terça-feira, novembro 20, 2018

Greve: juízes só para "come e cala"?

De repente saltaram todos em cima dos juízes, catalogados como "órgãos de soberania" e por isso impedidos, segundo alguns iluminados, de protestarem ou de fazerem greve quando os seus direitos são espezinhados ou quando a tutela brinca com a cara deles, como sustentam as estruturas representativas da classe. Ou seja os juízes, que podem ser constitucionalmente tudo o que lhes queiram chamar, são essencialmente funcionários públicos de carreira - confundir políticos nomeados e deputados com juízes é idiota e desonesto porque os políticos e os deputados vão e vêm e os magistrados ficam, fazendo a sua carreira normal. Por isso, acho que os juízes deviam reagir com maior veemência. Ou seja, o Estado que nos últimos anos não cumpre com ninguém, que faz cativações à custa de promessas feitas e adiadas, que recusa resolver o problema com os professores apesar das promessas, que recusa resolver o diferendo com os funcionários públicos, "dando-lhes" a esmola de 50 milhões de euros no Orçamento e Estado para 2019 enquanto canaliza mais de 800 milhões de euros para a banca falida, tapando os buracos que as patifarias da corrupção de colarinho branco ali promoveu, faz o que quer e entende, gozando das pessoas. Pelos vistos, não satisfeito, quer fazer o mesmo com os juízes, tal como faz com os médicos, os enfermeiros, os docentes, etc. Estes podem fazer greves ou manifestações, podem indignar-se e protestar, etc.

Pergunto se para os políticos e governantes os juízes, são uma excepção, obrigados ao "come e cala" só porque são "órgãos de soberania", logo impossibilitados de se indignar e protestar? Porquê? Acharão os políticos que eles não podem nem devem fazer greve, apear de lhes prometerem e depois não cumprirem, que o poder pode gozar com os magistrados na expectativa de que eles não tenham nem espinha dorsal nem dignidade a defender e que não tenham sobretudo o direito constitucional à indignação. Por isso acho patético vermos líderes políticos de diferentes quadrantes alinhados nesta matéria, bem acompanhados por comentadores televisivos sem contraditório - as habituais vuvuzelas contratadas a peso de ouro e postas ao serviço de interesses, corporações e de lobbys - que se insurgirem contra a greve dos magistrados em vez de explicarem se eles têm ou não razão a indignar-se e a lutar pelos seus interesses. Acho absurdo que meios de comunicação social, da direita à esquerda, denunciem aquilo que dizem ser uma greve inconstitucional só porque sintonizados com o poder, sustentam que os juízes devem ser mansos e não fazer ondas.
Por mim, acho que os magistrados têm todo o direito a indignar-se, a protestar e a revoltar-se contra a falsidade de quem brinca com eles e a fazer greve contra quem não cumpre o que lhes promete. São magistrados, podem ser um órgão de soberania, mas são sobretudo funcionários de um Estado que tem que saber respeitar as pessoas, são sobretudo seres humanos em relação aos quais ninguém deve questionar o direito a se manifestarem e a fazer greve e esconder ou ignorar tudo o que lhe deu origem. Força com a greve e nada de ceder! Isto começa a meter nojo, tanta passividade generalizada e tanto acomodamento (LFM)

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