quinta-feira, maio 01, 2025

Política: família da Mota-Engil no top dos doadores ao PS pelo menos desde 2004

Administradores do Grupo Barraqueiro também entre maiores financiadores dos socialistas nos últimos anos. Deputados e candidatos autárquicos compõem a folha de donativos. Desde 2004, pelo menos, que vários membros da família Mota, da construtora Mota-Engil, doam dinheiro aos partidos políticos do arco da governação. Se há 20 anos distribuíam verbas por PS, PSD e CDS, nos últimos registos das contas dos partidos, doam sobretudo ao PS. Foi o que fizeram por oito vezes desde 2019, mantendo-se no topo dos doadores aos socialistas.

António Mota, o histórico líder da Mota-Engil que esta semana saiu da administração da construtora ao fim de 30 anos, doou 10 mil euros em 2019, 2021 e 2022. Não o fez em 2020 — ano em que os donativos dos partidos caíram a pique — e não o fez em 2023, ano em que o Governo de António Costa de maioria absoluta caiu e o partido mudou de liderança. O Expresso pediu uma declaração, mas não foi possível obter resposta.

Da análise que o Expresso fez aos dados entregues pelos partidos na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), além de António Mota, também Carlos Mota Santos, sobrinho e presidente do conselho de administração da Mota-Engil desde 2023, doou 30 mil euros nos mesmos anos. Já José Manuel Mota, que teve vários cargos na Mota-Engil desde 2007 e que é atualmente do conselho de administração da Fundação Manuel António da Mota, fez dois donativos de 10 mil euros em 2021 e 2022.

Ao todo, os três membros da família doaram 80 mil euros. O mesmo que a família Pedrosa, do Grupo Barraqueiro, ex-acionista da TAP, que fez donativos exatamente nos mesmos três anos. No topo dos doadores, como a revista “Sábado” já tinha noticiado no ano passado, estão assim vários membros da família Pedrosa, como Humberto Pedrosa (30 mil euros), David Pedrosa (30 mil euros) e Artur Pedrosa (20 mil euros). Nas contas que foram possíveis de verificar, Humberto Pedrosa fez ainda um donativo de 5 mil euros ao Chega.

Ainda não é possível um escrutínio sobre os donativos ao PS no mandato de Pedro Nuno Santos

Desde 2019, houve 43 donativos que deram 10 mil euros ao partido (alguns das mesmas pessoas, como os exemplos acima), não havendo um padrão ao longo dos anos, uma vez que, nos anos de 2020 e 2023, não houve registo de donativos acima de quatro mil euros.

Entre os doadores que entregaram dez mil euros ao PS e que o Expresso conseguiu identificar (houve dez que não foi possível rastrear) estão ainda Dionísio Pestana, fundador do Grupo Pestana, que doou em 2019 e 2021. Também no ramo hoteleiro, Nazir Sadru Din, CEO do Grupo Sana, fez três donativos (2019, 2021 e 2022) no total de 27.500 euros. Não foi possível encontrar donativos ao PSD ligados ao Grupo SANA, com o qual o partido tem uma relação comercial mais relevante, por ser em instalações daquele grupo que decorrem muitas vezes os conselhos nacionais sociais-democratas. Foi também num hotel do grupo, o Epic Sana no Marquês, que Luís Montenegro ficou instalado durante uma fase das obras nas suas casas em Lisboa. Como foi revelado pelo próprio em entrevista à TVI, Montenegro fez um acordo com aquele grupo para pagar 250 euros por noite efetivamente dormida.

Entre os financiadores que doaram 10 mil euros por ano ao PS, aparece ainda Rui Nabeiro, o falecido dono da Delta, ou José Luciano Vaz Marcos, presidente da Assembleia Geral da construtora Teixeira Duarte.

No topo dos donativos, aparece ainda Carlos Guerra, que deu os dez mil euros em ano de autárquicas e quando era candidato à Câmara de Alcobaça, ou António Henriques, vereador socialista naquela autarquia. Com ligação ao partido aparece ainda Jorge Gomes, ex-secretário de Estado e ex-deputado que fez em 2020 e 2021 vários donativos, na altura em que já tinha saído do Executivo e tentava ganhar a Câmara de Bragança para o PS. Entre os candidatos autárquicos (e deputados), encontra-se ainda o nome de João Azevedo, que doou 9800 euros em 2021. Ano em que saiu da autarquia de Mangualde para tentar ganhar a capital de distrito, Viseu. Não conseguiu e vai de novo tentar nas eleições autárquicas deste ano.

Próximos de Pedro Nuno

Ainda não é possível um escrutínio sobre os donativos ao PS no mandato de Pedro Nuno Santos. O Governo caiu em novembro e o partido precipitou-se para eleições internas, sendo apenas possível ver os meses de novembro e de dezembro de 2023, quando Pedro Nuno Santos já era candidato a secretário-geral. As contas anuais de 2024 ainda não foram entregues pelos partidos na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP).

Nesses dois meses não é possível verificar uma alteração do padrão de donativos, com a grande maioria a serem donativos de baixo valor, de pessoas que doam ao longo do ano. Nas contas que o Expresso analisou, existem 11 donativos acima de mil euros, sendo o mais elevado de Lúcia Costa Oliveira, das Mulheres Socialistas de Portalegre, no valor de 2250 euros, acumulando um total de 3444 euros nesse ano. Nesse leque de donativos do final do ano, encontram-se ainda dois nomes próximos de Pedro Nuno Santos: os deputados Pedro Vaz, que doou mil euros no final do ano, e Hugo Oliveira, deputado e atual presidente da Federação de Aveiro, que entregou 1439 euros também em dezembro.

NÚMEROS

80 mil euros foi o valor que tanto membros da família Mota como da família Pedrosa doaram nos anos 2019, 2021 e 2022

43 - foram os donativos que os socialistas receberam acima de dez mil euros desde 2019, que inclui candidatos autárquicos e deputados (Expresso, texto da jornalista Liliana Valente)

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