sexta-feira, maio 17, 2024

Grandes bancos lucraram 560 mil euros por hora em três meses

Resultado líquido das cinco maiores instituições financeiras do país superou os 1,2 mil milhões no primeiro trimestre. Caixa foi a que mais lucrou, mas Santander liderou no crescimento. O setor financeiro tornou a fazer um brilharete no arranque do ano, com os cinco principais bancos a operar em Portugal a anunciarem um resultado líquido agregado na ordem dos 1,22 mil milhões de euros até março, uma subida de 33%, ou de 305,1 milhões em valores absolutos, face ao período homólogo. Em causa está um montante que representa um lucro diário de 13,46 milhões de euros, ou, indo mais longe, de 560 mil euros por hora, segundo os cálculos feitos pelo DN/Dinheiro Vivo. Com rácios de rendibilidade que se situaram entre os 15% e os 28%, o BPI, Caixa Geral de Depósitos (CGD), Millennium BCP, Novobanco e Santander Totta conseguiram manter a resiliência no primeiro trimestre de 2024, continuando a beneficiar da política de juros altos. Este é um cenário que os banqueiros antecipam que se aligeire no decorrer do ano, com a expectável normalização das taxas diretoras do Banco Central Europeu.

A instituição do Estado voltou a liderar os ganhos, ao atingir um resultado líquido consolidado de 394 milhões de euros, que supera em 38% os 285 milhões registados no igual conjunto de meses do ano anterior - a operação doméstica foi responsável pela maior fatia (344 milhões). Já o Santander foi o banco privado que apresentou maior lucro, mas também o que mais cresceu em comparação com os três primeiros meses do ano passado : 294,4 milhões de euros, fruto de um acréscimo homólogo de 108,5 milhões, ou 58%, em termos percentuais.

Embora tenha observado a taxa de variação mais baixa entre os cinco, o BCP - que, tal como a CGD e o BPI, tem atividade internacional, através de participações em bancos no exterior, que são contabilizados neste somatório - ocupa a terceira posição da tabela, com lucros globais de 234,3 milhões de euros, mais 8% face ao primeiro trimestre de 2023. À semelhança do exercício anterior, o Novobanco surge em quarto lugar, ao dar conta de 180,7 milhões, que são reflexo de uma melhoria de cerca de 22%, isto é, de 32,3 milhões de euros.

Ao BPI coube o fundo do ranking. A instituição presidida por João Pedro Oliveira e Costa lucrou 121,3 milhões de euros até março (dos quais 112 milhões obtidos exclusivamente em Portugal), numa diferença positiva de 36,6 milhões comparativamente com o igual período do exercício transato. Trata-se, contudo, do segundo maior crescimento entre a grande banca: 43%. Uma vez mais, os resultados “extraordinários” fizeram-se sobretudo do lado da margem financeira, isto é, o indicador que tem em conta a diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos. No total, rendeu aos cinco bancos 2,39 mil milhões de euros, num avanço de 20%, ou de 399,7 milhões de euros, quando comparado com os 1,99 mil milhões registados no primeiro trimestre do ano anterior. 

Olhando para esta mesma rubrica, a CGD foi a que mais proveito conseguiu tirar da escalada das taxas de juro, com 716 milhões de euros recebidos até março por via da margem financeira, mais 17% face ao final de março de 2023. Segue-se o Millennium, com 696,2 milhões (+5%) e o Santander, com 440,6 milhões, mais 65% em termos homólogos e o maior dos crescimentos. Logo atrás, surge o Novobanco, a embolsar 299 milhões de euros (+21%), e o BPI 245,6 milhões (+18%).

As comissões cobradas aos clientes por estes cinco bancos continuaram a pesar nas contas do trimestre, mas o patamar manteve-se praticamente inalterado: 608,3 milhões de euros, que acabaram por refletir as alterações legislativas que impedem a cobrança em determinados serviços relacionados com os empréstimos à habitação. O BCP foi o que mais ganhou (196,4 milhões), seguido da instituição liderada por Paulo Macedo (142 milhões) e o Santander (120,9 milhões).

A análise aos dados do balanço, também baseada no reporte trimestral das instituições, permitiu apurar que a carteira total de crédito bruta conheceu um aumento conjunto de 2,4%. Em termos consolidados, o stock detido pelos bancos BPI, CGD, BCP, Novobanco e Santander passou de 209,9 mil milhões de euros para 214,9 mil milhões. Só o BCP é que apresentou uma quebra de 0,8%. Na ótica dos recursos, os depósitos de clientes (particulares e empresariais) recuperaram face a março do ano passado, observando-se uma subida agregada de 3,3%. Depois da concorrência dos certificados de aforro, os cofres dos cinco bancos “arrepiaram caminho”, chegando ao final do primeiro trimestre de 2024 com 256,4 mil milhões de euros em poupanças de clientes. Enquanto o Santander registou a maior quebra (-4,7%), o Millennium foi o que mais cresceu (7,7%).

Quanto ao saldo da rede de distribuição e da força de trabalho, as instituições contavam, no fim de março, com menos 18 espaços físicos, mas mais 376 trabalhadores. Se as reduções de pessoal do BPI (-111) e do Santander (-97) influenciaram negativamente os números, o reforço da Caixa (+458), do Novobanco (+122) e do BCP (+4) contrabalançaram. Pelo lado das agências, o banco público foi o único a não decretar encerramentos entre o ano que decorreu entre os dois trimestres (DN-Lisboa, texto da jornalista Mariana Coelho Dias)

Sem comentários: