sábado, janeiro 21, 2023

Sondagem: Popularidade de Marcelo em mínimos históricos mas ainda no verde

O  Presidente também paga a fatura da degradação política e social, mesmo que a maioria concorde com a sua recusa de antecipar eleições (58%) e com a ideia de que o PSD não está preparado para governar (63%). A avaliação dos portugueses a Marcelo Rebelo de Sousa ainda está num patamar positivo, mas a sua popularidade atingiu, este mês, o ponto mais baixo de sempre. Ainda que uma grande maioria de portugueses esteja sintonizada com as suas posições e preocupações. De acordo com o barómetro político da Aximage para o JN, DN e TSF, o presidente da República tem um saldo de apenas dez pontos (a diferença entre os 45% de notas positivas e os 35% de negativas). Longe dos 46 pontos de saldo positivo que acumulava em abril do ano passado. O presidente não governa. Mas a avaliação que os portugueses lhe fazem corre, geralmente, em paralelo com a do primeiro-ministro, mesmo que Belém fique sempre vários degraus acima. Quando a situação política e social se degrada, Marcelo Rebelo de Sousa também paga a fatura. Sintoma disso mesmo é o que aconteceu à sua avaliação assim que começou a pesar no bolso a subida do custo de vida. Os 64% de avaliações positivas de há um ano transformaram-se numa linha descendente contínua, até aos 45% atuais. Em sentido contrário, engrossou a proporção de descontentes: em abril eram 15%, hoje são 35%.


Sintonia quase total

Que Marcelo é contaminado pelo agravamento das condições de vida comprova-se, por outro lado, quando se percebe que, ao contrário do que poderia sugerir a queda na popularidade, a maioria dos inquiridos até está em sintonia com as suas posições e preocupações.

Uma das questões lançadas neste barómetro tem a ver com a crise que abanou o Governo entre dezembro e janeiro e a recusa do presidente de a aprofundar e convocar eleições antecipadas: 58% estão de acordo. São três vezes mais do que os que discordam (18%). Uma sintonia que cruza todos os segmentos da amostra (seja na geografia, no género, na idade, ou na classe social), com uma única exceção: os eleitores do Chega seriam os únicos satisfeitos com novas eleições.

Outro indício da sintonia entre Marcelo e a opinião pública (ou da sua capacidade de influenciar o termómetro político) é a resposta à pergunta sobre se o PSD estaria ou não preparado para liderar o país. Recorde-se que uma das razões invocadas pelo presidente para manter o status quo, quando foi confrontado com os sinais de degradação da maioria absoluta, foi a de que não havia "alternativa evidente, forte e imediata" aos socialistas. Quase dois terços dos inquiridos alinham na tese: 63% respondem que o PSD não está preparado para liderar um Governo, incluindo a pluralidade dos eleitores sociais-democratas (44%).

Mulheres ainda fiéis

A identificação com as análises políticas do "professor Marcelo" já não corresponde, como fica subjacente, pelo menos nesta altura, a uma identificação com o "presidente Marcelo". E uma análise mais detalhada aos diferentes segmentos da amostra ajuda a perceber onde é que isso é mais evidente. Desde logo, a confirmação de que é entre os homens que a simpatia por Marcelo está mais degradada: escapa por um ponto a uma avaliação negativa. São as mulheres, com um saldo positivo de 16 pontos, que mantêm a sua popularidade bem acima da linha de água.

Quando o foco muda para as faixas etárias, confirma-se que é nos dois extremos da pirâmide que Marcelo tem maior popularidade. Mas o saldo mais confortável é entre os que têm de 65 anos para cima. Da mesma forma, e a exemplo do barómetro anterior (setembro passado), são as duas classes sociais mais baixas que lhe dão o empurrão decisivo.

Saldo negativo só nos que têm 35 a 49 anos (seis pontos). E em duas das cinco regiões em que se divide a amostra: Sul e Ilhas e Área Metropolitana do Porto. Um acontecimento tão raro que justifica destaque. Ao contrário, o Centro continua a ser o bastião da popularidade presidencial. E vale a pena destacar o caso atípico (os especialistas em sondagens usariam o anglicismo "outlier") da região de Lisboa: em setembro passado, era a menos entusiasmada com a prestação de Marcelo. Quatro meses depois, a avaliação piora em todo o lado... exceto em Lisboa, onde o presidente mantém um mesmo saldo positivo de 16 pontos.

O pilar socialista

Finalmente, quando se analisam as preferências dos portugueses de acordo com o seu voto nas últimas legislativas, surge um dado habitual (repete-se em quase todos os inquéritos): os eleitores socialistas são o principal pilar de Marcelo Rebelo de Sousa, com saldo positivo de 42 pontos percentuais. Mesmo agora, que está em fase descendente.

Se a identificação entre o presidente e o eleitorado do PS é grande e regular, não há razão para surpresa com o facto de a avaliação do presidente correr habitualmente em paralelo com a de António Costa, como se começou por escrever no arranque desta análise.

Relativamente ao facto de estar sempre vários degraus acima do primeiro-ministro, a explicação é, provavelmente, a mais simples: o saldo positivo também é muito elevado entre os eleitores sociais-democratas (35 pontos), coisa que, por definição, um primeiro-ministro socialista nunca conseguirá.

Costa vai falhar fundos europeus

Foi na mensagem de Ano Novo que o presidente da República deixou uma mensagem de exigência ao Governo que não quis derrubar. Este será um ano decisivo para a estabilidade política e para a recuperação do país, depois de dois anos de pandemia e de um ano de crise energética e inflacionária, na sequência da invasão russa à Ucrânia, disse Marcelo. Entre as questões fundamentais está a necessidade de executar os 15 mil milhões de euros de fundos europeus disponíveis ao longo do ano (40 milhões por dia), se somarmos o Plano de Recuperação e Resiliência e o que ficou por gastar do Portugal 2030. Se o presidente lembra o desafio é porque desconfia? Não sabemos. Mas sabemos que os portugueses não acreditam na capacidade de fazer obra por parte do Governo de António Costa: 51% dizem que não será capaz de cumprir. Só há dois segmentos, entre os vários em que se divide a amostra, em que vence o sim: os mais pobres (45%) e os que votaram no PS há um ano (60%). À Direita do espetro político, a descrença é generalizada, por esta ordem: liberais (82%), eleitores do Chega (76%) e sociais-democratas (63%).

Outros dados

Marcelo à frente na confiança

Quando se pergunta aos portugueses em quem têm mais confiança, se no presidente da República, se no primeiro-ministro, o barómetro não deteta alterações relevantes relativamente a setembro passado (e às vagas anteriores): 47% escolhem Marcelo, quase quatro vezes mais inquiridos do que aqueles que optam por Costa (13%).

78% Os eleitores sociais-democratas são decisivos neste jogo da confiança entre o presidente e o líder do Governo. Mas nesta vaga Costa recupera a vantagem habitual entre os eleitores socialistas, com nove pontos de vantagem sobre Marcelo (em setembro, foi o presidente que ficou à frente entre quem votou no PS).

Maior exigência com o Governo

Há um novo recorde no que diz respeito à percentagem de inquiridos que pedem ao presidente para ser mais exigente com o Governo: este mês são 76%. Mas é preciso notar que em setembro já eram 74% e que na generalidade dos barómetros o valor foi sempre próximo ou superior a 70 pontos.

82% Os portugueses mais velhos (65 ou mais anos) são os menos interessados em eleições antecipadas. Quatro em cada cinco concordam com a decisão do presidente de evitar convocar eleições um ano depois de uma maioria absoluta socialista. São mais avessos a crises políticas que os eleitores socialistas (78%).

Popularidade em alta na pandemia

Foi em novembro de 2020, em plena crise pandémica, que Marcelo Rebelo de Sousa alcançou os melhores resultados dos barómetros para o JN, DN e TSF: 74% de avaliações positivas, apenas 9% de negativas, e portanto um saldo de 65 pontos. Voltou a estar próximo deste pico de popularidade em abril de 2021, ainda em tempos de covid: 71% de positivas, 10% de negativas e um saldo de 61 pontos.

64% A atual trajetória descendente do presidente da República começou já depois de dezembro de 2021, pouco após optar por convocar eleições legislativas, na sequência do chumbo ao Orçamento do Estado. Costa chegou à maioria absoluta e, com ela, veio uma surpreendente degradação: em abril, as avaliações positivas desceram para 61%, em julho para 56%, em setembro para 49%, e agora 45% (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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