terça-feira, novembro 13, 2018

Eleições: a propósito do peso do Funchal na perfomance eleitoral dos partidos e outras ideias...

Quando refiro o facto de que o Funchal tem um peso diferente, no global da performance eleitoral dos diferentes partidos na Região, faço-o sustentado na realidade imperial que são os resultados eleitorais e na estabilidade repetitiva de votações que atestam o que se afirma.
Repito, o Funchal deixou cada vez mais de ser decisivo para alguns partidos políticos, enquanto para outros, nomeadamente alguns de menor dimensão, tem um peso que é determinante para os resultantes conseguidos.
Quer isto dizer que qualquer estratégia eleitoral, em termos de preparação da campanha eleitoral por parte dos diferentes partidos, deve ter presente também a realidade eleitoral histórica em cada concelho. Por exemplo, um concelho onde o eleitorado maioritariamente vota centro-esquerda dificilmente um discurso mais ousado à direita terá sucesso. O mesmo acontece ao contrário, em concelhos onde claramente o centro-direita predomina nas opções eleitorais dos cidadãos, qualquer discurso mais virado à esquerda estará condenado a nenhum outro desfecho quer não o fracasso.
Claro que há erros políticos que se pagam caro. Por exemplo a Ponta do Sol, tradicionalmente um concelho eleitoralmente laranja, graças a uma escolha contestada e a um acumular de erros e contradições atribuídos a alguma sobranceria e arrogância – que esperemos não se repitam - acabaram por acelerar um desfecho eleitoral surpreendente. Neste momento há que saber até que ponto - parece-me que a turbulência continua – o PSD-M conseguirá inverter os sinais deixados nas autárquicas de 2017, sobretudo em termos de actos eleitorais de outra natureza como serão os de 2019. Aí ficaremos com as dúvidas dissipadas quanto ao que se passou em 2017.
Outro erro frequentemente cometido, sobretudo pela inexperiência e alguma altivez, prende-se com a ideia de que em reuniões com estruturas dirigentes de base o que ali é dito corresponde religiosamente à realidade. Nada disso. Muito do que é a realidade nunca é dito nestas reuniões – a experiência mostrou-me isso – porque as pessoas não querem “chatices” para os seus lados. Optam pelo abanar da cabeça embora sabendo que a situação lá fora é diferente da ideia que muitas vezes se vende dentro de portas. Nas autárquicas de 2017 sei que cenários desses aconteceram em várias freguesias e concelhos e que as surpresas, embora contidas e escondidas, foram muitas e deixaram algumas pessoas incrédulas. Tudo por causa destes erros de análise, pela ausência de discussões francas e pela falta de uma planificação e construção de uma estratégia política assente no primado da superioridade das estruturas dirigentes regionais instaladas lá no alto da sua prosápia sabichona. Já no passado foram cometidos erros dessa natureza que eram obviamente atenuados e disfarçados com os resultados finais globais, algo que começou a não acontecer depois de 2011 e anos seguintes.
Esta planificação, cuidada e demoradamente pensada e estudada, implica coordenação e diálogo e ela constitui cada vez mais o segredo para os sucessos dos partidos. Nada acontece por acaso. A própria campanha, quando passa para o terreno, obedece a isso mesmo, a um retrato que deve ser cuidadosamente feito da realidade eleitoral em cada freguesia ou concelho. Não podemos ter tratados semelhantes para concelhos onde há uma grande quantidade de eleitores idosos, outros onde há muitos jovens ou outros ainda onde a abstenção é significativa. Tal como sabemos que falar da ciclovia na Monumental não diz nada aos eleitores de Santana ou do Porto Santo, falar de pescas num concelho predominantemente agrícola é errado e intolerável. Cada estrutura eleitoral quer saber do que pensam os partidos e os políticos dos seus problemas e que propostas apresentam para a sua realidade e constrangimentos.
Podemos transportar esta ideia para a abstenção. Em concelhos onde a abstenção é significativa – e nas regionais de 2015, tal como nas legislativas desse ano, batemos recordes de abstenção – a prioridade não é propriamente a dialéctica política entre partidos mas a apologia de um discurso de esperança e de mobilização das pessoas, já que as prioridades se devem centrar no combate aos níveis de abstenção registados.
Bom não vou mais abrir o “livro” – porque é disso que falamos… - para que não me acusem de estar a querer dar táticas ou colocar em evidência insuficiências ou mesmo incompetências.
Proporei que analisem estes quadros que propositadamente elaborei para este texto e que mostram, nos anos e actos eleitorais indicados, os resultados totais na RAM e depois os resultados no Funchal e respectivo peso, destes últimos, no total anterior referido.
Há excepções concretas que devem ser apontadas. Por exemplo em 2015, a JPP – que nasceu em Santa Cruz e que tem realmente ali o seu fortim principal - dos 13.114 votos alcançados nas regionais desse ano, cerca de 6.600 (50,3% do total regional) foram somados em Santa Cruz (onde até foi o 2º mais votado). Já nas Legislativas desse mesmo ano, dos 8.671 votos alcançados na Região, 4.183 votos foram conseguidos em Santa Cruz (48,01% do total), apesar de ter voltado a ser o segundo partido mais votado neste concelho. Uma demonstração de como o estudo eleitoral deste concelho foi realizado pelo PSD-M de forma deficiente expressa-se nos 13.092 votos que a JPP obteve nas autárquicas no concelho de Santa Cruz remetendo o PSD para uma votação humilhante., quiçá a pior de sempre no município. Mais do que discutir nomes de pessoas a razão para isto teve a ver com um retrato mal feito (ou nem sequer elaborado previa e cuidadosamente) para que todas as escolhas e decisões e prioridades de campanha e programáticas fossem tomadas em função dos indicadores propiciados por esse levantamento.
Quanto ao MPT, dos 2.839 votos na RAM nas regionais de 2011 (nas regionais de 2015 concorreu coligado e “desapareceu”…), 908 votos foram alcançados em Camara de Lobos (32% do total) e 989 no Funchal (34,9% do total). Motivo? João Isidoro, na altura líder do MPT, tinha em Câmara de Lobos alguma visibilidade política pelo que o peso do Funchal sentiu-se de forma menos significativa (LFM)

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