Como sobreviviam os exploradores do início do século XX? Para ajudar a
perceber a história de homens como Roald Amundsen e Ernest Schackleton, o Museu
de Farmácia adquiriu no início do século XXI, as farmácias portáteis destes
dois exploradores.
Ernest Schackleton levou este estojo farmacêutico na sua viagem com Scott ao pólo Sul entre
1908 e 1909. A peça faz parte da exposição permanente do Museu de Farmácia,
Lisboa. Início de Setembro de 1910. Um navio aproxima-se da costa madeirense.
Avista o farol de São Lourenço e navega depois até ao Funchal.
Na ilha, poucos adivinhavam o nome do comandante desconhecido ou a natureza da
sua missão, mas, no entanto, um importante trecho da história da exploração
tomava forma.
De acordo com o seu diário, Roald Amundsen reuniu a tripulação e
informou-a de que os seus planos passavam pela conquista do pólo Sul e não do
pólo Norte. Bem acolhido pelos seus homens, o projecto viria a concretizar-se
pouco mais de um ano depois. De certa forma, a sua viagem épica ficou ligada ao território português.
Na Madeira, entretanto, o explorador recolheu mantimentos frescos,
comprou dois cavalos que viriam a ser abatidos para alimento a bordo dos 97
cães que integravam a expedição e maravilhou-se com a abundância de fruta local
e com o empenho dos madeirenses em trocar fruta por vestuário quente. De certa
forma, a sua viagem épica ficou ligada ao território português.
Actualmente, Amundsen (e também Ernest Schackleton, o irlandês que
protagonizou uma tentativa de chegar ao pólo Sul, detendo-se a 180km do
destino) volta a estar ligado a Portugal. No início do século XXI, o Museu da
Farmácia fez duas aquisições com forte simbolismo para todos os que se inspiram
com o engenho da história da conquista da Antárctida. Na prestigiada leiloeira
Christie’s, o Museu adquiriu as farmácias portáteis que Amundsen e Schackleton
levaram para o pólo Sul.
Roald Amundsen levou este estojo de medicamentos na sua campanha de
conquista do pólo Sul em 1911.
Entre as várias substâncias, identificam-se facilmente a cocaína, a
morfina e o ópio, então usados como analgésicos na farmácia europeia. Nos elegantes estojos de pele, estão ainda guardadas as substâncias
sobre as quais ambos depositaram a sua fé. “Produtos como ópio e os seus
derivados (morfina e cocaína) eram utilizados como analgésicos e para combater
a fadiga física. A digitalina era usada para o cansaço excessivo e
insuficiência cardíaca. Eram as substâncias medicamentosas que se utilizavam na
época. Estes exploradores sofreram de queimaduras do gelo, feridas que não
cicatrizavam, bolhas, queimaduras do sol, escorbuto, fome, disenteria aguda,
asma e cegueira da neve”, diz Paula Basso, directora-adjunta do Museu.
Amundsen conquistou o pólo depois de já ter navegado na passagem de
Noroeste. Tornar-se-ia ainda o primeiro a sobrevoar o pólo Norte, entre outras
conquistas. Na cultura nórdica, existe um conto popular sobre o rapaz das
calças douradas. De família modesta, encontrou um dia um par de calças. Ao
vesti-lo, encontrou uma moeda de ouro e, daí em diante, de cada vez que punha a
mão no bolso encontrava nova moeda, pondo fim aos seus problemas. De certa
forma, essa foi a história de vida de Amundsen, o explorador que acumulou
proezas e que, um dia, na Madeira, decidiu vencer o pólo Sul (Texto de Gonçalo
Pereira e Fotografia Michael Santos.National Geographic)
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