quinta-feira, outubro 26, 2023

O Ocidente está cansado de conflitos? Ucranianos estão menos confiantes no apoio ocidental, aponta sondagem

Há fadiga de guerra no Ocidente? A invasão da Ucrânia pela Rússia teve lugar há mais de ano e meio, sendo que deste então os países ocidentais têm prestado ajuda financeira e militar a Kiev, por entre promessas de apoio aos ucranianos durante o tempo que for necessário. Segundo uma sondagem realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, a percentagem de ucranianos que acredita que o Ocidente está cansado e pretende negociações com Moscovo duplicou no último ano. A percentagem de ucranianos que acredita que o apoio dos aliados está a diminuir e que gostaria que Kiev iniciasse negociações com Moscovo aumentou de 15% para 30%, em comparação com setembro e dezembro do ano passado. O cansaço do Ocidente tem sido uma mensagem do Kremlin num passado recente. “Dissemos repetidamente que, de acordo com as nossas previsões, o cansaço deste conflito, o cansaço do patrocínio completamente absurdo ao regime de Kiev irá aumentar em vários países, incluindo os Estados Unidos”, referiu Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin.

A maioria da população ucraniana (mais de 60%) continua convencida de que o apoio ocidental é forte e, segundo os especialistas, é pouco provável que enfraqueça nos próximos meses. “O presidente Joe Biden tem mais sete meses para continuar a apoiar a Ucrânia, e já o afirmou. Os Estados Unidos estão a fornecer à Ucrânia um sistema importante de armas. Não haverá qualquer alteração”, afirmou Judy Dempsey, do Centro Carnegie Europe e editora-chefe do blogue ‘Strategic Europe’, citada pela ‘Euronews’.

Segundo Dempsey, o apoio de Bruxelas a Kiev tem-se mantido inabalável desde fevereiro de 2022, o início da invasão russa em grande escala. A UE está pronta para continuar a prestar assistência financeira, política e militar a Kiev: “O sentimento de que a guerra já dura há algum tempo está, certamente, presente entre os Estados-Membros. Mas não me parece que este cansaço esteja suficientemente enraizado e generalizado para que os europeus digam: ‘Basta, vamos negociar’!”

A derrota da Ucrânia conta a Rússia pode afetar seriamente a estrutura de segurança na Europa no futuro mas não só, indicou Maximilian Hess, investigador do ‘American Foreign Policy Research Institute’ e autor do livro “Guerra Económica – A Ucrânia e o Conflito Global entre a Rússia e o Ocidente”. “É importante compreender o que está em jogo neste conflito: não é apenas o sistema de segurança europeu e a probabilidade de uma nova agressão russa, mas também os sistemas económicos e políticos que os ucranianos estão a lutar para reformar. Estão a lutar pelo direito de se unirem aos seus vizinhos europeus.”

“Este é um conflito em que vale a pena apoiar a Ucrânia, porque a alternativa, em que Putin vence e destrói este país, levará não só à destruição do paradigma de segurança europeu, mas também do paradigma político e económico da Europa no seu todo”, reforçou o especialista, que está convencido que nos próximos meses os ucranianos não se devem preocupar com o facto de a assistência da Europa e dos Estados Unidos poder ser, significativamente, reduzida ou desaparecer por completo.

“A UE distribuiu o apoio de forma bastante sensata. Será prestado durante muito tempo, dada a forma como está estruturado. Nos Estados Unidos, a ajuda à Ucrânia vai continuar a ser objeto de lutas políticas internas. Mas, pelo menos até às eleições presidenciais, até novembro de 2024, a ajuda continuará a ser forte “, referiu Hess.

A paz só pode ser alcançada quando as pessoas no poder na Rússia não puderem continuar a guerra, apontou Maximilian Hess. “Na minha opinião, não há qualquer possibilidade de acabar com a guerra num futuro próximo, porque Vladimir Putin não mostra qualquer interesse em fazê-lo. Foi o Kremlin, em 2014, que iniciou este conflito que se transformou numa guerra, em grande escala, em 2022. A paz só é possível quando o Kremlin já não for capaz ou não estiver disposto a lutar.” (Executive Digest, texto do jornalista Francisco Laranjeira)

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