quinta-feira, julho 01, 2021

Corvo recebeu €29 mil por habitante. Odivelas nem €200



Com um rácio superior a €29 mil por habitante, o Corvo é o município português que mais fundos europeus já viu aprovados pelo Portugal 2020 em termos per capita. Segundo a Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AD&C), esta ilha açoriana nem captou muitas verbas face à concorrência: €13,5 milhões desde o arranque do quadro comunitário, em 2014. Mas o Instituto Nacional de Estatística (INE) diz que este é o menos populoso dos 308 municípios portugueses, com apenas 464 habitantes em 2019.

QUEM GANHA MAIS E MENOS?

Agora que o Portal Mais Transparência divulgou a distribuição dos fundos europeus do Portugal 2020 por município (ver ranking na página ao lado), é possível dividir os milhões da AD&C pelos habitantes contabilizados pelo INE para identificar que municípios beneficiam de maior e menor intensidade de apoios comunitários em termos per capita.

A média nacional dá cerca de €2400 de fundos europeus aprovados por português até 31 de março de 2021. Mas esta média esconde o contraste entre os €29 mil por habitante no Corvo e os menos de €200 por residente em Odivelas, um dos municípios mais populosos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e do país, que viu aprovados apenas €25 milhões para 162 mil pessoas.

Porque está integrado na região mais desenvolvida do país — no seu conjunto, a AML tem um PIB per capita superior à média da União Europeia —, este e outros concelhos da Grande Lisboa e da península de Setúbal têm acesso a menos fundos e a menores taxas de cofinanciamento comunitário.

O Portal Mais Transparência já permite saber quem recebe mais e menos fundos por município

O ranking dos 13 municípios com uma intensidade de apoio superior a €6 mil de fundos europeus per capita é dominado por pequenos municípios das regiões autónomas e do continente com menos de 10 mil habitantes. Este é um divisor tão baixo que facilmente eleva o rácio dos fundos aprovados por munícipe.

Surpreendente é o facto de o Porto — o quarto município mais populoso do país — ter conseguido chegar ao 9º lugar entre 308 municípios. Para obter um rácio próximo dos €6500 por portuense, teve de captar mais de €1,4 mil milhões do Portugal 2020 para dividir pelos seus 217 mil habitantes (ver texto ao lado).

Em causa estão milhares de projetos, desde a expansão do metro do Porto a vários hotéis, passando pelos apoios às empresas, à investigação, à formação ou à contratação, além de emblemáticas obras municipais, como a reabilitação do mercado do Bolhão ou o Terminal Intermodal de Campanhã.

O segundo destaque vai para Évora. Este município de 52 mil habitantes conseguiu captar €334 milhões de fundos europeus, graças à construção do novo hospital e aos avultados investimentos do cluster aeronáutico que está a consolidar no Alentejo Central.

Atenção também ao contributo da fileira do papel para Vila Velha de Ródão; ou do porto de Sines para o Alentejo Litoral; ou ainda dos apoios à reposição da atividade empresarial em Pedrógão Grande após os incêndios florestais de 2017. O empresário Mário Ferreira também mete Mesão Frio no ranking com os seus cruzeiros no Douro.

Já o ranking dos 13 municípios com uma intensidade de apoio inferior a €500 de fundos europeus per capita é dominado por ambas as margens do Tejo da AML.

No seu conjunto, os 18 municípios da região mais rica do país captaram €1,9 mil milhões para €2,9 milhões habitantes. Quase metade desse dinheiro ficou na capital, Lisboa (Expresso, texto da jornalista JOANA NUNES MATEUS)

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