Escreve o jornalista do Correio dos Açores, João Paz que "os directores de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo já estão a perder a paciência com a nova administração hospitalar que tem vindo a tomar “medidas avulsas”. Estiveram reunidos com o conselho regional da Ordem dos Médicos e o seu presidente, Jorge Santos, afirma que as instituições de saúde da Região “são profundamente marcadas pela mão da secretária da Saúde e a mão da secretaria é uma mão que não tem qualquer sensibilidade técnica. E quando digo técnica, refiro-me aos técnicos médicos que são importantes para a sua gestão”. A maioria dos directores de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo estiveram quinta-feira reunidos em Ponta Delgada com o conselho regional da Ordem dos Médicos, num encontro praticamente desconhecido da comunicação social, para articularem posições sobre algumas posições da nova administração hospitalar que estão a gerar discórdia. O presidente do conselho da Ordem dos Médicos, Jorge Santos, explicou ao ‘Correio dos Açores’ que este encontro “não teve nenhum objectivo que não fosse o de conversar e estarmos articulados com aquilo que é o pensamento dos colegas”. Explicou ao jornalista que “um dos esforços a que se propôs esta direcção da Ordem é, justamente, uma maior aproximação dos membros. Fizemos isso e vamos continuar a fazê-lo numa reunião com os directores dos Centros de Saúde de São Miguel. E, depois, vamos fazer idênticas reuniões em Angra do Heroísmo e na Horta”. “O que estivemos a ver foi em que moldes poderemos estar mais próximos uns dos outros. E, sobretudo, compreendermos aquilo que é a alteração em curso das estruturas de saúde”. Para Jorge Santos, as instituições de saúde na Região “estão a sofrer uma profunda alteração. E o mesmo acontece em relação à sua governação. As instituições entraram num período de vida administrativo ou gestionário, por assim dizer, a que os médicos têm que se adaptar. Esta adaptação exige reflectirmos sobre onde é que é o interface. E este aspecto é muito importante para nós para sabermos de que forma as instituições virão a implantar-se para o futuro”. “Os próprios gestores”, prosseguiu o presidente do conselho regional da Ordem dos Médicos, “não têm uma formação muito nítida, muito profunda na área de saúde e, portanto, há muitos erros e acções que nos parecem comprometedores do bom funcionamento de instituições” como o Hospital do Divino Espírito Santo. Por outro lado, revela, “temos consciência de que estamos a entrar num período de aperto que abrange a saúde”. A saúde, em seu entender, é um dos sectores que “está a ser alvo de compressão do ponto de vista económico. Isso tem implicações várias, relativamente às quais temos de pensar de que forma é que devemos funcionar. Temos moldes de trabalho que vêm de há séculos e, hoje em dia, num período de retracção, temos de reflectir sobre o que podemos fazer, e de que maneira nos devemos posicionar. Esta é uma reflexão prolongada e, quando a mim, complexa”, completou.
“Falta sensibilidade técnica à gestão da saúde…”
Quando questionado sobre o plano de acção que a actual administração do Hospital do Divino Espírito Santo anunciou que iria apresentar, Jorge Santos diz não o ter visto ainda. “Em moldes bem definidos não tenho visto absolutamente nada. Eles estão a tomar umas iniciativas mas não tenho a perspectiva de um programa de acção bem definido”, disse. Para o responsável da Ordem dos Médicos há situações na maior unidade hospitalar dos Açores que “não me parecem estarem a passar-se como deveriam. “É cada vez maior a ausência de participação médica na gestão dos próprios serviços hospitalares. Existe uma organização administrativa da direcção (um misto económica e de serviços médicos) mal articulada. Surgem iniciativas que nos parecem, muitas vezes, avulsas”. Jorge Santos cita o exemplo da “retirada dos enfermeiros”. Já foi anunciado que “as coisas vinham para trás no dia 1 de Maio quando estava previsto serem seis meses”. “Há várias iniciativas em termos de experiências dentro dos serviços de urgência que são lançadas e, depois, são retiradas. Não nos parece haver uma condução muito segura e bem planeada” no hospital do Divino Espírito Santo, referiu. Em relação às alterações que, por vezes, fazem aos esquemas de horários da Urgência do hospital de Ponta Delgada, a Ordem também foi bem clara em defesa, não dos médicos, mas sim daquilo que é a oferta aos utentes. E, a este nível, parece-me que as coisas estão muito atrasadas”, afirmou. Acentuou, a propósito, que as instituições de saúde da Região “são profundamente marcadas pela mão da secretária da Saúde e a mão da secretaria é uma mão que não tem qualquer sensibilidade técnica. E quando digo técnica, refiro-me aos técnicos médicos que são importantes para a sua gestão”.
Contrato laboral dos médicos em “banho Maria”
O presidente do conselho da Ordem dos Médicos sublinha, por outro lado, que “não vê entusiasmo por parte do governo em alterar o contrato colectivo de trabalho dos médicos”. Diz ter conhecimento de “haver algum esforço dos sindicatos ire ao encontro do governo regional” na procura de uma solução para alterar as cláusulas laborais mas o executivo açoriano “não tem manifestado qualquer interesse apesar daquilo que tem dito o secretário regional da Saúde e, se não me engano, até mesmo o próprio presidente do governo regional de que é importante rectificar o quadro laboral. Mas, depois, na prática, não tem manifestado entusiasmo nenhum, o que para nós é espantoso. Podiam tentar até alterar o esquema de pagamento”. Acrescenta, a propósito, que o governo regional tem avançado com algumas propostas “aqui e acolá que vêm à superfície. Mas, depois, quando passamos a factos, não tem respondido às solicitações dos sindicatos no sentido de discutirem os aspectos laborais relacionados com o exercício do trabalho do Serviço de Urgência, do dispositivo de Urgência da Região que é um problema bastante complexo quanto a nós”. Jorge Santos assumiu que este foi um dos assuntos debatidos quinta-feira com os directores de serviços do Hospital do Divino Espírito Santo. “Reflectimos sobre os problemas que há, o quadro em que as coisas se passam. Não sabemos nem compete à Ordem ir negociar estes aspecto mas sim reflectir sobre eles e tentar saber como é que, com recursos monetários e operacionais curtos, poderá haver uma boa oferta de serviços de saúde actualizada para o período em que nós vivemos…” O médico disse pretender uma Ordem “mais participativa e mais democrática” e anunciou que, ainda esta semana, o conselho regional vai tornar pública a sua perspectiva sobre a suspensão dos centros de saúde de Madalena e da Graciosa. “E um deles com uma maternidade que é um facto bastante curioso”, concluiu”.
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