segunda-feira, janeiro 27, 2020

Nota: perorando sobre o congresso do CDS do qual o CDS-M não saiu reforçado

Depois do Congresso do CDS fiquei com a sensação de que o partido quer regressar ao seu espaço natural da direita, acabando com o jogo dúbio e hipócrita que Portas trouxe ao partido - ao ponto de PSD e CDS fazerem parte da mesma família política no Parlamento Europeu quando são diferentes em termos nacionais - tentando reocupar um espaço eleitoral que estimo entre os 4 e os 7 por cento. Desta forma o CDS procurará estancar a fuga de eleitores dessa área política para o Chega e mesmo para a Iniciativa Liberal. Mas não chega. Basta olhar a números, recuando a 2011, antes da coligação pré eleitoral com o PSD, para percebermos que o legado de Cristas é desastroso e que as perdas em 2019 não podem ser imputáveis apenas aos dois novos partidos:
Assembleia da República - 2009
592.997 votos, 10,4%, 21 deputados
Assembleia da República - 2011
653.987 votos, 11,7%, 24 deputados
Assembleia da República - 2019 (em 2015 concorreu coligado ao PSD)
221.774 votos, 4,2%, 5 deputados
Chega - 67.826 votos, 1,3%, 1 deputado
Iniciativa Liberal - 67.681 votos, 1,3%, 1 deputado
O erro político de Cristas, o seu deslumbramento, teve a ver com as autárquicas de 2017 em Lisboa, quando desvalorizou a péssima escolha do PSD (Teresa Leal Coelho) para a edilidade, decisão que funcionou a favor do CDS (Assunção Cristas). Vejamos:
Legislativas de 2009 (Lisboa)
PSD - 288.554 votos, 25,1%
CDS - 126.088 votos, 11%
Legislativas de 2011 (Lisboa)
PSD - 398.789 votos, 34,1% (vitória)
CDS - 161.227 votos, 13,8%
Legislativas de 2019 (Lisboa)
PSD - 248.937 votos, 22,6%
CDS - 48.502 votos, 4,4%
Autárquicas de 2017 (Lisboa)
PSD - 28.336 votos, 11,2% 
CDS - 51.984 votos, 20,6% (coligado com MPT e PPM)
Lembro-me que depois disso Cristas até disse publicamente, entre outras asneiradas, que o CDS queria liderar a direita portuguesa, envolvendo nessa trapalhada o PSD como partido a submeter a esse seu sono entretanto esfumado. Em 2019 foi o que se viu. Bateu de frente com estrondo e saiu sem honra e sem glória depois de 4 anos de oposição sem nada de positivo na Assembleia da República onde o CDS, tal como o PSD, se limitaram a acumular erros idiotas na contestação ao governo da geringonça. Percebe-se por isso o discurso do novo líder do CDS de corte radical com esse passado e a derrota de quem representava esse passado apesar de terem minimizado o desaire graças à incontornável  manipulação q.b. da máquina partidária dado que eram eles que estavam no poder até ao Congresso de Aveiro. A grande incógnita, agora, é saber qual a posição dos 5 deputados em São Bento (Cristas já renunciou ao mandato) dado que nenhum deles foi apoiante do novo líder centrista.
A segunda nota tem a ver com  o CDS-M e o paradoxo de sendo a única estrutura do partido que resistiu e que, apesar da copiosa derrota nas regionais, os 3 deputados em 47 foram essenciais para colocar o PSD refém de entendimento parlamentar, caso quisesse manter-se no poder. Pese as fotografias para consumo mediático - e sabemos como as coisas funcionam quando são os próprios a levaram fotógrafos para isso... - parece-me, pelas declarações feitas, que o CDS-M apostou no cavalo errado, não construiu pontes sobretudo quando em pleno Congresso se começou a perceber que o rio corria em sentido contrário, acabando por sair de Aveiro sem estar nas graças dos vencedores. Apenas Barreto por inerência do cargo integra a Comissão Executiva nacional. Mas para além disso apenas 2 nomes foram eleitos para o Conselho Nacional. Isto porque Rui Barreto foi nº 2 da lista de João Almeida - candidato que apoiou e que foi derrotado - ao Conselho Nacional e dessa lista entraram também Gonçalo Pimenta e Margarida Pocinho.
Curioso ainda o facto de Ricardo Vieira, ex-líder do CDS-M ter sido (estranhamente) afastado da comitiva de delegados regionais centristas ao Congresso de Aveiro, ter já manifestado publicamente a sua satisfação pela vitória de Francisco Rodrigues dos Santos ao afirmar no seu Facebook que "o CDS deu provas da sua maturidade e capacidade de serviço. Em mais um dos seus históricos Congressos deu a vitória ao Francisco Rodrigues dos Santos. O CDS reencontra o seu discurso fiel à sua matriz. Estou felicíssimo embora longe de Aveiro por razões alheias à minha vontade. A força do seu entusiasmo, a sinceridade das suas convicções e a sua capacidade de serviço, dá-nos a garantia de que o País tem no Francisco motivos de esperança para voltar a acreditar". Nunca se viu nos discursos feitos em Aveiro semelhante entusiasmo... (LFM)

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