terça-feira, agosto 11, 2020

Pedro Duarte rompe silêncio contra Rio: “A situação é demasiado grave”

Ex-mandatário de Marcelo arrasa líder e a estratégia. Abertura ao Chega “é erro perigoso”. Rui Rio foi reeleito em janeiro e, desde então, nem uma voz se levantou contra o líder. Mas agora, depois de uma aproximação ao Governo de Costa, depois de propor o fim dos debates quinzenais, e após ter aberto uma porta ao Chega — na condição de Ventura “moderar” as suas posições mais extremas —, um ex-dirigente que em tempos assumiu o desejo de se candidatar à liderança, rompe o silêncio sepulcral — e não deixa pedra sobre pedra sobre a situação do partido. Num texto publicado no Expresso (ver pág. 33), Pedro Duarte — ex-líder da JSD, ex-dirigente do partido, ex-mandatário de Marcelo na corrida a Belém — assume o risco: “Conheço a lengalenga da vitimização e os métodos de quem tentará transformar estes alertas num álibi para as suas debilidades.” Mas não poupa nas palavras: “A situação é demasiado grave para que fique calado.” E segue, numa espécie de manifesto anti-Rio, com críticas diretas à forma e conteúdo da liderança.

Primeiro sobre a vida interna. Diz Pedro Duarte que “o verdadeiro PSD foi-se diluindo no feitio e nas convicções do seu Presidente”; que “é hoje um partido unipessoal, de pensamento único (o do chefe), onde quem pensa diferente é afastado”; que “desconfia do PSD”; que escolhe “os amigalhaços para os lugares” — e até que impõe decisões, como o fim dos debates quinzenais com António Costa, “de forma autocrática”.
Mas as críticas são arrasadoras, também, sobre o posicionamento atual do PSD: “Tende a jogar taticamente”; “diz-se do centro, apesar de não ter uma única ideia que o sustente”; “reduz a vida pública ao culto de lideranças perigosamente populistas”. E, last but not least, um partido que “tende a abrir a porta a entendimentos com partidos antissistema, de inspiração nacionalista e totalitária”, arriscando-se com isso “a viver dependente do socialismo ou da extrema-direita emergente”.
Rio faz do PSD um partido “unipessoal”, “inócuo”, “tático”, até “autocrático” e “perigosamente populista”, atira Pedro Duarte
A porta aberta ao Chega de André Ventura, que voltou a ser sublinhada por Rui Rio na semana passada (em entrevista à RTP3), parece ter sido a gota de água para o texto. Em declarações ao Expresso, Pedro Duarte acrescenta que “a aproximação de Rui Rio ao Chega é um erro perigoso”, não só por mostrar “desnorte estratégico” mas sobretudo porque, acrescenta, “normaliza um partido antissistema. Em 2015, o PSD criticou António Costa por fazer o mesmo com partidos iliberais de esquerda. Esta atitude vai ao arrepio dos princípios fundadores e estruturantes do PSD, pode ter consequências complexas na medida em que contribui para posicionar o Chega como a alternativa visível à governação de esquerda.”
Pedro Duarte é o primeiro peso-pesado com ambições futuras no partido a criticar e desafiar o líder, mas esta semana outros ex-dirigentes do partido abriram a caixa de Pandora. José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado e comentador da RTP3, foi o primeiro, via Twitter: “Isto é só a confissão de uma enorme aflição. O Dr. Rio saberá bem, acho eu, espero eu, que o Chega se mudar não faz sentido. A mudança que faz falta não virá nem do Chega nem do triste suicídio do CDS. Não é de nada disso que a direita democrática e liberal está à espera.” E prosseguiu na capa do “i”, pela mão de Rui Machete, ex-líder interino (depois de Mota Pinto) e ex-MNE no tempo de Passos: “Um entendimento com o Chega seria descaracterizar por completo o PSD.”
Quanto aos ex-adversários de Rio nas diretas de janeiro, para já mantêm-se em silêncio. Luís Montenegro, depois da derrota (e de uma campanha onde foi alvo pelas críticas públicas que foi fazendo durante meses ao líder) remeteu-se a um absoluto silêncio. Já Miguel Pinto Luz tem mantido visibilidade, mas sempre tendo como alvo o Governo. O peso da reeleição — e do consenso precário trazido pela pandemia — travou um debate interno num partido habituado a muitas críticas. Apesar dos persistentes 25% nas sondagens (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS)https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2493/html/primeiro-caderno/politica/pedro-duarte-rompe-silencio-contra-rio-a-situacao-e-demasiado-grave

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