Espanha prepara-se para uma nova versão de
"geringonça", mais alargada que a portuguesa, muito mais complexa -
porque envolve, para além do PSOE derrotado nas urnas, a extrema-esquerda,
agora reunida no partido Sumar, uma coligação criada para as legislativas
espanholas, depois da hecatombe eleitoral do elitista Podemos e ainda uma série
de partidos regionais e independentistas que não desistem, no caso dos bascos e
dos catalães, que Madrid promova referendos separatistas.
A primeira constatação foi a de que o PP de Feijóo, que em Maio assumiu alguma dinâmica de vitória, devido aos resultados nas regionais e nas locais, rapidamente deitou tudo a perder quando, para garantir a tomada do poder de assalto nas regiões e nas cidades onde não tinha maioria, assinou acordos com o Vox da extrema-direita, partido que acabou por ser o grande derrotado das eleições espanholas.
O cenário parlamentar espanhol
Para que as pessoas percebam o que se passa em Espanha, lembremos os resultados eleitorais finais das legislativas espanholas de 23 de Junho de 2023 para o Congresso:
- · PP, 8.091.840 votos, 33,05% e 136 deputados
- · PSOE, 7.760.970, 31,70% e 122 deputados
- · VOX, 3.033.744 votos, 12,39%, 33 deputados
- · SUMAR, 3.014.006 votos, 12,31%, 31 deputados
- · ERC (Esquerda Republicana da Catalunha, esquerda), 462.883 1,89%, 7 deputados
- · JUNTS (Catalunha), 392.634 votos, 1,60%, 7 deputados
- · Bildu (coligação de esquerda do País Basco, associada à ETA), 333.362 votos, 1,36% e 6 deputados
- · EAJ-PNV (Nacionalistas do País Basco), 275.782 votos, 1,12% e 5 deputados
- · BNG (Bloco Nacionalista Galego, nacionalista de esquerda da Galícia), 152.327 votos, 0,62% e 1 deputado
- · CCa (Canárias, partido regional de centro-direita), 114.718 votos, 0,46%, 1 deputado
- · UPN (União do Povo Navarro, regionalista, conservador de centro-direita), 51.764 votos, 21% e 1 deputado
Simulando as diferentes opções temos PP,
Vox, UPN e Coligação Canária com 171 longe dos 175 da maioria absoluta.
Enquanto isso, PSOE, Sumar e demais partidos regionalistas - JUNTs, BILDU,
EAJ-PNV, ERC e BNG - somam 179 mandatos, com maioria absoluta garantida. Estas
simulações mostram o quão patético tem sido a postura de Feijóo que reclama
para si o direito de governar por ter sido o mais votado, mas depois das regionais
de 28 de Maio de 2023 fez acordos com o VOX para retirar o poder aos vencedores
das eleições!
Refira-se que em Castela e Leão, governada
por uma coligação entre os populares e a extrema-direita há mais de um ano, mas
o Vox deixou escapar cinco deputados para o PP. O cenário de perda nas
legislativas repetiu-se na Comunidade Valenciana e na Estremadura. Mas, apesar
do desaire eleitoral, a liderança de Santiago Abascal não será “contestada”,
porque o Vox é “cesarista” e “gerido com mão militar”, dizem especialistas".
Aliás, recordo que o Vox da extrema-direita passou de 52 para 33 mandatos no
Congresso dos Deputados. PP e VOX governam coligados em três comunidades
autónomas — e em todas elas o Vox perdeu votos.
Recordo, finalmente, que os 350 deputados espanhóis, elegeram a presidência o Congresso, com a candidata proposta pelo PSOE, Francina Armengol, a obter 178 votos (maioria absoluta) — caso não conseguisse 176 ou mais votos, realizar-se-ia uma segunda volta. O PSOE contou com os votos do Sumar, partido de Yolanda Díaz e dos independentistas Junts per Catalunya — importante para o PSOE ficar mais perto de uma possível coligação quando se tratar de um acordo para formar governo (PSOE, Sumar e Junts totalizam 160 deputados, distantes dos 171 do PP, Vox, CCanária e UPN da Navarra, o que implica que Perdro Sanchez tenha que alargar as negociações aos bascos, 11 mandatos e BNG, 1 deputado). Tudo indica que depois de falhada a golpada de Feijóo para fazer um acordo de legislatura com o PSOE que poderia incluir uma partilha de poder (2 anos a cada), cenário recusado pelos socialistas espanhóis e Pedro Sanchez, que poderemos ter uma maioria de mandatos assim formada:
- · PSOE, Sumar, Nacionalistas, 179 deputados
- · PP, Vox e partidos regionais Canarias e Navarra, 171 deputados
- · Mandatos dos partidos nacionalistas e regionais, 28 deputados
O que aconteceu em Portugal em 2015
Lembro o que se passou em Portugal nas legislativas de 2015:
- · Coligação PSD/CDS, 36,86, 1.993.921 votos e 102 deputados;
- · PS, 32,31%, 1.747.685 votos e 86 deputados;
- · Bloco de Esquerda, 10,19, 550.892 votos e 19 deputados;
- · PCP-PEV, 8,25%, 445.980 votos e 17 deputados;
- · PSD (Madeira e Açores), 1,50, 81.054 votos e 5 deputados
- · PAN, 1,39%, 75.140 votos e 1 deputado.
A geringonça - basicamente um acordo parlamentar - reuniu PS, PCP e Bloco, com um total de 122 deputados (maioria absoluta é 126 deputados) contra 107 deputados do PSD e do CDS e sem contabilizar ainda 1 deputado do PAN que sempre ser colou aos socialistas (LFM)
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