terça-feira, novembro 13, 2012

Boletim Económico – Outono 2012: Projeções para a Economia Portuguesa 2012-2013

"O ano de 2012 é marcado pela continuação do processo de ajustamento da economia portuguesa, enquadrado pelo programa de assistência económica e financeira. A evolução da economia portuguesa decorreu num contexto de restritividade das condições monetárias e financeiras – num quadro de perturbações no mecanismo de transmissão da política monetária na área do euro – e de manutenção da orientação contracionista da política orçamental. Neste quadro, observou-se uma deterioração da posição cíclica da economia portuguesa, caracterizada por uma forte quebra do produto e por um significativo aumento do desemprego.
Em 2012 e 2013 deverá observar-se uma queda de 3.0 e 1.6 por cento da atividade económica, respetivamente, já que a acentuada contração da procura interna será apenas parcialmente compensada pela evolução positiva da procura externa líquida.
As exportações de bens e serviços deverão continuar a registar um crescimento assinalável em 2012 e 2013, num contexto de fraco dinamismo da atividade económica nos principais parceiros comerciais de Portugal. A dinâmica das exportações traduzir-se-á num significativo ganho de quota de mercado nos dois anos. Esta evolução, a par de uma redução das importações, resultou em progressos no processo de ajustamento em 2012, designadamente ao nível do reequilíbrio do saldo da balança corrente e de capital. Deste modo, a balança corrente e de capital deverá registar um excedente em 2013, após um saldo virtualmente nulo em 2012.
No que diz respeito à evolução da procura interna em 2012-2013, a orientação restritiva da política orçamental, conjugada com expectativas desfavoráveis quanto à evolução da atividade e do mercado de trabalho, a perceção de uma redução do rendimento permanente e a constituição de poupanças por motivos de precaução justificam a forte redução do consumo das famílias, especialmente no segmento dos bens duradouros. Adicionalmente, as expectativas de redução da procura interna, o elevado nível de incerteza e a restritividade das condições monetárias e financeiras têm como reflexo uma acentuada contração da formação bruta de capital fixo.
A taxa de inflação em Portugal, medida pela variação média do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), deverá situar-se em 2.8 por cento em 2012. Esta projeção encontra-se largamente condicionada pelo impacto de diversas medidas associadas ao processo de consolidação orçamental que entraram em vigor, quer em 2011, quer em 2012, com destaque para o aumento das taxas do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) aplicáveis a alguns produtos. A dissipação do efeito destas medidas de natureza orçamental, num contexto de manutenção de pressões internas sobre os preços muito limitadas deverá determinar uma redução da inflação para cerca de 1 por cento em 2013.
A atual projeção está condicionada por elevada incerteza, associada a vários fatores, designadamente a evolução da envolvente externa (incluindo a implementação das medidas de resolução da crise de dívida soberana na área do euro), o impacto das medidas de política económica interna, a resposta dos agentes económicos e o processo de ajustamento de médio e longo prazo da economia. Estes fatores determinam uma amplitude substancial do intervalo de confiança das projeções em torno da projeção pontual. A atual projeção é caracterizada por riscos de uma evolução mais desfavorável da atividade económica. Em particular, a projeção das exportações poderá ser negativamente afetada por uma evolução mais adversa do enquadramento externo da economia portuguesa, caracterizado por elevada incerteza. Adicionalmente, a capacidade de alisamento do consumo por parte dos agentes económicos poderá revelar-se mais limitada, traduzindo-se numa redução mais acentuada do mesmo. Os riscos para a inflação consideram-se ligeiramente descendentes, decorrendo do impacto de uma evolução eventualmente mais desfavorável da atividade económica, parcialmente compensados pela possibilidade de uma depreciação mais acentuada da taxa de câmbio efetiva do euro
A gestão da dinâmica do processo de ajustamento da economia portuguesa coloca importantes desafios de política. Uma eventual moderação da intensidade do esforço de ajustamento, designadamente ao nível orçamental, está condicionada pela garantia de condições de financiamento para a economia portuguesa e implica uma maior acumulação de dívida, agravando as suas condições de sustentabilidade. Nestas condições, um ajustamento orçamental que contribua para o crescimento potencial da economia é inadiável. O reforço do consenso social em torno das linhas orientadoras do processo de ajustamento é condição fundamental para a manutenção da credibilidade junto dos mercados financeiros internacionais e das autoridades internacionais e, consequentemente, para o sucesso do programa de ajustamento. A promoção do crescimento económico, assente na dinâmica das exportações, protagonizada pelo setor privado e beneficiando do papel catalisador do setor público, poderá constituir um importante fator agregador".
Banco de Portugal, 13 de novembro de 2012"