quinta-feira, novembro 08, 2012

Reportagem: "O homem que manda nas Finanças"

 
 
"A política do ministro das Finanças nem entre a família é seguida com admiração. José Rabaça Gaspar, tio paterno, faz questão de separar os laços familiares do cargo que o sobrinho ocupa – e não poupa na indignação. "Está a revelar-se incompetente. O País não precisava de um agente de interesses externos mais troikista do que a troika que nos governa" – diz. José Rabaça Gaspar, de 74 anos, estudou no seminário e tomou ordens maiores. Continua padre, que o sacramento da ordenação nem o Papa lhe pode tirar, mas pediu a dispensa do exercício do múnus para seguir a vida de acordo com as regras seculares e casar-se. Vive em Lisboa, tem dois filhos.
RAÍZES NA SERRA
Há uma travessa, em Manteigas, onde Vítor Gaspar não é o senhor ministro ou "aquele que anda a tirar ao povo o pão para a boca". Ali, em plena cadeia montanhosa da serra da Estrela, onde tem pelo lado paterno profundas raízes, há uma travessa em que Vítor Gaspar é Vitorzinho, "o menino estudioso e astuto, filho único" que "jogava à bola no quintal dos avós" nas férias grandes e tinha "conversas profundas com a avó Maria dos Prazeres sobre o sentido da vida". Na travessa de Santo António – onde chegou a morar toda a família paterna, ali junto a um riacho onde as mulheres ainda lavam a roupa – moram hoje, e apenas, três primas do pai, Vítor Rabaça Gaspar, o mais velho de oito irmãos educados entre a casa e a igreja. "Quando se soube que o Vitorzinho ia para ministro eu antes de ir à missa telefonei ao meu primo [o pai de Gaspar] e disse: ‘Venho dar-te os parabéns’. Ele disse-me: ‘Não me dês parabéns nenhuns, cala-te aí que esta nomeação foi como quem me deu com uma pedrada na cabeça. Acende lá uma velinha a Deus Nosso Senhor por mim’ e olhe que ele nem é católico praticante", conta Maria da Encarnação Serra, de 87 anos, que vive com as irmãs Maria Alcina, de 85, e Maria Adelaide, de 75, na mesma casa. Ao lado viviam os avós do ministro, Elísio e Maria dos Prazeres, numa casa que era de pedra mas foi, entretanto, remodelada. O avô era uma grande figura na vila: respeitado por ser contabilista da fábrica Mattos Cunha, uma das mais importantes companhias de lanifícios do País, e temido pela militância activa na Legião Portuguesa, a força paramilitar de defesa da ditadura com estreitas ligações à polícia política (PIDE). Elísio era um feroz entusiasta do regime – tanto que participou do primo José Rabaça pelas ligações à oposição não-comunista. A denúncia perdura na família como uma nódoa que nem o tempo ainda conseguiu limpar. Ao ministro, da avó, ficou-lhe o jeito para a poupança. Do avô herdou o gosto pela ordem e disciplina, o culto do trabalho, um certo fascínio pelas contas e a constante preocupação entre o deve e o haver. Colegas do Governo não cedem à tentação de o comparar a Salazar – e chamam-lhe, pelas costas, o ‘Salazarinho’. Seja como for, a vida levada com temperança já lhe deu, a uma semana de completar 52 anos, um confortável pé de meia: 655 mil euros em depósitos a prazo, mais cerca de 90 mil em aplicações, poupanças e uma carteira de acções da EDP e da Cimpor.
FILHO ÚNICO
Vitorzinho (como é conhecido na família para se distinguir do pai) nasceu na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, numa quarta-feira, em 9 de Novembro de 1960. "Lembro-me particularmente de uma altura, depois de eu ter estado na Alemanha, em que ele estava todo entusiasmado com a minha experiência: para ele, ter estado no estrangeiro era liberdade, era um sonho. Tinha sido recentemente o 25 de Abril e talvez tenha tornado isso mais marcante. Ele era o geniozinho da família, o menino inteligente", conta o tio José Rabaça Gaspar. O pai do ministro fez o liceu na Guarda e formou-se em Economia em Lisboa – onde conheceu Maria Laura Seixas Louçã (tia do ‘bloquista’ Francisco Louçã): Casaram em 29 de Dezembro de 1959. Vítor pai faz carreira na administração pública e Laura, jurista, interessa-se pela administração colonial e publica obra sobre o assunto. O menino Vítor cresce num ambiente de estudo – e há-de sonhar, um dia, com uma carreira académica. O ministro perdeu o avô quando tinha 12 anos (em 1972) mas até "aos 18 anos era muito comum" visitar Manteigas. "Depois começou com a universidade e ficava sempre em Lisboa – onde nasceu – a estudar. Desde pequeno que o Vitorzinho fazia muitas perguntas, íamos de carro e ele questionava os caminhos, isto já com seis ou sete anitos, estava sempre a perguntar coisas ao pai", conta a prima Maria Adelaide. "E é verdade que ele leu ‘O Capital’ do Marx aos 17 anos, um livro que muitos comunistas não devem ter lido." Quanto "àquela calma que ele tem a falar herdou da mãe, da dona Laura, que é uma senhora de modos suaves e sempre ponderada. A família do pai é mais exaltada, a avó Prazeres gesticulava muito". Era com ela que ia sempre à missa.
"Ai de nós que não fôssemos. Os nossos avós, com medo de que escapássemos para jogar à bola, perguntavam logo o que o senhor padre tinha dito", recorda Adelino Lucas, vizinho da porta ao lado da infância de Manteigas de Gaspar. "Essa religiosidade também passou para ele, tanto que durante muitos anos o Vitorzinho vinha sempre à procissão em honra da Nossa Senhora da Graça, padroeira de São Pedro, nos dias 7 e 8 de Setembro. Toda aquela família acreditava nos milagres da Santa". Exemplos de dedicação à religião na família não faltavam: "A tia Teresinha, freira, o Tio Horácio, seminarista que estudou com o actual bispo da Guarda, e o tio José Rabaça. Ao ministro nunca o vi aqui com nenhuma rapariga, só com a mulher depois de casar." Mas do que Adelino mais se lembra era do futebol improvisado. "Juntávamos uns quantos miúdos e íamos para o quintal jogar à bola. Lembro-me de que a avó dele, a Dona Prazeres, servia-nos pão com marmelada a meio da tarde quando nos dava a fome. Apesar de eu ser mais velho que ele [dez anos], era um miúdo esperto para a idade, com quem dava para brincar. Era franzino mas corria por todo o lado." Que o diga Teresa Gabriel, que chegou a ser ama do ministro "quando ele tinha uns sete, oito anos. Enquanto os adultos estavam à mesa tinha de zelar que não caísse das escadas, era um miúdo muito activo".
"Quando era adolescente também gostava de fazer escaladas pela serra com uma tia escuteira, tinha uma actividade física activa", lembram as primas. Adelino, além de amigo de infância, também trabalhou na fábrica Mattos Cunha. "A cada oito dias fazíamos fila para receber o pagamento. O sr. Elísio aprendeu por ele aquele ofício, para dar de comer àqueles filhos todos". "E, além disso, também trabalhava para a Câmara e para a Junta, que todo o dinheiro era pouco para pôr na mesa", conta a prima Encarnação. "O Elísio era uma pessoa respeitada aqui na terra por ser contabilista e ter posses. Tinha um carro muito antigo, uma ‘arrastadeira’, daqueles muito compridos. Vivia bem, senão não tinha posto os filhos todos a estudar fora, mas como ajudava os pobres não morreu rico", comenta Adelino. Elísio morreu dois anos antes do 25 de Abril. "Se não fosse nessa altura teria morrido por causa da revolução", diz à socapa a prima Encarnação.
PRIMO DE LOUÇÃ
O ministro ingressa no antigo liceu Padre António Vieira, em Lisboa, no ano lectivo de 1972/73 e fica até 1973/74, confirmam as listas de alunos. Nessa altura, era ainda um liceu só de rapazes, e por lá não deixou grandes memórias. Contactadas cinco professoras que leccionavam naqueles anos os ‘pavianos’, nenhuma se lembra dele. Maria de Lourdes Neto, na altura elemento da direcção, comenta ainda: "A única coisa de que me lembro é que entrou a dada altura para a escola um primo do Louçã, mais pequenito [têm quatro anos de diferença], mas depois disso não recordo mais nada". Cândida Silva, então professora de Matemática, também não tem qualquer memória de Gaspar. "Só me lembro do Louçã e do Santana Lopes". Num grupo de antigos alunos do PAV no Facebook alguém comenta: ‘Sabiam que o Gaspar tinha andado na nossa escola?’, ao que a resposta mais comum é: ‘Lago com ele e deixá-lo lá ficar’. Depois do 25 de Abril, tinha Gaspar 14 anos, ‘salta’ para a Escola Rainha Dona Leonor, para uma turma mista "de betinhos", onde também não deixou memórias entre os colegas contactados pela Domingo. Na Universidade Católica – apesar de "bom aluno", segundo um colega de curso que pede para não ser identificado – não se destaca pelo labor académico. Dá mais nas vistas pela indumentária. Os pergaminhos da escola exigem um traje mais formal e apessoado. Mas Gaspar não liga a isso. Os colegas desse tempo recordam-no de botas de camurça e camisa de flanela aos quadrados – o que lhe vale a injusta alcunha de ‘Comunista’. É aluno de Cavaco Silva, na cadeira de Política Financeira, e de António Borges, que ensina Economia do Bem-Estar e Economia da Energia. Gaspar faz parte de uma turma de ‘marrões’ conhecida pelo resto do curso por ser "a única que não tinha mulheres bonitas" – recorda a mesma fonte. É entre as colegas que encontra a namorada, Sílvia Luz, hoje quadro do Banco de Portugal. Ambos completam a licenciatura em 1982 – e os dois escolhem fazer o mestrado na Faculdade de Economia da Universidade de Lisboa. Vítor está decidido a seguir a carreira académica. Sílvia nem por isso. Mas dedica-lhe um agradecimento especial na tese de mestrado sobre ‘Mercado de Futuros e Estabilização de Preços’: "Ao Vítor Gaspar pelo apoio e estímulo permanentes". A tese foi entregue no ano em que nasceu a primeira filha do casal.
DEIXOU DE IR À PRAÇA
No último 4 de Março, dia do Município, o ministro das Finanças regressou a Manteigas para ser homenageado. "Soubemos depois que ele veio um dia mais cedo mas incógnito. Veio tarde, ficou hospedado na residencial Casa das Obras – e não na casa da família – e foi jantar com a mulher e as três filhas" no restaurante Serradalto, um espaço simples. "Comeu novilho com fruta e bebeu vinho da terra (preço médio 12 euros). No dia seguinte esteve cá mas foi com a comitiva toda e comeram cabrito", recorda Fábio Martins, empregado do restaurante. Ficou, novamente com a família, mais uma noite na terra paterna para "comemorar o aniversário de casamento". Corre na terra, contam as primas, que Gaspar tinha ido a Manteigas pouco antes do Dia do Município comprar um cão Serra da Estrela. "Parece que uma senhora o reconheceu e disse-lhe: ‘Olhe que a sua cara não me é estranha. Parece mesmo o ministro das Finanças’; e que ele respondeu: ‘Já a minha mulher me disse o mesmo’", conta Maria da Encarnação em jeito de anedota. "Sabe, isto é mesmo dele. As pessoas acham que ele está a gozar com elas quando discursa na televisão, porque se ri, mas ele é mesmo assim: optimista e brincalhão." Já no mercado de Alvalade, Lisboa, a postura que se lhe conhece "é a de um senhor muito educado, que vinha sempre aos sábados, às 08h00, comprar pão, peixe e hortaliças. Vinha sozinho e costumava levar robalo selvagem e garoupa. Sabia escolher peixe", conta Horácio Cruz, dono de uma concorrida banca de peixe. "Desde que é ministro nunca mais o vi. Deve ter medo que as pessoas lhe caiam em cima", brinca. Ainda assim, consta no mercado que, todos os sábados às 8h00, "a mulher do ministro vem às compras: discreta e rápida para não ser reconhecida por ninguém".
O FALSO LENTO
A queda de Vítor Gaspar para falhar nas previsões não é de agora. O amigo Jorge Braga de Macedo que o diga. Quando era ministro das Finanças (cargo que exerceu entre finais de 1991 e meados de 1993) confiou nas contas de Gaspar, então no Gabinete de Estudos do Banco de Portugal, que previam o crescimento do PIB em um por cento. Erro fatal. O Produto Interno Bruto, em vez de crescer, caiu perto de três por cento. O chefe do Governo, Cavaco Silva, substituiu Braga de Macedo por Miguel Beleza. Vítor Gaspar, a avaliar pela carreira, manteve intocável o seu prestígio técnico e académico. Mas a grande coroa de glória apenas chega em 2005. Durão Barroso, recém-nomeado presidente da Comissão Europeia, convida-o para o Gabinete de Consultores Políticos. Vítor Gaspar voa com a mulher e as três filhas para Bruxelas. A missão é bem remunerada. Metido consigo próprio, discreto, dava--se principalmente com os colegas portugueses de trabalho. João Marques de Almeida, professor universitário e assessor de Durão Barroso, jogava ténis todas as semanas com Vítor Gaspar. Guarda a memória de um jogador "muito competitivo e que não gostava nada de perder". Ao contrário de outros parceiros de ténis, "Gaspar era incapaz de fazer batota", diz Marques de Almeida. "Num jogo de ténis, é normal que o adversário insista em que as suas bolas não bateram fora. O Vítor Gaspar era precisamente ao contrário e ele próprio reconhecia, sem grande esforço, que a bola do adversário era boa. Levava o jogo com uma seriedade desarmante", recorda a mesma fonte. Segundo João Marques de Almeida, o actual ministro das Finanças era um português com saudades de Portugal: "Sempre que podia, escolhia um restaurante com comida portuguesa". Não se lhe conhecia em Bruxelas vida social. A vida era entre casa e o trabalho, rotina quebrada para os jogos de ténis. Vivia com a família em Shumann, perto da sede da Comissão Europeia. O economista Vasco Cal, que só conheceu Vítor Gaspar em Bruxelas apesar de encontros em várias conferências, garante que ele era sempre o primeiro a chegar e o último a sair do gabinete: chegava à sede da Comissão às 07h30 e "saía, por norma, às tantas da noite". Ainda hoje, mantém o hábito de chegar cedo ao Ministério das Finanças. Quem o ouve falar, naquele tom lento e monocórdico, não imagina a velocidade com que o ministro se mexe no ‘court’ de ténis: "É um falso lento. Parece uma locomotiva. Arranca devagar, mas consegue chegar às bolas todas", diz Vasco Cal. Pior desempenho, pelo que se vê, tem à frente do Ministério das Finanças: a locomotiva, até agora, só tem andado para trás...
PATRIMÓNIO DECLARADO AO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL (2011)
PATRIMÓNIO
Imobiliário: Dois apartamentos em Lisboa
Três automóveis:
– Mercedes Benz, classe B, B200, cinzento, de 2005 – 16 500 € (*)
– Mercedes Benz, classe B, B200, azul escuro, de 2010 - 24 500 € (*)
– BMW série 5, 530 D, azul escuro, de 2005 - 22 500 € (*)
* valor apurado em sites de automóveis usados e das marcas
ACÇÕES
– EDP, quantidade 390, valor unitário 2499 €; depositadas no BBVA
– Cimpor, quantidade 205, valor nominal 5269 €; depositadas na CGD
DEPÓSITOS A PRAZO
245 000 € na CGD
330 000 € no BBVA
80 000 € no Santander Totta
APLICAÇÕES DE POUPANÇA
85 106 € – CGD – Caixa Seguro Poupança
92 259 € – BBVA: CASH-ES 2952 €, quantidade UP 320 043
DÍVIDA
82 054 € relativos a empréstimos concedidos pelo Banco de Portugal para aquisição de habitação correspondente a um empréstimo de 59 340 €, com vencimento em Abril de 2024; empréstimo de 25 714 € com vencimento em Maio de 2021
RENDIMENTOS (segundo declaração de IRS referente ao ano de 2010)
146 960 € + 13 108 € = 160 068 € (por conta de outrem)
118 760 € (rendimento da mulher)
Total de rendimentos do casal – 278 858 €
RETENÇÕES
48215 € + 2594 €= 50809 € (Vítor Gaspar)
36 682 € (Mulher)
Contribuições
3 962 € + 1441 € = 5403 € (V.G.); 6 627 € (Mulher)
DESPESAS DE SAÚDE E EDUCAÇÃO
Saúde (bens e serviços isentos de IVA): 365 €. Outras de saúde (receita médica): 113 €.
Despesas de educação e formação dos sujeitos passivos e dependentes: 7444 €
O PRIMEIRO A CHEGAR À TOMADA DE POSSE
Começa cedo o dia e tem pouca paciência para atrasos. Uma maneira de estar que se fez notar logo na tomada de posse do novo Governo, a 21 de Junho de 2011. O ministro das Finanças foi o primeiro a chegar ao Palácio da Ajuda, para uma cerimónia que começou às 12h00. O dia de Gaspar tinha começado logo pelas oito com uma reunião com a troika: Começava a desenhar-se o caminho da austeridade. Na altura, colhia muitos elogios. Manuela Ferreira Leite falou de "belíssima escolha". E até o seu antecessor, Teixeira dos Santos, sublinhou a "muita experiência" do actual ministro.
BILHETE DE IDENTIDADE
Nome: Vítor Louçã Rabaça Gaspar
Nascido a 9 de Novembro de 1960, na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa
Casado com Sílvia Maria Dias Luz
Três filhas Catarina (26 anos), Marta (21 anos) e Madalena (14 anos)
Percurso académico 1982 – Licenciatura em Economia na Universidade Católica de Lisboa
1985 – Mestrado em Economia na Univ. Nova de Lisboa
1988 – Doutoramento em Economia na Univ. Nova de Lisboa
1992 – Agregação em Economia na Univ. Nova de Lisboa
Cargos desempenhados 1989-1992 – Director do Departamento de Estudos Económicos no Ministério das Finanças
1993-1994 – Consultor da Administração no Banco de Portugal
1994-1998 – Director do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal
1998-2004 – Director Geral de Estudo Económicos do Banco Central Europeu
2007-2010 – Director do Gabinete de Conselheiros de Política Europeia da Comissão Europeia, em Bruxelas
2010-2011 – Consultor no Banco de Portugal” (reportagem dos jornalistas do Correio da Manhã, Manuel Catarino, Paulo Pinto Mascarenhas e Marta Martins Silva, com a devida vénia)