"O primeiro-ministro disse há dias que 78% da despesa do Estado é com prestações sociais, salários e juros. O primeiro-ministro disse há dias que 78% da despesa do Estado é com prestações sociais, salários e juros. Restam, assim, apenas 22% para fazer face às restantes responsabilidades do Estado. E mesmo se se retirarem os juros, ainda assim, dois terços da despesa do Estado consome-se em prestações sociais e salários que têm crescido a bom ritmo. Nos últimos anos, o País tem feito face às despesas crescentes do Estado à custa de endividamento, o que acabou por redundar num aumento de impostos para todos. A situação é, por isso, insustentável e tinha de ser corrigida. O problema é que, como é hábito em Portugal, todos sabem que as reformas são necessárias mas ninguém as põe em prática. O Governo tem toda a razão quando diz que é preciso reformar o Estado e diminuir as despesas para níveis comportáveis com a produção de riqueza do País. Mas tardou demasiado em avançar com as medidas, não as debateu com outras forças políticas e parceiros sociais e acabou por ser impelido pela urgência da situação para o maior corte alguma vez feito no nosso país. O que devia ser uma reforma estrutural transparente, acaba por ser um conjunto de medidas cegas e, como tal, socialmente injustas que vão afectar ainda mais uma população já muito causticada pela austeridade. Os apoios sociais são importantes e não podem ser menosprezados. Cerca de 20% a 25% da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza e, sem apoios sociais, esse número aumentará para mais de 42%. Ora, é nos momentos difíceis que é preciso olhar para os mais desfavorecidos e protegê-los. Por isso, o Estado deve planear as reformas atempadamente em vez de deixar-se empurrar para elas de forma atabalhoada, discuti-las e só as executar quando reúnem um consenso alargado e a certeza de que não vão apagar a última réstia de esperança a milhões de portugueses" (texto do Económico, com a devida vénia)