sexta-feira, setembro 22, 2023

Nota eleitoral: neste último dia de campanha....


- Como decorreu a campanha eleitoral?

Acho que a campanha eleitoral decorreu com normalidade mas também com algum discurso mais radicalizado, que me fez lembrar as campanhas eleitorais do tempo de AJJ que assumidamente pugnava pela bipolarização entre o PSD-Madeira de um lado e toda a oposição do outro lado.

Foi também uma campanha que, ao contrário das outras, contou com uma maior e reforçada presença de protagonistas da política nacional e dos partidos, o primeiro dos quais a desembarcar em Santa Catarina foi António Costa, logo no primeiro dia de campanha eleitoral do PS em Machico, o que impede – todas estas visitas - que os resultados não possam ter uma leitura também nacional, ainda por cima a poucos meses das europeias de Maio de 2024

Cheirou a bipolarização?

Como sempre, acho que voltou a ser uma campanha com poucos recursos financeiros, muito bipolarizada, tal como sempre foram, as campanhas regionais, desde 1976, tendo como protagonistas, agora, a coligação PSD-CDS e toda a oposição regional tradicional do outro, com ou sem representação parlamentar, à qual se juntaram alguns pequenos partidos que nunca deram prova de vida na política regional nestes quatro anos de legislatura regional;

- E o sistema eleitoral regional?

O sistema eleitoral regional - que até 2004 assentou em círculos concelhios, em que cada um elegia os seus deputados, mandatos estabelecidos proporcionalmente com base na população recenseada, o que obrigava a campanhas descentralizadas nesse universo concelhio e respectivas freguesias  -passou a assentar, desde as regionais antecipadas de 2007 num círculo eleitoral único que apenas fomenta a abstenção e permite as chamadas negociatas partidárias internas, em torno da sempre complexa e pouco consensual representação dos diversos concelhos nos lugares cimeiros da lista de candidatos e com eventual elegibilidade garantida. Isto faz-me lembrar o que se passa com as europeias, também estranhamente assentes num círculo único que constitui o expoente máximo da abstenção, numa realidade paradoxal, já que somos um país que sempre dependeu, mesmo antes da integração europeia, dos apoios e dos milhões da Europa.

- Quais as dúvidas no final da campanha?

Desde logo saber qual o nível da abstenção. Estimo que ela possa situar-se entre os 33 e os 37%. Acima disto começa a ser perigoso porque se por um lado não questiona a legitimidade dos eleitos - eles são sempre eleitos legitimamente, aconteça a abstenção que acontecer - questiona, ou pode permitir esse questionamento, a representatividade dos eleitos, o que não é bom para as instituições regionais autonómicas;

Já no plano partidário e de qual o desfecho parlamentar pós-24 de Setembro, algumas dúvidas:

Temos que saber até que ponto PSD e CDS, protagonistas de uma coligação inédita que ao contrário do que procuram dizer está longe de ser consensual, vão conseguir cativar o voto dos sectores partidários mais radicais que não escondem a sua recusa em votar numa coligação pré-eleitoral que juntam partidos que entre 1976 e 2019 estiveram nos antípodas da política nacional e foram construídos nessa base. Sectores que defendiam que os partidos deviam concorrer sozinhos, negociando depois uma coligação pós-eleitoral. Exactamente o mesmo que aconteceu em 2019, obrigando PSD e CDS a um entendimento parlamentar que supostamente estava desenhado e negociado mesmo antes das eleições regionais. Creio que nem PSD nem CDS quiserem arriscar, sobretudo o CDS, depois do seu afastamento da Assembleia da República e do seu quase desaparecimento da cena política nacional;

A segunda dúvida tem a ver com o PS-Madeira, saber qual a dimensão da queda eleitoral e quem beneficiará com essa perda eleitoral dos socialistas. Em 2019 o PS com Cafofo praticamente secou a restante oposição de esquerda - o PCP ficou reduzido a 1 deputado, o Bloco desapareceu do parlamento, a JPP perdeu 2 mandatos e os pequenos partidos da esquerda foram quase pulverizados pelo voto útil nos socialistas que obtiveram em 2019 o seu melhor resultado de sempre. O que é facto e que o PS de Sérgio Gonçalves – que está a ser indevidamente pressionando tendo como referência a excepcionalidade dos resultados eleitorais de Cafofo em 2019 - não tem nada a ver com o PS de Paulo Cafofo, embora entre estes dois protagonistas existam relações pessoais e políticas fortes. Aliás, foi pela mão de Cafofo que Sérgio Gonçalves chegou a política, pela primeira vez, em 2015 e terá sido o apadrinhamento de Cafofo que incentivou a candidatura de Sérgio Gonçalves à liderança do PS-Madeira em Março de 2022. Parece-me ser óbvio que a presença de Cafofo na campanha também teve a ver com a percepção de que é preciso evitar fortes quebras eleitorais dos socialistas, para que estes estejam em condições, depois de ir construindo uma alternativa a pensar nas regionais de 2027, já com Cafofo a liderar a candidatura socialista.

Finalmente estou expectante em saber se Bloco e PCP vão garantir, provavelmente à custa do PS, um grupo parlamentar regional. E quais os “arranhões” que nestas eleições que Chega e Iniciativa Eleitoral podem causar à coligação PSD-CDS ou na captação de eleitores abstencionistas (LFM)

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