sábado, maio 04, 2013

Opinião pessoal: "Não há maneira...."



"O governo de Gaspar (erradamente ainda se diz que é de Passos...) cometeu dois erros tremendos que lhe foram fatais para a imagem que hoje tem aos olhos dos portugueses e que me leva a acreditar que terá poucas possibilidades de cumprir a legislatura. E de ser capaz de suster uma tendência - oxalá esteja equivocado - de crescente contestação social, de agravamento da crise social, de estagnação económica, de multiplicação dos índices de endividamento familiar, de falências de empresas, de pobreza e de desemprego, já a níveis absolutamente escandalosos, o que poderá conduzir-nos para situações de violência graves.
O primeiro erro, leva-nos ao que se passou na Islândia, mas sobre isso escreveu amanhã. O segundo erro, já sobejamente falado, relaciona-se com a desastrada política de comunicação, melhor dizendo, com a falta de uma adequada comunicação política que não se pode confundir com operações de charme e de venda de gato-por-lebre, disfarçadas com teorias à volta do marketing político propriamente dito.
Um governo pode e deve ter uma política de comunicação, sem que necessariamente tenha que privilegiar uma atitude de permanente recurso à demagogia do marketing político. Aliás, quem minimamente sabe do que se trata, percebe que nesta conjuntura de crise profunda, o que faz falta é de uma comunicação política séria, acessível, actualizada e sustentada, e não qualquer tipo de marketing político mais ou menos disfarçado, como aliás acontecia com o governo socialista anterior, de Sócrates, onde se confundia frequentemente comunicação com marketing político. Durante algum tempo, reconheço, ajudou, terá sido mesmo uma arma decisiva para o governo socialista e para a sua manutenção no poder.
Mas quando a situação de foi degradando, quando a crise social de agravou, quando a crise orçamental se transformou num pesadelo, todos os esforços para esconder (ou disfarçar) o problema tornaram-se ineficazes. O que é estranho, ou talvez não, é que Sócrates insiste hoje, nos comentários políticos semanais na RTP, nessa mesma linha de actuação, tentando manipular situações e factos, distorcendo a realidade, minimizando acontecimentos que sabemos terem sido decisivos e valorizando minudencias em detrimento do essencial e das causas que se revelaram determinantes para o caos e para a crise e a austeridade que hoje vivemos.
Este governo de Gaspar não só não comunica, como sempre manteve uma relação estranha com os meios de comunicação social, desprezando-os, desvalorizando mesmo em determinados momentos. Não só perdeu agora o chamado "inimigo de estimação" dos jornalistas como perdeu sobretudo, e simultaneamente, quem (Miguel Relvas) supostamente teria o encargo de resolver este défice tremendo do executivo na gestão de toda a sua estratégia comunicacional incluindo as relações com os média.
Ao perder a imprescindível capacidade de comunicar e de explicar às pessoas as medidas que toma, porque as toma e com que objectivos, este governo foi perdendo aos poucos o apoio das pessoas que votaram nos dois partidos que o suportam no parlamento, essencialmente porque os tratou com desprezo, tal como faz com os portugueses em geral.
Este contestado, e cada vez mais hostilizado, governo de coligação - relativamente ao qual o PSD da Madeira, e bem, tem o dever político e ético de se distanciar - e nunca é demais referi-lo, quer por oposição à criminosa política de empobrecimento e de roubalheira descarada que vem insistindo, quer porque ideologicamente tudo isto não tem rigorosamente nada a ver com o PSD e com os seus pilares ideológicos e programáticos, mas antes com desprezíveis teorias protofascistas - conseguiu, por causa desse défice comunicacional, perder todos os dias o apoio de uma parte do eleitorado que foi enrolado pelo embuste que esteve na origem da vitória eleitoral de Junho de 2011, que acreditou numa mudança mas sobretudo acreditou que a austeridade, sendo necessária, tinha um objectivo concreto e que começaria a dar frutos dois anos depois de nos ser imposta.
Ora nada disso aconteceu. O que temos é um governo de coligação desacreditado, mentiroso e bandalho, que insiste arrogantemente, e sem legitimidade para o fazer, na imposição de mais austeridade quando a anterior austeridade falha – tal como falham todas as previsões desse incompetente Gaspar, que não passa de um autoritário colector de impostos e procurador dos interesses dos nossos credores, mais preocupado com a sua imagem e com futuros tachos que lhe possam ser atribuídos (oxalá que sejam, única forma deste desacreditado e traído projecto europeu caia mais depressa) do que com o futuro do pais e dos portugueses.
E como se tudo isso não bastasse, temos agora se dá ao desplante de querer impor regras orçamentais e de conduta governativa para os governos que o sucederão para além de 2015, caso a fragilidade da oposição, conjugada com uma política sindical que se revela cada vez mais como mais do mesmo, imprópria para consumo o (que é que os sindicatos conseguiram fazer para travar o desemprego criminoso que hoje temos, o que fizeram para suster as alterações da legislação laboral facilitando o despedimento e tornando-o mais barato, o que é que fizeram para travar a perda de rendimento dos trabalhadores, o que é que farão para travar a onda selvática de despedimentos de funcionários públicos?), não seja capaz, como pretende, de obrigar a uma antecipação do calendário eleitoral que tantas e estranhas náuseas parece causar ao Presidente da República. Provavelmente este governo de coligação comporta-se como se estivéssemos sob as amarras de uma asquerosa ditadura ultra neoliberal, a roçar as ditaduras fascistas que existiram na Europa - e que pelos vistos algum saudosismo deixou… - como se não existissem alternativas políticas e se em democracia não exista alternância.
No fundo, e lamentavelmente, somos todos vítimas dos mistérios de um bem-sucedido assalto e tomada de poder, iniciado nos partidos e depois alargado, que viabilizou o desencadear de uma agenda ao serviço de uma ideologia próxima de determinados grupos de interesses e de pressão, essencialmente não políticos, que viveram e sempre viverão sentados na mesa do orçamento, exercendo manipulação, beneficiando do tráfico de influências, etc, que se concentraram todos no apoio a este projecto social, político e económico executado por um gangue de oportunistas, sem experiência política, que nunca exerceram cargos executivos de responsabilidade, que fizeram o seu percurso profissional rasca em empresas privadas habilidosas, ou mergulhados nos caixotes do lixo e do esquecimento de gabinetes institucionais, onde as prateleiras e a incompetência são mais que muita, a que se junta, nalguns casos, um estranho percurso académico universitário que explica porque se revelaram doentiamente impreparados e incompetentes face à dimensão do desafio a que deram corpo.
Se este governo não for capaz de recuperar pelo menos parte dessa base eleitoral de apoio, se não mudar drasticamente a sua política de comunicação, se não tiver com os cidadãos em geral uma outra atitude e forma de estar, se insistir cegamente, influenciado por uma patética visão "messiânica" de castigar os portugueses, considerados os culpados pela situação em que nos encontramos, é mais do que provável que sejamos confrontados a custo prazo com a necessidade de lutarmos pela nosso própria sobrevivência, enquanto pais, povo e identidade própria. Radical? exagerado? A seu tempo, caso se persistam neste rumo, veremos quem tem razão…" (LFM-JM)