terça-feira, agosto 04, 2020

O que nos dizem os prejuízos do Novo Banco? A parte 'boa' já está a sofrer com a pandemia

Seis anos depois sua criação, Novo Banco ainda tem 10% do crédito malparado. Ainda assim, este número é das poucas boas notícias dos resultados semestrais. O Novo Banco continua mergulhado em prejuízos e, nos primeiros seis meses do ano, até ficaram mais profundos do que entre janeiro e junho de 2019. A parte 'boa' do banco, aquela que ficará quando o banco se desfizer de todos os ativos tóxicos, obteve resultados positivos, mas bem abaixo do que alcançado um ano antes.bHá anos que António Ramalho decidiu dividir o Novo Banco em dois na hora de apresentar contas. A um chama de “banco recorrente”; ao outro chama de “legado”. O último é aquele onde está a herança do BES, que continua a causar perdas. O outro é o da atividade recorrente, aquela que se irá manter depois de se desfazer da toxicidade. Ora, no primeiro semestre deste ano, o banco recorrente obteve um resultado positivo, de 34 milhões de euros, mas o número representa uma quebra de 70% face aos 113 milhões que tinham sido atingidos nos primeiros seis meses de 2019. O Novo Banco recorrente acompanhou, assim, aquilo que aconteceu em todos os restantes grandes bancos nacionais: um deslize dos resultados devido ao impacto da pandemia.

Aqui, as imparidades para crédito, na sua maioria decorrentes da pandemia de covid-19, penalizaram os resultados, mesmo desta parte 'boa' daquele que há seis anos, a 3 de agosto de 2014, foi considerado o banco 'bom' do BES.
Já na área tóxica, as perdas foram de 493,7 milhões de euros, até aliviando 3,8% em relação ao registo do primeiro semestre do ano passado, segundo os números que constam da apresentação de resultados, divulgada na sexta-feira passada.
Ao todo, o prejuízo do banco ascendeu a 555 milhões de euros no primeiro semestre. Houve várias razões a contribuir para este número. Além das imparidades para crédito, de 289,5 milhões de euros, houve uma perda de 260,6 milhões de euros para que o banco ajustasse o valor a que tem registado fundos de reestruturação (entidades para onde passou alguns dos seus ativos tóxicos). O BCP também foi penalizado por esses fundos.
O banco liderado por António Ramalho foi prejudicado igualmente pela cobertura de risco (swaps) da taxa de juro da dívida portuguesa, no montante de 78,7 milhões de euros.
Há ainda um reforço da provisão que o Novo Banco tem para efeitos de reestruturação. O Expresso noticiou este sábado que a instituição está a contactar 115 funcionários para concretizar saídas até ao final do ano. Entre julho de 2019 e junho deste ano, tinham deixado o banco 138 trabalhadores, estando o quadro nos 4.855 colaboradores.
Tendo em conta este resultado, nomeadamente o desempenho dos ativos que estão cobertos pelo mecanismo de capitalização contingente acordado em 2017, o banco antecipa que poderá solicitar 176 milhões de euros ao próprio Fundo de Resolução - o pedido efetivamente só acontece no fim do ano, quando houver contas de 2020 inteiro. O Novo Banco fechou o semestre com um rácio de capital de 12%, que é aquele que terá sempre de ser garantido por estas injeções.
Ao todo, o Novo Banco poderá solicitar mais 900 milhões de euros ao Fundo, ao abrigo deste mecanismo que cobre ativos tóxicos, como malparado e imóveis (tem ainda 4000 em carteira, como noticiou o Expresso).
Olhando para o balanço do Novo Banco, os recursos de clientes (com os depósitos à cabeça) somaram 1,7% para 35 mil milhões de euros, enquanto a carteira de crédito cresceu 1,4% para 27 mil milhões de euros, sendo que há aqui uma boa notícia para a instituição financeira.
Em dezembro, 11,8% do crédito estava sinalizado como estando em incumprimento (NPL, de 'non performing loans'). Agora, no fim de junho, esse rácio desceu aos 10,2%.
O crédito malparado do Novo Banco ascende a 3,1 mil milhões de euros. O banco sublinha que, com esta fasquia, aproxima-se “pela primeira vez na vida" de um rácio de um só dígito, marca importante para um banco que em 2016 tinha um rácio NPL insustentável de 33,4%.
Apesar da descida, o Novo Banco continua a apresentar uma das carteiras com pior qualidade do seu ativo - algo que está agora a ser auditado pela Deloitte (que falhou o prazo de entrega da auditoria, que deveria ter ocorrido ainda em julho). A forma como o Novo Banco vendeu ativos nessa limpeza também está a ser analisado pela Procuradoria-Geral da República (Expresso, texto do jornalista Diogo Cavaleiro)

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