segunda-feira, novembro 12, 2012

Como evoluiu o discurso de Merkel

Segundo o Dinheiro Vivo, “os comentários de Angela Merkel sobre a aplicação do programa de ajustamento em Portugal podem ser divididos entre críticas e elogios. Mas todos eles têm um denominador comum: austeridade. A palavra, que quase se confunde com o nome de Merkel, tem sido imposta ao país desde que, a 6 de abril de 2011, o então primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou o pedido de ajuda à 'troika' composta pelo Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia. Desde então, a chanceler alemã tem reforçado a necessidade de Portugal reduzir a dívida pública e impor medidas de contenção orçamental, tecendo, pelo meio, elogios aos esforços realizados pelo país. No entanto, Merkel também deixou as suas críticas, como quando, a 18 de maio do ano passado, considerou que os trabalhadores portugueses não deveriam poder reformar-se mais cedo do que os alemães, criticando ainda o número de dias de férias em Portugal; ou quando, a 8 de fevereiro deste ano, criticou a Madeira por utilizar os fundos comunitários em pontes, estradas e túneis, ao invés de uma aposta nas PME. À medida que a aplicação do programa foi avançando, Merkel foi igualmente reforçando os elogios a Portugal, tendo considerado, a 7 de novembro deste ano, que já era possível ver "os primeiros sucessos" no país. Mas fê-lo já depois de ter exigido mais cinco anos de austeridade. Angela Merkel realiza esta segunda-feira a sua primeira visita oficial a Lisboa, numa altura em que Portugal atravessa uma onda de manifestações e se prepara para a greve geral de 14 de novembro, convocada pela CGTP.
07/11/12: Merkel considera em Bruxelas que a austeridade "não pode parar a meio". "Muito ainda precisa ser feito para [os mercados] reganharem a confiança na União Europeia como um todo". Merkel considera ainda que os esforços feitos pelos Estados-membros "não são em vão" e que as reformas estão a mostrar os primeiros sucessos" em países como Portugal, Irlanda, Espanha e Grécia.
03/11/12: Merkel defende em Mecklemborgo, Alemanha, "um grande esforço, de mais cinco anos". "Precisamos de austeridade para convencer o mundo de que vale a pena investir na Europa".
18/10/12: Merkel afirma no Parlamento alemão que já é possível "ver progressos nos custos unitários de trabalho" em Portugal, e também na Grécia, na Irlanda e em Espanha.
15/10/12: Fonte diplomática alemã anuncia a visita de Merkel a Portugal a 12 de novembro, para se reunir com Cavaco Silva e Passos Coelho.
17/09/12: Merkel reafirma que Portugal, assim como Espanha, devem manter os esforços na redução das dívidas públicas mas continuarem também com as reformais estruturais, como solução para a crise, mesmo que passem por um período de recessão. Essas reformas estruturais implicam o cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
04/09/12: A chanceler pede na Alemanha solidariedade europeia para com países como Portugal, Grécia ou Espanha.
11/07/12: A conselheira de Merkel, Gerda Haffelstedt, afirma em Lisboa que "Portugal está no bom caminho e a Alemanha quer ajudar". "Consolidação orçamental, aumento da competitividade, tudo isso nos interessa. Queremos apoiar Portugal nesse caminho e gostaríamos de pronunciar o nosso reconhecimento pelo que foi feito nos anos passados".
27/06/12: Merkel elogia Portugal e Irlanda pela forma "impressionante" como têm cumprido os respetivos programas de ajustamento.
20/06/12: Merkel considera "impressionantes" passos dados por Portugal, Espanha e Itália para aumentar a competitividade no mercado mundial e defende que austeridade é tão importante como o crescimento económico.
12/06/12: "Tenho grande respeito pelo que se fez em Portugal e na Irlanda e pelas reformas macro-económicas que o primeiro-ministro espanhol está a fazer, o que é duro, porque estamos na moeda única e eles não têm possibilidades de desvalorizar as suas moedas, e só podem aumentar a competitividade através de medidas políticas".
09/05/12: Merkel felicita Portugal, Grécia e Eslovénia por já terem ratificado o Tratado Orçamental nos parlamentos nacionais.
08/02/2012: "Quem já esteve na Madeira, deve ter ficado convencido que os fundos estruturais europeus foram bem aplicados na construção de muitos túneis e autoestradas, mas isso não conduziu a que haja mais competitividade", afirma em Berlim, considerando que os fundos deveriam ser aplicados no apoio às PME. A parcela dos fundos dedicada a Portugal para o período 2007-2013 é de 25 mil milhões de euros, num total de 350 mil milhões.
26/01/12: Merkel rejeita críticas sobre defesa da redução das dívidas públicas de Portugal, Grécia, Espanha e Itália, defendendo que "ter orçamentos de Estado sólidos e promover o crescimento não são coisas contraditórias, e a prazo precisamos de ambos".
26/10/11: Na aprovação do reforço do fundo de resgate europeu (FEEF) no Parlamento alemão, Merkel elogia Portugal, dizendo que o Governo "está firmemente disposto a impor" programa de ajustamento.
14/10/11: Porta-voz de Merkel diz que Portugal "está no bom caminho" e mostra "grande respeito" pelo esforço de Portugal para a redução do défice.
05/10/11: Merkel dá o exemplo de Portugal como país que recuperou confiança dos mercados com as medidas "genuinamente implementadas", numa altura em que a Moody's cortou o rating de Itália.
26/09/11: "Quem não cumprir [critérios de estabilidade], tem de cumprir", sob pena de ver sanções serem agravadas ou perderem mesmo a soberania. Merkel alerta para os riscos de contágio de Portugal e Irlanda caso a Grécia entre em incumprimento.
01/09/11: Merkel, em encontro que contou com a presença de Passos Coelho em Berlim, elogia a bem sucedida aplicação do programa de ajustamento. "O primeiro-ministro elucidou-me sobre as reformas estruturais profundas que estão a ser feitas em Portugal (...) É um caminho corajoso, sabemos que não é simples e, por isso, disse também da minha parte que sempre que Portugal necessitar de ajuda vamos prestar essa ajuda".
08/07/11: "Estou absolutamente convicta de que a Grécia irá conseguir e de que Portugal irá conseguir [sair da crise da dívida soberana]". Merkel afirma que a Europa está "a tentar demonstrar solidariedade" com programas de assistência a Portugal, Grécia e Irlanda, atitude que considera "importante para o euro como um todo".
09/06/11: Merkel felicita Passos por vitória nas eleições e promete apoio ativo "no caminho das reformas", nos "tempos difíceis" que Portugal atravessa.
18/05/11: "Não podemos ter uma moeda única onde uns têm muitas férias e outros poucas", afirma, numa comparação entre o número de dias de férias de Portugal e Alemanha. Em Portugal e Espanha, o mínimo legal é de 22 dias de férias, enquanto na Alemanha varia entre os 25 e os 30 dias.
10/05/11: Portugal "está num caminho muito razoável" para recuperar da crise da dívida com programa de ajustamento, considerou, acrescentando que "Portugal fez inúmeras reformas e irá fazer mais". Sobre a eficácia do programa, Merkel afirmou que "não dou conselhos sobre a política interna portuguesa, até porque estão em campanha eleitoral, e tem de se ser cuidadoso".
24/03/11: “Portugal apresentou um programa [PEC IV] muito corajoso para os anos 2011, 2012 e 2013. Era [um programa] apropriado. Lamento profundamente que não tenha sido aprovado pelo parlamento.” "Estou grata a Sócrates" [pelo trabalho feito na consolidação das contas públicas], afirma, apelidando o socialista de "correto" e "corajoso", depois de este ter apresentado a demissão como primeiro-ministro. Merkel afirma que as medidas tomadas por Portugal para reduzir o défice foram de "longo alcance"."Neste momento, é muito importante que todos os que falam em nome de Portugal digam claramente se estão unidos em torno do objectivo deste programa". "Importante é que, tão depressa quanto possível, Portugal esclareça aquilo que me parece ser indispensável: que há um consenso nacional quanto à necessidade de cumprir os objectivos com os quais Portugal já se comprometeu". "Se isso não for feito, com certeza haverá consequências bastante negativas".
04/03/11: "Portugal será capaz de resolver sozinho os seus problemas". "É necessária uma maior coordenação económica na Zona Euro".
10/01/11: "Portugal não pediu [ajuda] e nós não pressionaremos para que aceite". "Nunca pressionamos nenhum país para que tome certas medidas. Sabem que a ajuda está disponível, mas estes países são livres de pedir medidas de solidariedade se precisarem".
03/05/10: “Todos os especialistas dizem que Portugal, Espanha e Irlanda estão numa situação muito melhor do que a Grécia”. "Estes países podem também ver que o caminho tomado pela Grécia junto do FMI não é fácil. Como consequência, farão eles próprios tudo para o evitar e já estão em marcha esforços de poupança".