quinta-feira, agosto 13, 2020

Nota: Falando de erros políticos nas eleições autárquicas (II)

Neste quadro vemos os votos e percentagens alcançadas pelo PSD e pelo CDS nas eleições que seleccionei e que ajudam a perceber que mais do que constituir uma mais-valia, o recurso a coligações generalizadas na RAM, entre os dois partidos, será catastrófico em termos eleitorais e políticos. As pessoas no Funchal e na política dos nossos (e novos) tempos, precisam entender alguns itens essenciais:

- a política, por "ordem" da pandemia vai ter que mudar e rapidamente, e as campanhas eleitorais de outros tempos passarão a ser peças de museu. Os contactos, os chamados porta-a-porta, por questões sanitárias e sociais, devem ser afastados e os eleitores devem recusar esse contacto, caso se mantenha esta anormalidade que vivemos. E que vai perdurar ainda muito mais tempo. Duvido que os partidos estejam preparados, em termos internos, de estruturas, para estes novos tempos em que a máxima "estar na rua" faz cada vez menos sentido. As campanhas eleitorais os contactos com as pessoas terão que seguir outras regras, ter outras opções que nada têm a ver com organizações mafiosas nas redes sociais, criadas para manipular, atacar, mentir, inventar, distorcer, especular, denegrir, elogiar, endeusar, etc, tudo sob a capa de perfis falsos devidamente interligados entre si e cumprindo instruções de alguém;

- as eleições autárquicas são fortemente personalizadas e os partidos, neste quadro e neste contexto, contam cada vez menos, comparando com outros acros eleitorais onde a localização espacial circunscrita do acto eleitoral nada tem a ver com as autarquias locais;


- uma má escolha de candidatos, ou pior do que isso, a intolerável imposição de nomes a partir das elites dirigentes no Funchal às estruturas concelhias - recordo que o PSD cometeu em 2017, na RAM, cinco desastrosos erros nesse âmbito, em que as candidaturas funcionaram com base no amiguismo, acabando por pagar bem caro, pois para além do enxovalho eleitoral deprimente quase destruiu as estruturas locais do partido - pode ser fatal até para o futuro dos partidos ditos tradicionais e não apenas para o PSD-M. Não acredito que o CDS-M queira correr esse risco já em 2021 embora, pelo contrário, comece a desconfiar que a ideia é exactamente esconder essa ameaça, aliás em linha com a realidade nacional demonstrada em sondagens verdadeiramente deprimentes;
- a "praxis" política regional não se compadece com coligações,  o que explica o fracasso de todas elas (incluindo nas regionais de 2015) já que exceptuando os casos recentes liderados pelo PS - na realidade era a "coligação do PS" e mais nada do que isso - pelo que a imposição do Funchal de coligações com o CDS em toda a RAM vai gerar uma fuga de votos, vai provocar insatisfação entre as bases social-democratas e entre os mesmo centristas em casos pontuais - Calheta, Ponta do Sol e Santana.

Tenho para mim que um processo mal conduzido pode transformar as autárquicas numa espécie de "cova" da coligação regional no poder. Podem crer, será apenas uma questão de tempo
Recomendo que os partidos da coligação – cuja realidade concelhia nem se compara - convidem as sua estruturas concelhias - se existirem... - a analisarem primeiro entre si o que fazer, que cenários eleitorais plausíveis se colocam em cada freguesias ou concelho, sejam oposição ou poder, façam uma espécie de análise swot política e eleitoral a cada freguesia e concelho e tomem as decisões com honestidade, pragmatismo e realismo. E só depois disso tomem decisões, na lógica de que um partido quer ganhar eleições e não serve apenas para dar visibilidade a alguém ou concretizar as ambições pessoais seja de quem for. A cegueira muitas vezes impede as pessoas de perceberem que tal como ouro e prata são diferentes, uma coisa é querer ser candidato e outra é dever ser por eventual falta de perfil, apoios e condições pessoais e políticas essenciais a esse desiderato. Pensem nisso. E isto não é desprimor para ninguém, é apenas a realidade política pura e dura.
Recomendo que o PSD-M, claramente o maior partido da RAM em termos de estruturas e de presença no terreno -  antes de qualquer reunião com enviados do Funchal, e sem que se deixe influenciar pelos "ouvidores do reino" que por lá andam, regra geral fazendo asneiradas – convide as estruturas concelhias a debaterem o assunto entre si, rapidamente, inventariando tudo, com honestidade e realismo, sem idiotices ou malabarismos, sem estarem reféns de coisa nenhuma nem ninguém. E que as decisões tomadas sejam transmitidas ao Funchal, às elites dirigentes, para que delas tomem conhecimento antes de dinamizarem o processo de decisão.
Percebemos todos que há cada vez mais a necessidade de uma "proletarização" do modelo de funcionamento do partido, um regresso ao basismo que nunca tendo sido livre e decisivo, é um facto, a verdade é que em determinados momentos no passado foi influente e suficientemente audível e teimoso para fazer valer a sua posição.
Muito sinceramente acho que o PSD-M cometeu erros desastrosos em 2013 - a recusa em perceber a realidade eleitoral que viria a estar na origem da perda de 7 das 11 câmaras municipais regionais (apenas segurou Ponta do Sol, Ribeira Brava, Câmara de Lobos, Calheta - que deviam servir de lição. Mas em 2017 persistiram nalguns desses erros e o PSD-M votou a perder 7 das 11 (mantiveram apenas Calheta, Câmara de Lobos e Porto Santo já que em São Vicente não houve uma vitória do PSD-M se limitou a apoiar uma lista de ex-militantes social-democratas que se revoltaram contra as decisões do Funchal nas autárquicas de 2013), cenário que poderia ser mais grave se os eleitores não tivessem alterado a sua posição no Porto Santo do PS para o PSD. E não é preciso ir mais longe, para entenderem melhor o que estou a referir, recomendo que nos concelhos onde o PSD-M é oposição autárquica comparem os resultados obtidos pelo partido, separadamente, para os diferentes actos eleitorais - CM, AM e a totalidade das AF.
E metam na cabeça uma coisa: presença no espaço mediático e artigos de opinião em jornais não, dão nem votos nem garante a credibilidade junto do eleitorado atento, cada vez mais atento e conhecedor dos meandros da política. Tal como é errada a ideia peregrina de que uma determinada pessoa só porque é dirigente – muitas delas sabe-se lá como lá chegaram, como e para quê, com que intenções e propósitos... - pode concorrer a qualquer eleição que tem logo votos. Não tem coisa nenhuma. Aliás, pode ser enxovalhado abrindo porta a uma demissão na estrutura partidária de que faz parte. Vejam o que aconteceu em 2017 e vejam como um eleitor que votou na candidatura do PSD-M para uma (Assembleia) Junta de Freguesia, já não votou nas demais listas do PSD-M propostas para outros órgãos autárquicos, numa eleição realizada no mesmo dia. Duvidam? Façam esse levantamento... (LFM)

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