quinta-feira, novembro 22, 2012

Marcelo Caetano quis trocar censura por assessoria de comunicação

Segundo o Jornal I, “Marcelo Caetano «sonhou substituir a censura pela assessoria de comunicação», defende a historiadora Suzana Cavaco no seu livro «Mercado Media em Portugal no Período Marcelista», distinguido com o prémio para História Moderna e Contemporânea da Fundação Calouste Gulbenkian. Segundo a historiadora, que acaba de editar em livro a sua tese de doutoramento, orientada pelo professor da Universidade do Porto Jorge Alves e por Marcelo Rebelo de Sousa, Marcelo Caetano «sonhou que poderia abrir o regime, substituindo a censura pela assessoria de comunicação». No entanto, Marcelo Caetano não opta por não desistir da censura, entretanto rebatizada de «exame prévio», porque, segundo a investigadora, «percebe que não domina os jornalistas e que apesar de a publicidade ter sido usada como forma de pressão sobre as empresas de media - através do assessor de comunicação, que era diretor de uma agência de publicidade ¿ não conseguiu o controlo que queria».
Suzana Cavaco debruçou-se sobre a governação marcelista (1968-1974), porque considerou que estava por estudar «a relação entre o poder político, o poder económico e os media, um triângulo muito interessante», num «período rico, que mostra o despertar da sociedade de consumo em Portugal» e que é também um período «muito bom para a comunicação social, com o aumento das receitas de publicidade».
Não é isso, no entanto, que, segundo mostra este estudo, leva alguns empresários a investirem nas empresas de comunicação social. «Elas eram um meio para atingir outros fins», afirma Suzana Cavaco, professora de Ciências da Comunicação no Porto, que sustenta que «elas foram adquiridas não pelo seu desempenho económico, real ou potencial, mas como forma de pressionar o governo» da altura, escreve a Lusa.
A historiadora lembra que Marcelo Caetano «era um homem muito sensível à comunicação social, esteve na origem da criação de agências noticiosas em Portugal, na origem da RTP e se quando foi para o Governo passou a ter um programa, já em estudante era colaborador na imprensa». A sua tentativa de abertura do regime, aliviando a censura, trocando-a pela assessoria de comunicação, decorre antes das eleições de 1969. Mas as legislativas «não correram como ele previa» e percebe então que ¿está sozinho, que é o único ativo político válido de uma União Nacional decrépita». Marcelo gasta muito dinheiro mesmo na criação de uma agência de notícias, a Informa, recebe na altura «um relatório da Direção Geral de Censura que lhe diz que há uma nova realidade nas redações e que não pode prescindir da censura».
Segundo Suzana Cavaco, surgia «nas redações uma juventude aguerrida, que não se deixa manipular, ligada à universidade, com mais instrução, contra a guerra colonial e ligada às crises académicas, gente que se torna difícil dominar». Marcelo Caetano, «entre uma imagem de abertura e não segurar o regime, preferiu segurar o regime e perdeu a base de apoio que teria num parlamento renovado, entre gente como Pinto Balsemão ou Sá Carneiro».