que
provável que sejamos confrontados a custo prazo com a necessidade de lutarmos
pela nosso própria sobrevivência, enquanto pais, povo e identidade própria.
Radical? exagerado?
A seu tempo,
caso se persistam neste rumo, veremos quem tem razão…" (LFM-JM)