Ex-líder do PSD só apanha metade do eleitorado do seu partido e é o pior para eleitores localizados ao ‘centro’. Aí, é o almirante quem mais ordena. Quando André Ventura decidiu entrar na corrida presidencial, percebendo que não poderia deixar para outros o discurso do Chega, vários analistas admitiram ao Expresso que isso poderia resultar num encurtamento da base eleitoral de Gouveia e Melo. Pode não ser bem assim, a avaliar pela análise da sondagem do ICS/ISTCE, feita para o Expresso e a SIC, que mostra como Henrique Gouveia e Melo é mais percecionado como um candidato do centro do que posicionado à direita do espectro político.
Segundo o mesmo estudo, não só Gouveia e Melo é destacadamente o candidato com mais intenções de voto entre os inquiridos que se declaram do centro como Marques Mendes, que poderia ser seu competidor direto nesta fatia do eleitorado, tem o score mais baixo de todos (7%) — ficando atrás de Ventura (13%) e do candidato do PS (16%) entre os eleitores do centro. Gouveia e Melo apanha quase um terço dos simpatizantes do PSD e Marques Mendes recolhe cerca de metade desses simpatizantes. Mas entre os eleitores que se declararam de direita há uma divisão clara entre Ventura, Gouveia e Melo e Marques Mendes (com Ventura à frente). O ex-líder do PSD, que formaliza a candidatura na próxima semana, tem assim muito trabalho pela frente: não entra no PS, tem ainda mais dificuldade no Chega e, mesmo entre os eleitores sem simpatia partidária assumida, é tão fraco como Ventura ou os candidatos da área socialista.
Mas não só. Quando questionados sobre como posicionariam os candidatos no espectro ideológico esquerda/direita, numa escala de 0 a 10, sendo 0 esquerda e 10 direita (e sendo 5 centro), Luís Marques Mendes aparece mais vincadamente conotado com a ala direita do que o almirante Henrique Gouveia e Melo. André Ventura teve aqui um score médio de 8,4, seguido de Marques Mendes com 7,2 e de Gouveia e Melo com uma média de 6,0 em 10, ou seja, enquadrando-se naquilo a que se chamaria o centro-direita. À esquerda, Seguro e Vitorino (e até Centeno) têm imagens semelhantes aos olhos do eleitorado, com uma escadinha pouco significativa: Vitorino um pouco mais à esquerda com 4,1, seguido de Seguro com 4,4.
Nas letras pequenas, outra nota importante: a grande maioria dos inquiridos conseguiu posicionar ideologicamente André Ventura (84%), assim como Marques Mendes (74%), mas teve mais dificuldade em fazê-lo no que respeita a Seguro (62%), a Vitorino (60%) e ao almirante (apenas 54%). Mendes é considerado mais “à direita” do que almirante
Ficha técnica
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 20 de janeiro de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (7 Regiões NUTS II) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 89 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida através de simulação de voto em urna. Foram contactados 3039 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 805 entrevistas válidas (taxa de resposta de 26%, taxa de cooperação de 36%). O trabalho de campo foi realizado por 38 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 11). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 805 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto da jornalista Rita Dinis)
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