domingo, setembro 10, 2023

Madeira: campanha eleitoral para o terreno

 

A campanha eleitoral para as regionais de 24 de Setembro na Madeira, começa a ser desenvolvida no terreno na próxima semana, mas é sabido que nem todos os partidos serão "vistos" pelas pessoas porque há partidos que não têm estrutura, nem organização, nem dirigentes regionais devidamente eleitos, nem actividade política digna desse nome fora dos períodos eleitorais, nem dimensão social, nem pessoas suficientes para fazerem campanha eleitoral nos termos convencionais, etc. Tal como veremos na noite de 24 de Setembro a dimensão eleitoral seria insignificante, ridícula, patética no caso de alguns deles, algo que deveria motivar, da parte das entidades competentes, a penalização de partidos que se apresentam como tal mas que na realidade não passam de bandos que se organizam apenas nas eleições para aparecerem nas notícias e nas televisões. Algo diferente, mas não muito, de outros alegados partidos sem representação social alguma, sem sede regional sem estruturas dirigentes locais, devidamente eleitas, que fazem se limitam a dar prova de vida recorrendo à patética política do sofá ou das redes sociais - e nem falo dos processos usados para formalizarem listas de candidatos.... - e que mesmo assim ganham espaço mediático quando na realidade são falsos partidos, sem ideologia até, que se resumem a uma ou duas pessoas com acesso às redes sociais, regra geral com passagem noutros partidos de onde saíram por motivos pouco claros.

Lembremos, para além dos chamados partidos grandes e tradicionais, o que aconteceu nas regionais da Madeira em termos de figurões constantes do boletim de voto:

·       Em 1976 (6 concorrentes), fora os grandes, apenas tivemos o PCTP com 357 votos e 0,3%, só Funchal e em Santa Cruz;

·       Em 1980 (7 concorrentes) tivemos a UDA-PDA que somou 2.212 votos, 1,7% e que apenas concorreu nos grandes concelhos. O PCTP obteve 489, 0,4% com candidatos nos 11 concelhos da RAM;

·       Em 1984 (6 concorrentes) voltou-se à "normalidade" com os grandes partidos mais o PCTP que apresentou candidatos em todos os concelhos e a obter 760 votos e 0,6%;

·       Em 1988 (7 concorrentes) o PDA concorreu apenas com lista no Funchal, 779 votos, 0,6%. Neste ano o PCTP totalizou no Funchal e Santa Cruz, 496 votos, 0,4%;

·       Quatro anos depois, em 1992 (7 concorrentes), as regionais registaram a primeira surpresa, com o estreante PSN - já extinto - a eleger 1 deputado, graças aos seus 3.153 votos e 2,4% graças a uma campanha eleitoral - recordo-me bem - virada para a componente social da sociedade madeirense e particularmente para os mais idosos e reformados e pensionistas. Para além do PSN concorreu apenas o PDA no Funchal onde obteve 753 votos e 1,2%;

·       Em 1996 (7 concorrentes), o PSN esfumou-se com 875 e 0,6% e muitos problemas internos e suspeições e divergências internas ao longo da legislatura regional anterior. O PDA apenas apresentou candidatos no Funchal e Câmara de Lobos, somando um total de 565 votos e 0,4%;

·       Em 2000 (6 concorrentes) para além dos partidos tradicionais presença do PSN com 2.243 votos e 1,7% que ficou às portas de nova eleição de 1 deputado regional;

·       Já em 2004 (5 concorrentes), cuja legislatura não chegaria ao final dos 4 anos - o PSD-Madeira devido à polémica da imposição de uma nova lei de finanças regionais penalizadora da RAM, provocou a queda dos órgãos de governo próprio e a convocação antecipada de eleições regionais em 2007, a última que ainda elegeu deputados nos 11 concelhos das Madeira, tivemos apenas os partidos tradicionais;

·       Em 2007 (6 concorrentes) surgiu o MPT. Este foi, recorda-se, o primeiro ano de vigência da nova lei eleitoral regional que passou a assentar apenas num círculo eleitoral regional único - um tremendo erro que apenas alimenta a abstenção, as negociatas partidárias de lugares nas listas e não reforça a representatividade dos eleitos. O absurdo - para não ir mais longe na adjectivação - é que este processo, realizado em 2006 e 2007, foi desenvolvido com o propósito de "entalar" o PS-M e limitar a representação que os socialistas tinham nalguns concelhos quase sem se mexerem da cadeira!!!;

·       nas regionais de 2011 (9 participantes) foi o início da participação a pataco, com as estreias da participação do PND (1 eleito), PTP (3 eleitos), MPT (1 eleito) e PAN (1 eleito). Aparentemente a lógica política subjacente à mudança da lei eleitoral regional parecia ser subscrita pelos resultados já que o PS não foi além de 6 eleitos contra 9 do CDS e 25 deputados do PSD. PCP elegeu 1 deputado e Bloco foi afastado do parlamento regional;

·       nas regionais de 2015 (11 participantes, novo recorde), foram eleições em que pela primeira vez se registou a participação de uma coligação, neste caso liderada pelo PS (Mudança) e reunindo ainda PND, MTP e PAN). Esta coligação foi a grande derrotada com 14.573 votos, 11,3% e apenas 6 deputados. O PSD elegeu 24 deputados com 44,4% contra 78 do CDS que obteve 13,7%. PCP com 5,5% e Bloco com 2,7% elegeram cada qual 2 deputados. Estreia do JPP e participação da Nova Democracia, MAS, PCTP, Plataforma dos Cidadãos (PPM/PDA) e PNR na sua maioria sem expressão na Madeira. Os resultados mostram isso mesmo:

- MAS - 1.7815 votos, 1,3%

- Plataforma - 903, 0,7%

- PNR - 1.052, 0,8%

- ND (no fundo o PND entretanto extinto pelo Tribunal Constitucional), 2.635 votos, 2,1% e 1 deputado eleito. A JPP estreia-se com 13.114 votos, sobretudo em Santa Cruz, 10,3% e 5 deputados;

·       nas regionais de 2019 (é que as coisas se "complicaram" com o envolvimento de 17 grupos políticos (um absurdo), com estreias do Chega, do Partido Democrático Republicano, da Iniciativa Liberal, Partido Unido dos Reformados e Pensionistas e Reagir Incluir Reciclar. Dos 17 participantes nestas eleições apenas 5 - PSD (21), PS (19), CDS (3), PCP (1) e JPP (3) elegeram deputados.

Quando à votação dos pequenos partidos tivemos o seguinte desfecho:

- Chega - 619 votos, 0,4%

- IL - 762 votos, 0,5%

- PDR - 603 votos, 0,4%

- PURP - 1.766 votos, 1,3%

- RIR - 1.749 votos, 1,3%

Globalmente considero que estas eleições, ao contrário das regionais de 2011, deram cabo da lógica legislativa que presidiu à alteração da lei eleitoral regional e à absurda imposição de um círculo eleitoral único. Basta ver que desde 2007 - quando a nova lei foi aprovada - a abstenção situou-se em valores regra geral crescentes:

- 2004 - 39,5%

- 2007 - 39,3%

- 2011 - 42,6%

- 2015 - 50,4%

- 2019 - 44,5% 

Estas eleições regionais de 2019 ficaram marcadas pelas  vitória do PSD em termos absolutos mas pela perda da maioria absoluta, o que aconteceu pela primeira vez, obrigando os social-democratas, para se manterem no poder, a uma coligação pós-eleitoral com o CDS. Já as regionais de 2023 contam com  a participação de 13 candidaturas, das quais duas são coligações e as restantes são 11 partidos. (LFM)

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