quinta-feira, novembro 08, 2012

Opinião: "O futuro sem reformas"

“Para todos nós que corremos o sério risco de não ter reforma nem serviços de saúde praticamente gratuitos pouco mais resta que poupar. O Estado não vai ter dinheiro para pagar as nossas reformas. Não vai haver dinheiro para pagar a nossa saúde. A educação dos nossos filhos deixará de ser feita em escolas públicas. Na doença ou no desemprego teremos de ser nós a garantir a nossa sobrevivência. E haverá menos crédito para tudo, para comprar um carro ou uma casa. Esta imagem de terror do nosso futuro é menos improvável do que parece. O envelhecimento da população, o crescimento lento e o fim da era do crédito fácil que conduziu o mundo ocidental à actual crise conjugam-se para cada um estar mais entregue a si próprio. Os efeitos do fim da era do Estado que está ali para nos ajudar quando estamos desempregados, doentes ou quando já não podemos trabalhar é especialmente violento para a classe média. Foram elas que financiaram o Estado Social, é para elas que o Estado Social não vai existir. Um retrocesso em relação àquilo que viram os seus pais ou avós terem: reformas e apoios na saúde que lhes permitiram (e permitem) ter uma vida digna e sem problemas de maior. Para todos nós que corremos o sério risco de não ter reforma nem um serviço de saúde praticamente gratuito pouco mais resta do que ir poupando para a reforma e para as despesas de saúde. Deprimente? Sem dúvida depois do que a economia do pós-segunda guerra mundial prometeu aos países ocidentais e do que Portugal sonhou ser após o 25 de Abril de 1974, da adesão à CEE em 1986 e da integração no euro em 1999. A mudança que os países ocidentais enfrentam tem, no caso português, a agravante de uma dívida acumulada para financiar despesas e investimentos que não trouxeram a prometida prosperidade. Nem as estradas, nem os projectos em energias renováveis, nem ainda as mil e uma infra-estruturas culturais e desportivas construídas pelo país fora durante a última década aumentaram a capacidade produtiva do país que se traduziria em mais rendimento.
Conscientes dos actuais tempos difíceis que não parecem ter um fim à vista, os portugueses têm aumentado a sua poupança não apenas para pagarem as suas dívidas, mas também pela incerteza que hoje marca o futuro.
No momento em que vivemos, este aumento de poupança contribui desde logo para aliviar as restrições de financiamento e, contrariamente ao que intuitivamente pode parecer, é uma via de promoção do crescimento. Num futuro com acesso mais limitado ao crédito, o investimento em Portugal tem de ser mais alimentado por poupança interna. As previsões são sempre exercícios de adivinhação. Mas o tempo que vivemos recomenda prudência. E prudência aconselha poupança. Porque se o futuro for a projecção deste presente, as pensões de reforma serão mínimas se existirem e a saúde terá de ser não tendencialmente gratuita, mas sim tendencialmente paga(texto de Helena Garrido do Jornal de Negócios, com a devida vénia)