sexta-feira, maio 17, 2024

Nota: quero que o PSD-Madeira assuma um compromisso inequívoco de combate a toda a corrupção

Os partidos políticos, sejam eles quais forem, transcendem os seus líderes, são florestas que não podem ser confundidos com algumas árvores. Os partidos políticos são realidades que ultrapassam os seus restritos círculos dirigentes mais elitistas, na medida em que se tratam de organizações de reconhecido interesse público assentes no universo muito mais vasto dos seus militantes, simpatizantes e eleitores, pelo que não podem ficar reféns de interesses ou decisões sectárias que nada têm a ver com a dimensão real desses partidos. Neste contexto, não concebo que o PSD-Madeira aparenta ter medo ou vergonha de assumir um compromisso claro e inequívoco com os eleitores de combate contra toda e qualquer forma de corrupção que mina a política, destrói os seus alicerces, penaliza os partidos e os políticos e condicionam os processos de decisão em diferentes patamares da actividade pública, seja ela governativa, parlamentar, autárquica ou empresarial. A corrupção ameaça os diferentes patamares do processo de decisão pública, ultrapassando todas as fronteiras, na medida em que faz tudo para manipular, influenciar e contaminar, não olhando a partidos, porque para essa gangrena não há corruptíveis melhores ou piores, há apenas corruptores e corruptíveis. Falamos de uma chaga social que se socorre de influências e de influenciadores, em todos os partidos, de potenciais manipuladores dos processos de decisão, etc. Sem a coragem e a dignidade de assumir esse dever ético, essa obrigação, a política desce ao patamar mais baixo da credibilidade, mergulhando ainda mais na lama e na suspeição, não sendo credora de qualquer apoio por parte dos cidadãos.

O PSD-Madeira tem de ter a dignidade, a lucidez, a coragem e a determinação para se colocar na primeira linha desse combate, até porque a corrupção não mina apenas o poder, ela assenta arraiais em todos os lados, no poder ou na oposição, quase sempre de forma discreta e pouco visíveis, desde que lhes abram a porta ou precisem de financiamentos...

Espero que a candidatura do PSD-Madeira assuma por estes dias, de forma clara, esse compromisso de combate a toda e qualquer forma de corrupção que, repito, transcende o poder político e estende as suas teias a muitas outras actividades. E, neste contexto, desejo que o PSD-Madeira assuma desde logo o compromisso político de alterar o estatuto político regional e de olhar para as incompatibilidades dos políticos, de uma outra forma, mais séria, mais pragmática, mais dignificante, acabando com uma situação vigente que dificilmente é compreendida pelas pessoas que elegem pelo voto os seus políticos.

Combater a corrupção é uma obrigação de toda a sociedade, mas particularmente de todos os políticos, é um desígnio de todos os partidos democráticos que se movem no sistema político português e acatam as regras democráticas e constitucionais de respeito pelas normas essenciais de exercício do poder legitimado pelo voto e de defesa dos interesses dos cidadãos em geral. Partidos que nem ousam, nem se atrevem a questionar o respeito devido aos eleitores que neles confiam bem como nos políticos, não para roubarem as pessoas e conspurcarem as instituições, mas sim para as respeitarem e resolverem os problemas das pessoas. E quando se fala em corrupção, na política ou fora dela, desenganem-se os que acham que não estamos perante um fenómeno infelizmente global ou que a Madeira, por cinismo patético de quem ousa ir por esse caminho, é uma espécie de "excepção" que contraria a regra, onde nada acontece e onde são mais os anjos que os lúciferes. Não, a Madeira também tem corrupção, na política e fora dela, porque a corrupção é um flagelo que tem muito a ver com a ausência de valores, com o respeito pelo exercício de cargos públicos, com a dignidade de defender os cidadãos e a sociedade em geral, com o respeito pelas pessoas, pela ética republicana, etc. Por isso, neste quadro político regional de eleições antecipadas por motivos de todos conhecidos, não podemos acreditar em partidos que usam o combate à corrupção sem convicção, apenas como uma bandeira que alegadamente lhes dá votos, ou um instrumento de ataque aos adversários, mas que terminadas as eleições, rapidamente caiem no esquecimento recorrente. Não podemos ter confiança nem apoiar os bandalhos do costume - alguns deles condenados por corrupção, ou por difamação e que por isso foram julgados pela justiça e penalizados pelos tribunais graças a comportamentos próprios de bandidos ressabiados e frustrados com a vida - que fomentam acusações infundadas ou sonham com julgamentos na praça pública, transformando as redes sociais numa espécie de arena do lixo assente na especulação, na mentira, na manipulação, muitas vezes por indivíduos criminosos e registo manchado mas que são hábeis  na manipulação desse espaço desregulado, por isso altamente perigoso. Temos também que olhar com desconfiança para os que usam a corrupção como uma bandeira e não como uma causa e um dever cívico, porque felizmente para eles, que não são poder, que nunca tiveram poder de decisão outorgado nas urnas, que nunca fizeram parte de governos ou de outros órgãos públicos mais vulneráveis a potenciais actos corruptíveis ou procedimentos menos lícitos, o que lhes facilita o discurso oportunista até que eventualmente lhes venham a ser dadas essas oportunidades... Neste quadro espero e desejo que a campanha eleitoral, no que ao PSD-Madeira diz respeito, inclua um compromisso sério e prioritário dos social-democratas madeirenses de combaterem a corrupção de uma forma determinada, de respeitarem os cidadãos em geral e os eleitores em particular, e de denunciarem todo e qualquer procedimento que coloque em causa a seriedade da política e a honorabilidade dos políticos e dos partidos. Quero ouvir o PSD-Madeira assumir esse compromisso de combate à corrupção - sem a hipocrisia e o cinismo do PS de Cafofo que todos sabemos ter a folha ainda mais manchada por casos em investigação -  porque acho que os social-democratas têm esse dever, essa obrigação acrescida, essa atitude ética perante as pessoas, celebrando com elas um pacto de seriedade e de verdade, neste domínio, mesmo que isso implique cortar com silêncios ou comportamentos pouco sinceros e nada eficazes nesse combate cada vez mais prioritário.

Repito, quero que o PSD-Madeira assuma um compromisso inequívoco de combate a toda a corrupção, e que não tenha medo nem  vergonha, nem qualquer constrangimento em assumi-lo, como um desígnio. Seria mau, em meu entender, que não o fizesse e deixasse a terceiros a abordagem manipulada sectária, mentirosa e partidarizada do terma que temo vá acompanhar-nos por muito mais tempo depois do 26 de Maio. (LFM)

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