Os eleitores de vários países europeus, incluindo vários Estados-membros da União Europeia, serão chamados às urnas ao longo deste ano, incluindo os portugueses para eleições municipais. Destacamos os 12 plebiscitos que poderão ser mais marcantes no continente, pelo potencial de surpresa ou falta dela, e um outro que ainda não está marcado, mas que poderá vir a ter lugar
Croácia: 12 de janeiro
A segunda volta das presidenciais croatas marca a primeira ida às urnas de 2025 dentro da União Europeia, e tudo indica que o vencedor será o atual chefe de Estado. Zoran Milanovic candidata-se como independente, mas conta com o apoio da coligação liderada pelo Partido Social Democrata (SPD), após a sua candidatura surpresa às autárquicas de abril como cabeça-de-lista do SPD à câmara de Zagreb ter sido rejeitada pelo Tribunal Constitucional. Milanovic é contra o apoio à Ucrânia e contra a participação de tropas croatas na missão da NATO para treinar soldados ucranianos. As sondagens de opinião apontam-lhe 37,4% das intenções de voto contra 20,8% para Dragan Primorac, o candidato apoiado pela União Democrata, partido de centro-direita no poder que defende um estreitamento das relações com os aliados ocidentais.
Bielorrússia: 26 de janeiro
Será a segunda ida às urnas no regime de Alexander Lukashenko desde as famigeradas eleições de 2020, após as quais aumentou a repressão de opositores e de manifestantes em protestos contra a fraude alegadamente cometida pelo partido no poder, num cenário que voltaria a repetir-se em 2024 com as eleições locais no país. Nas presidenciais de há cinco anos, o grande aliado de Vladimir Putin angariou 80% dos votos num plebiscito altamente criticado dentro e fora do país, cujos resultados continuam sem ser reconhecidos até hoje pela União Europeia (UE) e por outros países ocidentais. Lukashenko está no poder desde 1994 e, desde então, mais de 50 mil pessoas já foram detidas por motivos políticos, de acordo com números do grupo de direitos humanos bielorrusso Viasna. E com presidenciais marcadas para o próximo dia 26 de janeiro, são quase nulas as expectativas de que esta ida às urnas seja diferente – até a julgar pela ameaça feita pelo Presidente em novembro, de cortar totalmente o acesso à internet durante o processo eleitoral se os protestos de 2020 se repetirem.
Alemanha: 23 de fevereiro
São eleições esperadas desde pelo menos novembro, quando no mesmo dia em que Donald Trump derrotou Kamala Harris nos EUA, a chamada “coligação semáforo” liderada por Olaf Scholz colapsou. Com o despedimento do seu ministro das Finanças, do FDP (liberais), por desavenças quanto ao aumento do teto da dívida pública – incluindo para reforçar o apoio de Berlim à Ucrânia no contexto da invasão russa – o líder do SPD (centro-esquerda) abriu caminho à queda do governo tripartido, que foi oficialmente confirmada pouco antes do Natal. Chumbada a moção de confiança ao Governo alemão no Bundestag, arrancaram oficialmente as campanhas dos vários partidos para as legislativas antecipadas, uma campanha que, a 20 de dezembro, ficou marcada a ferros pelo ataque ao mercado de Natal de Magdeburgo por um médico saudita islamofóbico.
Apesar do seu historial de apoio ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o ataque que provocou a morte de cinco pessoas e mais de 200 feridos não deixou de cristalizar os sentimentos anti-imigração que têm dominado várias partes do país e que, em 2024, marcaram a ascensão da AfD num punhado de eleições estatais. De acordo com as sondagens mais recentes, o partido de extrema-direita angaria, neste momento, 20,5% das intenções de voto, apenas atrás dos conservadores da CDU/CSU (31%) que estão a capitalizar o descontentamento com os três partidos que compunham a anterior coligação. Sem surpresas, antecipa-se que a questão da imigração e os problemas económicos que a Alemanha enfrenta, ao final do segundo ano consecutivo em recessão, marquem os próximos dois meses até às eleições de 23 fevereiro. Para não governar com a AfD, a CDU de Friedrich Merz terá de se coligar com o SPD, com Os Verdes ou com ambos – isto porque, tidos como os grandes responsáveis pela atual crise política, os liberais do FDP não deverão conseguir votos suficientes para eleger deputados ao Bundestag. O SPD manteve Scholz (à direita) como o seu candidato às legislativas antecipadas e tudo indica que ficará em terceiro lugar, atrás da CDU conservadora de Friedrich Merz (à esquerda) e da AfD de extrema-direita Foto: Kay Nietfeld/dpa via AP
Roménia: março
A data das presidenciais ainda não está definida, mas segundo um assessor político romeno deverão ter lugar algures em março. Isto porque, a dias de se disputar a segunda volta presidencial no país, o Tribunal Constitucional decidiu anular todo o processo eleitoral, após suspeitas de interferência externa via TikTok e outras redes sociais a favor de Călin Georgescu, o candidato independente de extrema-direita que, inesperadamente, venceu no primeiro turno, no final de novembro. Entre uma e outra volta presidencial, os romenos foram chamados novamente às urnas para eleições legislativas que deram a vitória aos social-democratas, o partido pró União Europeia no poder que, numa tentativa de impedir a vitória final de Georgescu, chegou a criar uma abrangente aliança europeísta que incluía o partido da Elena Lasconi, a reformista que iria disputar a segunda volta com o candidato favorável à Rússia. Com o TikTok na mira das autoridades europeias desde as eleições romenas, após a Comissão Europeia ter aberto uma investigação formal à forma como os seus algoritmos funcionam em processos eleitorais, ainda não se sabe quem serão os candidatos a Presidente da Roménia, embora tudo indique, para já, que Georgescu será um deles.
Reino Unido: 1 de maio
Em 2024, os britânicos deram ao Partido Trabalhista a sua primeira vitória em 14 anos – e, em 2025, concretamente no Dia do Trabalhador, voltam às urnas para eleições locais em Inglaterra tidas como o primeiro grande teste ao governo de Keir Starmer, que ajudará a perceber se a esmagadora vitória em julho foi o início de uma nova era para o Labour ou se o apoio ao centro-esquerda já está a esmorecer. Uma sondagem recente da Sky News aponta para um empate virtual entre trabalhistas e conservadores, com cada um a rondar 20% de intenções de votos – valores historicamente baixos para ambos, sobretudo no contexto de eleições autárquicas. Logo atrás, com uma diferença de apenas cinco pontos percentuais, surge o Reform UK do populista eurocético Nigel Farage, que atualmente não detém qualquer assento nos conselhos locais dos condados ingleses.
Polónia: maio
Tendo assumido a presidência rotativa da União Europeia a 1 de janeiro deste ano, a Polónia tem eleições presidenciais previstas para maio, num dia ainda por definir, que os analistas consideram que servirá para tirar a temperatura do eleitorado em relação ao governo que Donald Tusk lidera desde dezembro de 2023, unindo partidos da esquerda ao centro-direita. O atual Presidente polaco, Andrzej Duda, do principal partido da oposição, o populista Lei e Justiça (PiS), está no poder há oito anos e desde a chegada de Tusk ao poder tem usado várias vezes o seu poder de veto para bloquear o avanço de políticas governamentais. A corrida presidencial é, por isso, vista acima de tudo como uma disputa entre os candidatos desses dois partidos – Rafal Trzaskowski, autarca de Varsóvia que pertence à Plataforma Cívica (PO) de Tusk, e Karol Nawrocki, historiador candidato pelo PiS. Para já surgem taco a taco nas sondagens, que apesar de tudo anteveem a provável vitória da Plataforma.
Moldova: até 11 de julho
Em 2024, as presidenciais e o referendo sobre a adesão da Moldova à União Europeia ficaram marcados por forte interferência da Rússia através de campanhas de desinformação ao estilo das que têm tido lugar noutros países da Europa, como a Ucrânia e a Roménia. Mas apesar dos esforços, o ‘sim’ conseguiu vencer (com 50,35% dos votos) e a Presidente pró União Europeia, Maia Sandu, foi reeleita para um segundo e último mandato. É com este pano de fundo que os moldavos são novamente chamados às urnas este ano para eleições legislativas com data ainda por definir, mas que têm de ter lugar até 11 de julho. Nelas, o Partido da Ação e Solidariedade (PAS) de Sandu vai tentar alcançar a maioria absoluta para não ter de se coligar com outras forças políticas, algumas das quais são contra a entrada da Moldova na União Europeia, no que a atual chefe de Estado classifica de “batalha final” para o país sair da órbita russa e cimentar a sua aproximação a Bruxelas.
França (?): julho
Incluímos França nesta lista, não porque tenha eleições marcadas para 2025, mas porque há profundos receios entre os analistas de que venha a ser esse o caso assim que o país completar um ano desde a última ida às urnas. A Constituição da República francesa dita que não pode haver novas eleições no país no espaço de um ano a contar das últimas, que no caso ocorreram a 30 de junho e a 7 de julho, respetivamente primeira e segunda volta das legislativas que Emmanuel Macron decidiu antecipar após a sua dura derrota nas eleições europeias de junho. No seu discurso de Ano Novo, Macron assumiu pela primeira vez o “erro” de ter antecipado as eleições, na prática mergulhando França numa crise política que, pouco antes do final de 2024, registou um novo capítulo, com o colapso do Governo chefiado por Michel Barnier, o tecnocrata nomeado pelo Presidente para tomar as rédeas do país e que não conseguiu fazer aprovar o seu Orçamento do Estado marcado pela austeridade para fazer face à enorme crise da dívida pública na segunda maior economia europeia. Após cair na esteira de uma moção de censura parlamentar, Barnier foi substituído por François Bayrou, centrista veterano do partido MoDem que integra a aliança de Macron desde 2017 e que tem pela frente aprovar o OE para este ano (no imediato) e manter alguma estabilidade no país (a médio prazo). O passado recente mostra que não há garantias de nada – algo que o analista francês Julien Hoez já apontava no rescaldo da demissão de Barnier. “Existem todas as hipóteses de o próximo governo também falhar. O meu prognóstico é que vamos ter mais um ou dois governos antes de Macron ter de dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições para julho.”
Itália: setembro
Numa altura em que, face às crises que Alemanha e França atravessam, é Giorgia Meloni quem parece estar a dar cartas nos palcos da Europa, e quando vários analistas antecipam que será a peça-chave na ponte entre a América de Donald Trump e a UE, as eleições locais em seis regiões de Itália prometem ser um teste eleitoral importante para o seu partido. Num dia ainda por definir do próximo mês de setembro, os eleitores das regiões de Puglia, Campânia, Marque, Toscana, Vale de Aosta e Veneto são chamados às urnas e vão ajudar a pintar o retrato da opinião pública sobre o governo Meloni, até ver relativamente estável. Sob particular escrutínio, aponta a Euronews, vai estar a região de Veneto, uma das mais ricas de Itália, com uma grande população e um longo historial de apoio à Liga, o partido populista minoritário da coligação liderada pelo partido Irmãos de Itália de Meloni. Há também a registar o revés sofrido pelos dois partidos da coligação no poder nas eleições regionais de Emilia-Romagna e Umbria em novembro passado, quando foram ultrapassados pela coligação de centro-esquerda nas duas regiões.
Noruega: 8 de setembro
Uma onda populista e eurocética de extrema-direita parece estar a varrer todo o continente europeu e o país nórdico não é exceção, motivo pelo qual as legislativas vão estar em destaque a 8 de setembro, dia em que os noruegueses decidem a atribuição dos 169 assentos do Storting (parlamento) e quem será o seu próximo primeiro-ministro. Jonas Gahr Støre, líder do Partido Trabalhista (centro-esquerda) que ocupa atualmente o cargo, enfrenta um Partido Conservador (centro-direita) forte ao leme da ex-primeira-ministra Erna Solberg, mas sobretudo um Partido do Progresso (extrema-direita) em crescendo nas sondagens – após ter conquistado 10% dos votos nas legislativas de 2021, os inquéritos de opinião antecipam que o partido nacionalista poderá duplicar o número de votos este ano.
Rússia: 14 setembro
Depois de eleições presidenciais ensombradas por suspeitas de fraude e manipulação de votos em março do ano passado, há novas eleições à vista na Rússia este ano e o processo não deverá desviar-se muito do anterior. A liberdade de expressão e de imprensa continua sob ameaça e os opositores de Vladimir Putin continuam a ser reprimidos, condições impróprias para processos democráticos que, um mês antes das presidenciais de 2024, viram o grande crítico do Presidente russo, Alexei Navalny, morrer na prisão. A nove meses da próxima ida às urnas, numa altura de grandes dúvidas sobre o que vai acontecer quanto à guerra na Ucrânia, mantêm-se também grandes dúvidas sobre a integridade das próximas eleições russas, incluindo eleições intercalares para preencher lugares que vão ficar vazios na Duma (a câmara baixa do Parlamento), a escolha dos governadores de 18 regiões do país, parlamentares em 11 regiões e eleições de representantes locais em várias zonas da Rússia.
República Checa: 3/4 outubro
Tudo aponta que as próximas eleições parlamentares na Chéquia vão ter lugar no primeiro fim de semana de outubro, esperando-se que o Presidente, Petr Pavel, anuncie a data concreta até ao verão. A votos vão estar os 200 assentos da Câmara dos Deputados (câmara baixa do Parlamento) e o cargo de primeiro-ministro, que poderá vir a ser ocupado pelo líder do partido populista ANO, Andrej Babiš – que no Parlamento Europeu integra a bancada do Patriotas pela Europa e cuja potencial vitória irá reforçar o movimento de extrema-direita que se tem firmado na Europa central, com o húngaro Viktor Orbán e o eslovaco Robert Fico ao leme. Autoproclamado antissistema e anti-imigração, o bilionário já apelidado de “Trump checo” que foi primeiro-ministro entre 2017 e 2021 também se opõe a mais integração na UE e é conhecido pela sua posição pouco crítica em relação à Rússia. Neste momento, as sondagens antecipam cerca de 34,5% dos votos para o seu ANO, bem à frente do Partido Democrata Cívico (ODS) – liderado pelo atual primeiro-ministro conservador Petr Fiala, com 13,7% das intenções – e do STAN (centro-direita), com 11%.
Geórgia: outubro
No mês em que se vai completar um ano das disputadas eleições legislativas georgianas, que deram a vitória ao partido pró-russo no poder, o Sonho Georgiano, a população volta às urnas para eleições locais num país cada vez mais no centro das disputas entre o Ocidente e a Rússia, que ocupa 20% do território da Geórgia desde 2008. O último ano assistiu a grandes retrocessos na Geórgia, onde, como ressalta o analista Kornely Kakachia, mais de 80% da população apoia a entrada na UE, mas cujo governo adotou um controverso projeto-lei em maio que põe em causa a liberdade de imprensa, antes de cancelar o processo de adesão ao bloco europeu e de acabar com a eleição direta do Presidente. Após legislativas em outubro envoltas em suspeitas de fraude, o Sonho Georgiano nomeou o ex-atleta pró-russo Mikheil Kavelachvili para substituir a Presidente pró-UE Salome Zourabichvili em dezembro, numa eleição boicotada pelos partidos da oposição e cujo resultado a atual chefe de Estado se recusa a reconhecer. É por isso difícil antecipar o que pode acontecer até outubro, para quando estão previstas as eleições locais.
Outras eleições marcadas para 2025, dentro e fora da Europa:
Kosovo, eleições legislativas, 9 de fevereiro
Albânia, eleições legislativas, 11 de maio
Conselho de Segurança da ONU, junho
Bolívia, eleições gerais, 17 agosto
Portugal, eleições municipais, setembro/outubro
Canadá, eleições legislativas, até 20 de outubro
Argentina, eleições legislativas, 26 outubro
Irlanda, eleições presidenciais, novembro
Chile, eleições gerais, novembro/dezembro (CNN-Portugal, texto da jornalista Joana Azevedo Viana)
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