quinta-feira, novembro 22, 2012

RTP: Administração dá início a inquérito interno

Segundo o Económico, “a administração da RTP, liderada por Alberto da Ponte, já deu início a um inquérito interno para averiguar se elementos externos à estação tiveram acesso a imagens em bruto da manifestação do último dia 14 de Novembro. Em causa está um pedido feito pela polícia para que a RTP disponibilizasse as suas gravações da concentração em frente à Assembleia da República. Num comunicado, o presidente da RTP assume que o inquérito já está a decorrer e avisa que dele poderá resultar a "abertura de eventuais processos disciplinares que se venham a justificar". Neste documento, enviado aos trabalhadores, a administração da RTP apresenta uma versão diferente da divulgada por Nuno Santos, na sua carta de renúncia.Segundo o documento a que o Diário Económico teve acesso, a administração revela que na passada terça-feira tomou conhecimento de que "responsáveis da Direcção de Informação facultaram a elementos estranhos à empresa, nas instalações da RTP, a visualização de imagens dos incidentes verificados após a manifestação em frente à Assembleia da República, no dia da greve geral". "O Conselho de Administração não foi consultado ou sequer informado, nem sobre qualquer pedido nem sobre a presença de elementos estranhos à empresa, dentro das suas instalações.A confirmar-se, em sede de inquérito, a ocorrência destes factos, o Conselho de Administração considera que os mesmos consubstanciam uma acção abusiva, uma quebra grave das responsabilidades inerentes à cadeia hierárquica interna da empresa e inclusivé poder-se-á verificar uma violação dos direitos liberdades e garantias, com consequências nefastas para a credibilidade e idoneidade na produção informativa da RTP, pondo em causa a confiança, do Conselho de Administração na lealdade e isenção dos responsáveis da Direcção de Informação", revela o mesmo comunicado. Alberto da Ponte anunciou também que o pedido de demissão apresentado por Nuno Santos foi aceite. O caso, que já estava a ser discutido pela Comissão de Trabalhadores e pelo Conselho de Redacção, levou hoje à demissão de Nuno Santos e Vítor Gonçalves, membros da direcção de informação da estação pública.
Carta de renúncia de Nuno Santos, enviado à redacção, a que o Diário Económico teve acesso.
"A meu pedido renunciei hoje ao cargo de Director de Informação da RTP tendo apresentado a minha demissão ao Conselho de Administração. Esta decisão é irreversível. Nos últimos dias efectuei um conjunto de contactos informais e uma reunião com o Conselho de Redacção enquanto órgão representativo dos jornalistas. Reuni também com a Comissão de Trabalhadores. Aos dois órgãos, e no plano da competência de cada um deles, prestei todos os esclarecimentos que me foram pedidos sobre uma hipotética entrega a entidades externas à RTP de imagens não exibidas (vulgarmente denominadas como "brutos") dos incidentes do passado dia 14 de Novembro em frente ao Parlamento. Nessas reuniões garanti - e reafirmo de forma categórica - que nenhuma imagem saiu das instalações da RTP. Respondi de forma clara a todas as questões e apresentei um conjunto de factos complementares entendidos e aceites pelas partes que deram o assunto como encerrado. Durante todo o processo mantive informado e com detalhe o Diretor-Geral de Conteúdos, Luís Marinho. Este processo abalou a relação de confiança com o Conselho de Administração a quem expressei a minha profunda discordância com o clima de suspeição instalado antes mesmo da abertura de qualquer processo de inquérito. Na minha condição de Director de Informação não tive qualquer intervenção directa nem autorizei de forma expressa ou velada a cópia de quaisquer imagens. No entanto e como líder da equipa entendo que, se não existe confiança na Direcção de Informação, devo assumir por inteiro as minhas responsabilidades. Não há, nestas alturas, dois caminhos e nesse sentido renunciei ao meu cargo. Saio de consciência tranquila e porque é minha convicção ser essa a solução que permitirá à Direcção de Informação da RTP abrir um período de reflexão e fazer emergir uma nova liderança. Estes 20 meses de trabalho em conjunto foram muito estimulantes. Devo a todos uma palavra de agradecimento pela colaboração prestada. A Redacção da RTP já mostrou em muitos momentos ser uma Redacção excepcional. Este é talvez um dos mais delicados de sempre mas, porque essa é a natureza da equipa, será dada uma resposta à altura".