quinta-feira, novembro 22, 2018

Opinião: mais do que discutir nomes, estruturas, mudanças e saídas, há que ir ao encontro das bases e remobilizar tudo e todos


1. Em primeiro lugar lembro que o secretariado de um partido, apesar de estatutariamente considerado como um dos seus órgãos internos, é no fundo o executor das orientações políticas emanadas da Comissão Política e o responsável pela gestão corrente dos partidos, cabendo-lhe, regra geral, a coordenação das campanhas eleitorais e de outras iniciativas de índole partidária. Digamos que um secretariado é mais um órgão interno, de movimentação interna, de contacto com as estruturas partidárias nos seus diferentes patamares, e não um órgão político autónomo, que faz o que lhe apetece, que toma posições políticas avulso em nome do partido, sem que seja encarregue de tal tarefa, algo que no caso do PSD-M, sem considerar o Congresso Regional (órgão de decisão máxima de qualquer partido) cabe ao Conselho e à Comissão Política Regionais.
Digo isto porque é necessário colocar as coisas nos seus adequados patamares estatutários, sem empolar ou dar uma dimensão hipervalorizada, ao que não é passível de tal opção.



2. Em segundo lugar, tratando-se de um órgão essencialmente interno com as funções definidas e com as demais incumbências que a Comissão Política possa atribuir-lhe em cada momento, o secretariado é essencialmente uma estrutura que por estar muito ligada ao Presidente da Comissão Política Regional, tem que ser obviamente uma escolha que resulta diretanente das suas opções. Neste caso concreto, acho que Miguel Albuquerque, atendendo ao que se passou desde 2015, fez bem em renovar um secretariado que ele tinha escolhido em 2015 e que pela surdina - há que dizê-lo - era acusado de distanciamento, de alguma falta de experiência e de ter sido, indiretamente, causa próxima de algumas divergências que ainda hoje subsistem nalgumas estruturas partidárias nas freguesias s concelhos.
Aliás, recomendaria ao novo secretariado - e saúdo a inclusão de algumas pessoas, que conheço, com experiência e muita tarimba no que se designa de relações com a vertente mais basista do partido, ou seja, com conhecimento do que deve ser feito para manter as bases mobilizadas e empenhadas - que logo depois de eleito passasse a "pente fino" todas as freguesias para apurar que problemas políticos existem e se é possível ou não trazer de novo para a vida partidária pessoas que se afastaram ou foram afastadas, aquelas por opção e desilusão, estas últimas porque levaram com um selo na testa de "jardinistas" como se isso fosse um pecado passível de justificar uma intervenção inquisicional fosse de quem fosse. Felizmente que esta última realidade, que teve consequência em tudo o que se passou eleitoralmente desde 2015, prece estar a ser afastada. Ainda bem.
3 - Temos a tendência de comparar realidades diferentes. Iguais no plano partidário, meramente interno ou estatutário, mas politicamente substancialmente diferentes. Eu explico porque é simples entender: uma coisa é um secretariado de um PSD-M que possui uma maioria absoluta folgada no parlamento, que lidera a esmagadora mairoia das Juntas de Freguesia e mesmo todas ou quase todas as Câmaras Municipais na RAM, outra coisa é um secretariado de um partido que em 2015 se confrontou com os piores resultados eleitorais de sempre, nas regionais e nas legislativas nacionais, que foi incapaz de impedir que a abstenção atingisse valores recorde nesse ano (e a questão da emigração não pode ser um cimento usado de forma oportunista para tapar "buracos" e justificar o injustificável) e que nas autárquicas de 2017 não foi beneficiado com um cenário eleitoral estimulante.
Acresce ainda que o secretariado eleito em 2015 se confrontou com realidades internas restritivas, nomeadamente um corte significativo no financiamento partidário que afetou a capacidade de movimentação dos partidos políticos. No caso dos maiores, isso nota-se e é mais passível de crítica, ao contrário dos partidos mais pequenos em relação aos quais nada se pode dizer até porque sempre foram partidos de gabinete, vivendo da presença nas redes sociais e no espaço mediático, sendo por isso indiferente os valores financeiros que auferem porque a actividade no terreno é praticamente nula.
Aliás esta questão do financiamento dos partidos acabou por transformar-se numa arena de muito oportunismo - a começar por alguns sectores mais liberais e incompetentes no PSD-M - que se preocuparam tanto com 1,5 milhões de euros anuais para os partidos, mas nada disseram (nem dizem) quanto aos milhares de milhões de euros gastos pelo Estado com a roubalheira corrupta e vergonha na banca, algo que acontece de novo com o orçamento de estado para 2019 com quase 800 milhões de euros para o sector financeiro nacional, entre eles o Novo Banco (ex-BES). Mas isso seria outra discussão.
A hipocrisia, sempre que se trata de partidos, é enorme, e lamentavelmente no pós-20125 o PSD-M acabou por embarcar na demagogia e na pressão dos partidos mais pequenos, sem responsabilidades financeiras comparáveis aos maiores, aprovando medidas que poderiam ter sido tomadas, nem discuto isso, mas que o deveriam ter sido de forma faseada. Os partidos são essenciais à democracia e são protagonistas importantes do nosso regime. Como é que podemos aceitar como válidas as críticas à alegada ausência dos partidos no terreno e nos contactos com as pessoas, se depois são drasticamente reduzidos os recursos financeiros que, de forma devidamente controlada por quem de direito, deviam ser utilizados nisso mesmo, na exigência do cumprimento de obrigações que aos partidos, enquanto entidades públicas essenciais, deveriam ser-lhes obrigatoriamente imputáveis?
4. Finalmente, quanto à parte prática do tema, acho que o novo secretariado, depois de eleito, deve traçar um plano de acção - 2019 é um ano triplamente eleitoral e muita coisa vai depender do que acontecer até final do ano - porque os eleitos não terão muito tempo a perder. Se as europeias de Maio de 2019 correrem mal - e acho que a crise europeia e a desconfiança, a par do aumento de um discurso mais radicalmente de direita e de contestação a esta realidade europeia crescentemente patética - o PSD-M poderá ficar numa posição ainda mais difícil nas eleições seguintes. Difíceis em termos de mobilização dos eleitores. Uma das tarefas importantes é manter a mobilização das pessoas (não apenas dos filiados porque só com esses nenhum partido ganha eleições), para evitar que elas fiquem saturadas com constantes idas às urnas e acabem por engrossar a abstenção penalizando não apenas os partidos mas permitindo que se questione a representatividade dos eleitos.
O novo secretariado tem que fazer uma urgente inventariação da realidade partidária interna, ao nível da freguesia e dos concelhos, apurando a existência de focos de contestação ou de descontentamento - identificando as causas de tudo isso - percebendo se a metodologia de trabalho nas relações com as bases é a melhor, atribuindo de novo às estruturas de base do partido a sua importância e um papel politicamente mais participativo e importante em vez se serem olhadas como "criados" das ordens do Funchal e depois serem ignorados quanto se trata de discutir nomes, por exemplo, para eleições autárquicas, já que supostamente serão esses órgãos de base os que melhor conhecem a realidade nas suas freguesias e concelhos.
Se o secretariado conseguir essa tarefa de reunir todos de novo, sem diferenciação entre os "renovadinhos" e os pretensos "jardinistas" - como se isso fosse um estigma e não fosse óbvio que a esmagadora maioria dos acuais dirigentes foram dirigentes, deputados, autarcas, etc no tempo em que Alberto João Jardim liderou o PSD-M e a Região - acho que poderão começar a ser resolvidos os problemas.
Uma coisa é certa, as campanhas eleitorais em 2019 serão exigentes, desgastantes, precisam de toda a máquina no terreno, precisam que se leve alegria e confiança à política, necessitam de recursos - que confesso não sei se existem - precisam de imaginação, de contactos diretos com as pessoas, de saber passar a mensagem aos eleitores, de cativá-los para uma espécie de renovação de um contrato de confiança, precisam de mobilizar os cidadãos, de combater a ameaça da crescente abstenção, perigosa para qualquer democracia, etc.
Neste quadro é evidente que o secretariado do PSD-M tem que ser uma estrutura da confiança do Presidente da Comissão Política Regional e não uma estrutura geradora de conflitos - lembro que há uns anos os secretariados partidários foram diabolizados depois da "guerra" surgida no PS entre Mário Soares e os elementos do "ex-secretariado", entre os quais Vítor Constâncio e Jorge Sampaio - pelo que não comento nem os nomes, a maioria dos quais conheço, nem as opções de Miguel Albuquerque, cuja liderança defendo totalmente. Julgo que o Presidente do PSD-M, ao contrário do que alguns pensavam demonstrou, por sua iniciativa ou bem assessorado, que percebeu o problema e atacou a sua raíz. Resta fazer uma avaliação pragmática depois de 2019, porque não são as mudanças de nomes que dão votos aos partidos, nem a melhor ou pior metodologia de trabalho e presença no terreno garante sucesso. Os eleitores é que decidem e já não vão nessas conversas moles, seja do poder ou da oposição, nem confundem actos eleitorais diferentes nem responsabilidades pessoais também diferentes.
Finalmente uma nova pessoal e política: eu sempre fui, e continuo a ser, contrário à eleição do secretariado regional do PSD-M pelas bases. A legitimidade do secretariado está indexada à legitimidade do Presidente do partido. Um e outro são um todo ligado entre si, não partes separadas uma da outra. Acho que se trata de um órgão que na realidade não é autónomo, que depende das decisões da Comissão Política e do seu Presidente, pelo que estes a qualquer momento - e desde 2015 até hoje esse foi um dos problemas - se precisarem de fazer mudanças sabem que elas podem deixar de fazer sentido quando os membros do Secretariado são eleitos pelas bases directamente. Muito sinceramente acho que o secretariado não tem que submeter-se a votos. O secretário-geral e o secretário-geral adjunto, se existir, esses sim, devem integrar a comissão política e submeter-se ao veredicto das bases em diretas. O secretariado devia ser um órgão escolhido pelo presidente da Comissão Política (em articulação com e o SG e SG Adjunto) logo depois da sua eleição e dada informação das suas escolhas no início do Congresso. Esta é a minha opinião e dela não prescindo (LFM)

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