As pessoas lembram-se das três geringonças políticas e parlamentares que já tivemos até hoje em Portugal? O primeiro exemplo veio de Lisboa, da Assembleia da República, depois das eleições legislativas de 2015, e que teve António Costa como principal mentor e protagonista deste processo que se prolongou em 2019 e viria a culminar com a queda do governo socialista, a antecipação de eleições legislativas, e o descalabro eleitoral para os parceiros mais pequenos desta geringonça liderada pelo PS que conquistou a maioria absoluta parlamentar em 2022.
Legislativas, 2015
- PSD-CDS, 1.993.921 votos, 38,86%, 102 deputados
- PS, 1.747.685 votos, 32,31%, 86 deputados
- BE, 550.892 votos, 10,19%, 19 deputados
- PCP, 445.980 votos, 8,25%, 17 deputados
- PAN, 75.140 votos, 1,39%, 1 deputado
- PSD, 81.054 votos, 1,5%, 5 deputados
Com 250 deputados a maioria absoluta na Assembleia da Republica é conseguida com 126 mandatos (125 + 1). A geringonça liderada pelo PS, que foi apenas um acordo de incidência parlamentar, foi formalizada pelo PS, Bloco, PCP, contando ainda com PAN e Verdes, num total de 123 mandatos contra apenas 107 do PSD e CDS. O governo apresentado por Pasos Coelho e Portas, vencedores das eleições foi afastado depois de uma moção de confiança ter sido recusada pelo plenário.
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No caso dos Açores, em 2020, cuja geringonça foi considerada a resposta da direita ao PS, devido à inversão dos protagonistas - os socialistas foram os mais votados nos Açores mas a direita teve masis mandatos - as coisas foram mais complexas. Basta olhar para os resultados:
Açores, 2020
- PS, 40.701 votos, 39,13%, 25 deputados
- PSD, 35.091 votos, 33,74%, 21 deputados
- CDS, 5.734 votos, 5,51%, 34 deputados
- BE, 3.962 votos, 3,81%, 2 deputados
- PAN, 2.004 votos, 1,93%, 1 deputado
- PPM, 2.431 votos, 2.23%, 1 deputado
- Chega, 5.260 votos, 5.06%, 2 deputados
- Iniciativa Liberal, 2012 votos, 1,94%, 1 deputado
- CDS/PPM, 115 votos, 0,11%, 1 deputado
A geringonça que suporta o governo regional ainda em funções, apesar de Chega e Iniciativa Liberal terem denunciado em 2023 o acordo parlamentar - também a base do entendimento regional - celebrado em 2020, juntou um total de 29 mandatos - quando a maioria absoluta (57 deputados) é de 29 mandatos - contra 28 da oposição, PS, PAN e Bloco.
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Finalmente no caso da Madeira, nas regionais de 2023, a situação foi a que todos conhecemos:
Regionais 2023
- PSD-CDS, 58.399 votos, 43,13%, 23 deputados
- PS, 28.844 votos, 21,30%, 11 deputados
- JPP, 14.993 votos, 11,03%, 5 deputados
- CHEGA, 12.028 votos, 8,88%, 4 deputados
- PCP, 3.677 votos, 2,72%, 1 deputado
- ILIBERAL, 3.555 votos, 2,63%, 1 deputado
- PAN, 3.046 votos, 2,25%, 1 deputado
- BLOCO, 3.036 votos, 2,24%, 1 deputado
No caso do parlamento madeirense, cuja maioria absoluta é conseguida por 24 dos 47 deputados, o entendimento parlamentar alcançado pelo PSD, e envolvendo o CDS - parceiro da coligação - e o PAN, passou a ser a terceira geringonça do pais. Mas com uma diferença importante comparativamente às duas outras: ao contrário da Assembleia da República e dos Açores, na Madeira os vencedores das eleições nas urnas - a coligação PSD-CDS - foram protagonistas do entendimento parlamentar, o que não aconteceu nem com a coligação PSD-CDS em Lisboa, nas legislativas de 2015, e com PS-Açores nas regionais de 2020.
Recordo que depois do segundo falhanço do PP em Espanha para a investidura de Feijó, tudo indica - apesar de algumas ameaças hoje surgidas na Catalunha - que o dirigente socialistas Pedro Sanchez será chamado a formar governo e vai tentar uma estranha geringonça reunindo o PSOE à nova extrema-esquerda espanhola, SUMAR, que substitui o derrotadíssimo Podemos, e os independentistas do Pais Basco e da Catalunha, além do deputado da esquerda galega. Uma verdadeira salada russa (LFM)
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