Lembremos então - porque o pior que pode
acontecer em politica é a falta de memória ou o erro de desvalorizar
sistematicamente o que nos deve servir de lição – a realidade eleitoral
regional desde 2024 e quando estamos em vias de entrar na última sessão Legislativa
da presente Legislatura regional, tempo mais do que suficiente para que os
partidos reflictam com muita seriedade e assumam as decisões que tiverem que ser
tomadas em termos de reaproximação aos eleitores e de definição daqueles que são
os itens essenciais de um candidato a uma eleição parlamentar que nada tem a
ver com eleições autárquicas.
Acresce que para o PSD-M a realidade
política interna, pós directas de 2014, não se coloca em 2019, quando a
realidade eleitoral do partido é aquela que as eleições de 2015 e 2017
reflectem. Acho mesmo que no caso do PSD-M o congresso de final deste ano
tem que ser decisivo para a consolidação de mudanças e para percebermos o que
vai ser feito no futuro, para entendermos que os social-democratas não podem
prescindir de candidatar os melhores nas suas fileiras, abandonado algumas
posturas e atitudes persecutórias (regra geral a nível local, nas freguesias e
nos concelhos) que desde 2015 têm vindo a alimentar uma certa conflitualidade surda
e de bastidores, que tem gerado o afastamento, forçado ou por decisão própria,
de militantes que são uma reconhecida mais-valia e que se colocaram (ou foram
colocados) à margem do quotidiano partidário, muitos deles magoados com a forma
com foram tratados.
Regionais de 2004
Recordemos então os resultados das
Regionais de 2004:
Inscritos, 228.118 eleitores
Votantes, 137.693
Abstenção, 39,64%
PSD, 73.904 votos, 53,67% (44 deputados,
64,7%)
PS, 37.898, 27,52% (19, 27,9%)
CDS, 9.675, 7,03% (2, 2,9%)
PCP, 7.593, 5,51% (2, 2,9%)
Bloco, 4.897, 3,56% (1, 1,5%)
Nota: estas seriam as últimas eleições
realizadas com base na anterior lei eleitoral, assente nos 11 círculos
municipais, mudança que não agradou a muita gente o que pode explicar uma certa
tendência para um aumento da abstenção a partir deste ano.
Regionais de 2007
Três anos
depois, nas Regionais de 2007 – o mandato foi de apenas 3 anos porque em
consequência da nova lei de finanças regionais de Sócrates e do seu Ministro
das Finanças, o governo de João Jardim demitiu-se e o PSD inviabilizou qualquer
outra solução parlamentar que não fossem as eleições antecipadas – os
resultados foram substancialmente diferentes:
Inscritos, 232.502 eleitores
Votantes, 140.721
Abstenção, 39,48%
PSD, 90.339 votos, 64,2% (33
deputados, 70,2%)
PS, 21.699, 15,42% (7, 14,9%)
CDS, 7.512, 5,34% (2, 4,3%)
PCP, 7.659, 5,44% (3, 4,3%)
Bloco, 4.186, 3,0% (1, 2,1%)
MPT, 3.173, 2,25% (1, 2,1%)
PND, 2.928, 2,08% (1, 2,1%)
Nota: de 5 partidos nas regionais de 2004
passamos para 7 em 2007, número que aumentará para 9 partidos em 2011 e depois
para 11 partidos em 2015. Nestas regionais de 2007 passou a funcionar o círculo
único, em consequência da nova lei eleitoral, tendo acabado os círculos
eleitorais concelhios. Hoje admito que foi um erro esta opção legislativa não só
porque ela se realizou com base numa lógica política sem fundamento, mas porque
acabou por ser a causa do aumento da abstenção, dado o maior distanciamento
entre eleitores e eleitos.
Regionais de 2011
Quatro anos
depois, já com a crise nacional em pano de fundo, com a austeridade, com um
novo governo central de direita, apologista de medidas de austeridade radicais,
e com a polémica em torno da chamada “dúvida oculta regional”, realizaram-se as
Regionais de 2011, cujos resultados foram os seguintes:
Inscritos, 256.483 eleitores
Votantes, 147.344
Abstenção, 100 – 57,45 39,48%
PSD, 71.556 votos, 48,6% (25
deputados, 53,2%)
PS, 16.945, 11,5% (6, 12,8%)
CDS, 25.974, 17,6% (9, 19,1%)
PTP, 10.112, 6,9% (3, 6,4%)
PCP, 5.546, 3,8% (1, 2,1%)
PND, 4.825, 3,3% (1, 2,1%)
PAN, 3.125, 2,1% (1, 2,1%)
Bloco, 2.512, 1,7% (sem
deputados eleitos)
MPT, 2.839, 1,9% (1, 2,1%)
Nota: nestas eleições ficou mais do que
evidente que o PSD-M, mais do que ter sido vítima da lei eleitoral que aceitou,
sofreu um imenso desgaste nas urnas, não só pelo que se passou durante o acto
eleitoral (campanha eleitoral), mas pela incerteza sobre o que aconteceria
depois do caso da dívida, pela incerteza quanto ao governo de Passos e Portas a
que se juntou uma clara oscilação de eleitorado, quer para o CDS, quer para a
abstenção. Pela primeira vez o PSD-M ficou abaixo dos 50% dos votos nas
regionais, a abstenção atingiu em 2011 um valor recorde de 42,6% e
os social-democratas elegeram 25 deputados em 47 – a maioria absoluta dos
mandatos é de 24 deputados. Pessoalmente considero que a conciliação destas
eleições regionais, mais depois tudo o que aconteceria nas autárquicas de 2013,
acabou por acelerar a decisão de Alberto João Jardim de abandonar a liderança
do PSD (directas de 2014) e de não se recandidatar nas regionais de 2015.
O PS, sofrendo ainda a penalização do
seu percurso autonómico regional pouco convicto a que se juntou os efeitos do
desastre da governação de Sócrates, apesar de tudo resistiu mesmo passando a
ser a 3ª força política regional.
A lei eleitoral regional acabou por
viabilizar a eleição de deputados pelos
partidos mais pequenos, que nem precisam de mais de 2.500 a 3.000 votos para
terem um mandato garantido.
Acresce que este foi um acto eleitoral
marcado por fenómenos e casos estranhos que mostraram, deliberadamente que
havia algures – não vou desenvolver... - o deliberado propósito de dificultar a
vitória de AJJ, retirando-lhe a maioria absoluta no pressuposto quase certo de
que isso o obrigaria a retirar-se por
recusar negociar com o CDS, curiosamente a coligação no poder em Lisboa,
qualquer entendimento parlamentar. E não me venham com histórias porque
lembro-me muito bem do se passou nesse ano, do stress permanente na campanha -
nunca antes visto - de evidentes sinais de desmobilização e de boicote de
alguns sectores do PSD regional. A história um dia será contada, uma história
culminada com a ausência de Passos na noite eleitoral, depois da vitória do
PSD-M, para felicitar AJJ remetendo tal tarefa para o secretário-geral do partido
Matos Rosa.
Regionais de 2015
Finalmente nas
antecipadas (Março de 2015) eleições Regionais de 2015, já sem Alberto
João Jardim e com Miguel Albuquerque
eleito para a liderança do PSD regional, a referenciada mudança ou renovação,
pareceu não ter sido mais que um slogan sem impacto eleitoral.Isto porque o PSD-M
acabaria por obter o seu pior resultado de sempre em eleições regionais, num
acto eleitoral que registou a abstenção mais elevada de sempre, superado os 50%
e com uma região claramente atrofiada e em crise económica, social e
financeira, fruto dos condicionalismos e das exigências do PAEF, programa
imposto a João Jardim pelo governo de Passos, Portas e Gaspar, e pela troika –
que já cá andava - em Janeiro de 2012.
Recordemos os
resultados:
Inscritos, 256.775 eleitores
Votantes, 127.545
Abstenção, 50,3%
PSD, 56.669 votos, 44,4% (25
deputados, 51,1%)
PS, 14.574, 11,4% (6, 12,8%), em
coligação com PTP, PAN e MPT que se revelou desastrosa para os partidos mais
pequenos
CDS, 17.489, 13,7% (7, 14,9%)
PCP, 7.060, 5,5% (2, 4,2%)
Bloco, 4.850, 3,8% (2, 4,2%)
JPP, 13.114, 10,3% (5, 10,6%) –
Santa Cruz representou 50% do total de votos obtidos
PND, 2.635, 2,1% (1, 2,1%)
Nota: estas
passaram a ser para o PSD-M as piores eleições regionais realizadas até hoje,
não só porque tiveram lugar num tempo onde predominava a troika, a austeridade
nacional de um governo PSD e CDS sem base social de apoio, mas porque as
mudanças operadas na candidatura laranja, e os efeitos do desgaste e da
desmobilização causados pelas directas social-democratas de final de 2014 – que
chegaram a ser nalguns aspectos demasiado duras – a par da presença em Lisboa
de um governo que nunca foi brando com a Madeira, determinaram uma reacção do
eleitorado que viria a manter-se nas legislativas nacionais desse mesmo ano e
depois nas autárquicas de 2017. O PSD-M apesar e tudo manteve a maioria
absoluta por um deputado. Recordo que a contagem dos resultados manteve-se em
suspense e extremamente incerta até madrugada dentro (LFM)
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