- Como decorreu a
campanha eleitoral?
Acho que a
campanha eleitoral decorreu com normalidade mas também com algum discurso mais
radicalizado, que me fez lembrar as campanhas eleitorais do tempo de AJJ que
assumidamente pugnava pela bipolarização entre o PSD-Madeira de um lado e toda
a oposição do outro lado.
Foi também uma campanha que, ao contrário das outras, contou com uma maior e reforçada presença de protagonistas da política nacional e dos partidos, o primeiro dos quais a desembarcar em Santa Catarina foi António Costa, logo no primeiro dia de campanha eleitoral do PS em Machico, o que impede – todas estas visitas - que os resultados não possam ter uma leitura também nacional, ainda por cima a poucos meses das europeias de Maio de 2024
- Cheirou a bipolarização?
Como sempre, acho
que voltou a ser uma campanha com poucos recursos financeiros, muito
bipolarizada, tal como sempre foram, as campanhas regionais, desde 1976, tendo
como protagonistas, agora, a coligação PSD-CDS e toda a oposição regional
tradicional do outro, com ou sem representação parlamentar, à qual se juntaram
alguns pequenos partidos que nunca deram prova de vida na política regional
nestes quatro anos de legislatura regional;
- E o sistema
eleitoral regional?
O sistema
eleitoral regional - que até 2004 assentou em círculos concelhios, em que cada
um elegia os seus deputados, mandatos estabelecidos proporcionalmente com base
na população recenseada, o que obrigava a campanhas descentralizadas nesse
universo concelhio e respectivas freguesias
-passou a assentar, desde as regionais antecipadas de 2007 num círculo
eleitoral único que apenas fomenta a abstenção e permite as chamadas negociatas
partidárias internas, em torno da sempre complexa e pouco consensual representação
dos diversos concelhos nos lugares cimeiros da lista de candidatos e com
eventual elegibilidade garantida. Isto faz-me lembrar o que se passa com as
europeias, também estranhamente assentes num círculo único que constitui o
expoente máximo da abstenção, numa realidade paradoxal, já que somos um país
que sempre dependeu, mesmo antes da integração europeia, dos apoios e dos
milhões da Europa.
- Quais as dúvidas
no final da campanha?
Desde logo saber qual
o nível da abstenção. Estimo que ela possa situar-se entre os 33 e os 37%.
Acima disto começa a ser perigoso porque se por um lado não questiona a
legitimidade dos eleitos - eles são sempre eleitos legitimamente, aconteça a
abstenção que acontecer - questiona, ou pode permitir esse questionamento, a
representatividade dos eleitos, o que não é bom para as instituições regionais
autonómicas;
Já no plano
partidário e de qual o desfecho parlamentar pós-24 de Setembro, algumas
dúvidas:
Temos que saber
até que ponto PSD e CDS, protagonistas de uma coligação inédita que ao
contrário do que procuram dizer está longe de ser consensual, vão conseguir
cativar o voto dos sectores partidários mais radicais que não escondem a sua
recusa em votar numa coligação pré-eleitoral que juntam partidos que entre 1976
e 2019 estiveram nos antípodas da política nacional e foram construídos nessa
base. Sectores que defendiam que os partidos deviam concorrer sozinhos,
negociando depois uma coligação pós-eleitoral. Exactamente o mesmo que
aconteceu em 2019, obrigando PSD e CDS a um entendimento parlamentar que
supostamente estava desenhado e negociado mesmo antes das eleições regionais.
Creio que nem PSD nem CDS quiserem arriscar, sobretudo o CDS, depois do seu
afastamento da Assembleia da República e do seu quase desaparecimento da cena
política nacional;
A segunda dúvida
tem a ver com o PS-Madeira, saber qual a dimensão da queda eleitoral e quem
beneficiará com essa perda eleitoral dos socialistas. Em 2019 o PS com Cafofo
praticamente secou a restante oposição de esquerda - o PCP ficou reduzido a 1
deputado, o Bloco desapareceu do parlamento, a JPP perdeu 2 mandatos e os pequenos partidos da esquerda foram quase pulverizados pelo voto útil nos
socialistas que obtiveram em 2019 o seu melhor resultado de sempre. O que é
facto e que o PS de Sérgio Gonçalves – que está a ser indevidamente
pressionando tendo como referência a excepcionalidade dos resultados eleitorais
de Cafofo em 2019 - não tem nada a ver com o PS de Paulo Cafofo, embora entre estes
dois protagonistas existam relações pessoais e políticas fortes. Aliás, foi
pela mão de Cafofo que Sérgio Gonçalves chegou a política, pela primeira vez,
em 2015 e terá sido o apadrinhamento de Cafofo que incentivou a candidatura de
Sérgio Gonçalves à liderança do PS-Madeira em Março de 2022. Parece-me ser
óbvio que a presença de Cafofo na campanha também teve a ver com a percepção de
que é preciso evitar fortes quebras eleitorais dos socialistas, para que estes
estejam em condições, depois de ir construindo uma alternativa a pensar nas
regionais de 2027, já com Cafofo a liderar a candidatura socialista.
Finalmente estou
expectante em saber se Bloco e PCP vão garantir, provavelmente à custa do PS,
um grupo parlamentar regional. E quais os “arranhões” que nestas eleições que
Chega e Iniciativa Eleitoral podem causar à coligação PSD-CDS ou na captação de
eleitores abstencionistas (LFM)
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