Tenho a sensação de que a política portuguesa está refém de alguns manhosos, de uns tantos manipuladores espertalhões e também de alguns idiotas, todos eles a tentarem enganar os cidadãos vendendo-lhes gato por lebre, traçando um quadro de falsa estabilidade, quando sabem que dependem de terceiros e do que eles decidirem no quadro da Assembleia da República. Não acredito na ingenuidade "inocente" de quem tem a responsabilidade - ou devia ter - de garantir a estabilidade política e governativa, assente na negociação séria e sem submissão, mas que parece escolher uma estratégia perigosa e arriscada de pisar deliberadamente a linha vermelha da tolerância graças a uma política do atrevimento e da desvalorização do estatuto minoritário que não garante a estabilidade e a legitimidade política para além daquela que lhes foi atribuída nas urnas.
Falo do governo de Montenegro, o tal que conseguiu uma vitoriazinha bem minoritária, que acha que o derrotado e arrogante PS de Nuno dos Santos - cada vez mais radicalizado e a apostado em "depenar" e neutralizar os demais partidos da esquerda - tem o "dever" de permitir tudo ao poder, de tolerar tudo da parte de um governo da defunta AD. Mas que há pouco tempo, nos Açores, nada disse, quando o mesmo PSD mandou os socialistas vencedores das regionais açorianas às urtigas e escolheu meter-se por atalhos e em negociatas com partidos pequenotes, numa trapalhada justificada (?) pela sede de poder, mas que acabou mal, já que nem a maioria absoluta conseguiram (PSD e aliados açorianos) nas regionais deste ano.
Confesso que não acredito neste governo de Montenegro, porque não acredito que o líder do PSD tenha o perfil para liderar um governo fragilizado, permanentemente ameaçado pela sua queda no parlamento, graças a um amontoado de fragilidades pouco recomendáveis nestes tempos de crise. Acresce que o líder do PSD nunca até hoje teve qualquer experiência governativa anterior que lhe desse, ao menos, alguma tarima e matreirice. Acresce que uma sucessão de medidas, algumas das quais verdadeiramente absurdas e tontas, parecem funcionar mais como uma provocação ao PS e mesmo ao Chega, na expectativa de eleições antecipadas e na esperança de conseguirem por essa via - duvido que o consigam - o que não alcançaram nas urnas, pese todas as trapalhadas do PS e de António Costa. Isto promete, mas percebemos por que motivo uma sondagem recente mostrou que só menos de 15% dos portugueses acreditam que o governo de Montenegro vai cumprir a Legislatura de quatro anos!
Não vou falar de Marcelo Rebelo Sousa porque acho que o Presidente, depois do escândalo com o caso das gémeas brasileiras e do alegado envolvimento do seu filho na marosca que tanta polémica causou, parece ter entrado por uma escalada descendente, descontrolada, contraditória, preocupante, com idiotices e declarações inoportunas à mistura, uma das quais sobre a alegada preocupação com a compensação portuguesa pelos danos causados pela descolonização lusa. Estamos a falar de uma pessoa que viveu durante o fascismo em Moçambique, num ambiente totalmente identificado com o colonialismo de Lisboa, que nunca se manifestou preocupado com isso, mas que agora, súbita e estranhamente, pretende introduzir na agenda um tema longe de ser consensual. No fundo um oportunista a tentar atirar poeira para os olhos das pessoas, depois das patetices, mais umas, ditas num jantar com jornalistas estrangeiros que mostraram um Presidente do qual estamos todos fartos e completamente descarrilhado (texto publicado no Tribuna da Madeira, 3 de Maio de 2024)
Sem comentários:
Enviar um comentário