domingo, novembro 18, 2012

Carmen Reinhart: “Portugal e a Europa devem avançar com reestruturações de dívida”

Escreve o Jornal de Negócios num texto do jornalista Rui Peres Jorge: “A análise é de Carmen Reinhart, uma das economistas do mundo mais conceituadas no estudo de crises financeiras. A resolução da crise europeia e portuguesa deveria incluir reestruturações de dívida pública e privada, defendeu esta tarde Carmen Reinhart, uma das economistas mundiais mais conceituadas em análises e crises financeiras numa conferência em Lisboa promovida pelo Banco de Portugal. Austeridade e reformas estruturais não chegam, avisou. A economista, que é mulher mais citada do mundo entre pares, tem-se destacado nos últimos anos a estudar a crises financeiras em todo o mundo os últimos dois séculos, incluindo nas economias avançadas. O seu trabalho que numa parte importante é desenvolvido em parceria com Kenneth Rogoff, um ex-economista chefe do FMI tem sido amplamente difundido nos meios académicos e de decisão de política económica ao mais alto nível. Carmen Reinhart – que ao contrário dos planos iniciais não veio a Lisboa - falou por vídeo conferência a partir dos EUA para uma audiência que incluía além de Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, Faria de Oliveira, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, e vários economistas e responsáveis do sistema financeiro e dos departamentos de investigação nacionais mais relevantes. “A mensagem não é animadora”, avisou logo ao início a economista. “Não estou a dizer que a austeridade e as reformas estruturais não são importantes” para resolver a crise. “O que estou aqui para dizer é sugerir que decididamente só isso não chega” para resolver crises da dimensão da experimentada pelas economias avançadas. “Quando as dívidas chegam a este nível, historicamente necessitaram de algum tipo de negociação com os credores”, defendeu. Reinhart diz que nos últimos anos está habituada a ouvir a “perspectiva optimista” de que se poderão resolver os problemas através de uma estratégia que aposte crescimento, mas avisa com base nos dois séculos de crises financeiras que vem analisando: “há muito poucos exemplos de países que tenham conseguido resolver crises deste tipo apenas através de crescimento”. E não é apenas nas economias emergentes, frisou: “Nas economias avançadas [as resoluções das crises] têm envolvido algum tipo de reestruturação, e nos casos mais extremos, incumprimentos”, afirmou. A economista considerou que “algum tipo de reestruturação de dívida, privada e pública” é um tema “muito importante para o caso de Portugal” que tem níveis elevados de ambas as dívidas. Mas Reinhart defendeu também que essa necessidade não se esgota sequer no Sul da Europa. A economista fez questão de sublinhar que “esta é a maior crise que vimos desde a grande depressão” e que é preciso ponderar mecanismos de alívio de dívida “não apenas na periferia europeia”, mas também nos EUA e no Reino Unido.
Uma década perdida pela frente
As investigações que tem desenvolvido com os economistas Kenneth Rogoff e Vincent Reinhart mostram que, historicamente, crises da dimensão da actual levam mais de uma década a ultrapassar. “Não é um ano ou dois, é uma década”. Em média, nos dez anos após a crise “o crescimento do PIB é mais baixo entre 1 e 1,5 pontos do que na década anterior” e “o desemprego é em média 5 pontos superior", afirmou. Muitas vezes, mesmo dez anos depois, PIB e desemprego ainda não voltaram aos níveis anteriores à crise, avisou. Sobre a desalavancagem da economia - isto a redução do endividamento - Carmen Reinhart aponta para que a sua conclusão demore em média sete anos após o início do processo de desalavancagem, o qual por sua vez só tem início dois a três depois do eclodir da crise (os primeiros anos aliás são tipicamente marcados por aumentos de dívida, especialmente pública, como esta crise bem demonstra). Ou seja, o processo está apenas a começar. A análise da economista aponta assim para o final desta década como meta para a recuperação da crise nas economias avançadas. Mas esta é uma média: poderá levar menos tempo, com as políticas adequadas; poderá demorar mais, com as políticas erradas. É por isso que defende que as economias avançadas avancem o mais rapidamente possível para reestruturações de dívida privada e pública. “Não há saídas fáceis. Será difícil e implicará novas perdas de PIB. A opção é entre sofrer agora e recuperar depressa, ou conter os danos agora, mas ficar num marasmo indefinidamente”, respondeu a um dos membros da audiência. “A escolha não é fácil”, reconheceu, mas defendeu que “o adiamento das reestruturações em Portugal, Espanha, Irlanda ou Itália fazem muito, muito mal”.