Quase metade dos inquiridos defende alterações à matriz de risco (48%),
tal como tem sido pedido pelo presidente da República. E estão em maioria os
que validam o isolamento profilático de António Costa (53%), mesmo já estando
com a vacinação completa.
A falta de sintonia entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa na
avaliação e combate à pandemia foi evidente nos meses de junho e julho. Mas a
maioria dos portugueses não atribui demasiada importância às divergências. De
acordo com uma sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF, são muito mais os que
classificam a relação entre presidente e primeiro-ministro como boa ou muito
boa (52%) do que os que consideram que ela é má ou muito má (8%).
Foi em meados de junho que a retórica entre Belém e S. Bento atingiu o
pico. Com o número de infetados a subir e a evidência de uma quarta vaga de covid-19,
Marcelo garantia que, no que diz respeito ao estado de emergência, "já não
voltamos atrás". Costa foi rápido a responder, argumentando que ninguém,
nem o presidente, poderia garantir que não se voltaria atrás. Marcelo sacou da
Constituição e replicou que um presidente nunca é desautorizado pelo
primeiro-ministro, para Costa pôr então água na fervura: a quezília resultara
de alguma "confusão" e não havia qualquer conflito entre os dois.
Parece ter sido o suficiente para tranquilizar a maioria dos portugueses, uma vez que mais de metade classifica a relação entre os dois como boa (52%), com destaque para os mais velhos (73%) e para os eleitores socialistas (72%). São apenas 8% os que adivinham uma tensão insanável entre Belém e S. Bento, com destaque para os eleitores do Chega (31%).
Medir a pandemia
Um dos episódios na origem da falta de sintonia foi o da alteração da
matriz de risco, a partir da qual se aplicam as restrições que foram
regressando ao longo de junho e julho. Marcelo pediu que o Governo acrescentasse
ao índice de transmissibilidade (Rt) e ao número de infeções variáveis como os
internamentos em cuidados intensivos e as mortes, lembrando que a vacinação
"muda o cenário". Costa não deu sinal de aceitar alterações e
endureceu as medidas, semana após semana, indiferente aos alertas presidenciais
contra os "fundamentalismos sanitários".
O que a sondagem da Aximage mostra é que, nesta matéria, o maior número
de portugueses está com Marcelo e com a necessidade de alterar a matriz de
risco (48%). O único segmento da amostra em que isso não acontece é entre os
eleitores socialistas, que se dividem rigorosamente ao meio (35%).
Manter a quarentena
O escolho mais recente entre os dois líderes está relacionado com a
quarentena de António Costa. O presidente questionou a pertinência de fechar em
casa o primeiro-ministro, já com a vacinação completa, por causa de um contacto
de risco com o seu homólogo luxemburguês. "Isto tem de ser explicado, para
que não haja a ideia errada de que a vacina não serve para nada", disse o
presidente.
Nesta matéria, no entanto, a maioria está com a decisão de manter a
quarentena. Apesar de já estar vacinado, António Costa fez bem em cumprir o
isolamento profilático, segundo 53% dos inquiridos (com destaque para as
mulheres e os cidadãos mais novos, ambos com 60%). Um pouco menos de um terço
(30%) subscreve as dúvidas de Marcelo Rebelo de Sousa (em particular os
eleitores do Iniciativa Liberal, o único caso em que esta posição é
maioritária).
À lupa
16%
Uma fatia considerável de inquiridos não sabe responder à pergunta sobre
alterações da matriz de risco, com destaque para as mulheres.
61%
Os eleitores do Iniciativa Liberal são os que mais contestam a
manutenção das atuais medidas restritivas para conter a pandemia.
Mais velhos otimistas
Quanto mais velhos os eleitores, maior a perceção de que a relação entre
presidente e primeiro-ministro é boa. Mas os únicos acima da média são os de 65
ou mais anos (73%).
Resistência masculina
Os homens contestam mais as restrições do que as mulheres. Há uma
diferença de seis pontos (Jornal de
Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)
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