quinta-feira, novembro 08, 2012

Opinioão: "Refundaram o Estado três vezes e querem mais!"

“Vejamos então a refundação do Estado. No meu tempo de vida, menos de 50 anos, o Estado português foi refundado três vezes. Estamos a falar de um dos mais vetustos países do mundo, com quase 900 anos (se Deus nosso senhor deixar que ele lá chegue), pelo que esta personalidade inconstante parece revelar uma contraditória imaturidade. Portugal está sempre em crise... de adolescência!
No dia 25 de abril de 1974 o Estado Novo caiu de podre. O Estado que se seguiu declarou-se em construção da sociedade socialista, nacionalizou banca, seguros, indústrias estratégicas, transportes; promoveu a reforma agrária sob o lema "a terra a quem a trabalha", abandonou as colónias, planeou a economia, deu força aos sindicatos, combateu os monopólios, lançou a alfabetização generalizada, o salário mínimo...
No dia 25 de novembro de 1975 retiraram do Governo os senhores que combatiam pelo Estado socialista e puseram lá outros que o queriam levar para a Comunidade Económica Europeia. Era um Estado dúbio, que mantinha algumas estruturas da situação anterior enquanto aniquilava outras, passo a passo. A esse Estado poderemos chamar de "Estado do socialismo na gaveta", para glosar uma frase da época de Mário Soares, que recebeu então o FMI de braços abertos, para o ajudar a refundar o regime.
Em 1986 o Estado português lá entrou na CEE e declarou-se "europeu", no alvor da época gloriosa das ideias do liberalismo económico, quando Tatcher reformou (não, não refundou) o Estado britânico, privatizando tudo o que conseguiu e Reagan, no lado norte-americano, baixava os impostos aos ricos. A União Soviética caiu, também de podre. Ouvimos falar em capitalismo popular, privatizou-se o que podia dar lucro a investidores amigos dos "partidos do arco do poder", sonhou-se que todos ficávamos ricos a jogar na bolsa e havia crédito barato. Vieram milhões de milhões em fundos estruturais, boa parte deles desaparecidos, sem sinal de rasto. Deixou-se de produzir na terra e no mar.
Vou considerar a entrada no euro uma mera reforma, na sequência lógica da entrada na CEE, e não uma refundação, embora não fosse pequeno o efeito de ter, de um dia para o outro, uma moeda que valia 200 vezes mais.
Apesar desta convulsão permanente, estes anos foram, comparados com o passado próximo dos últimos séculos, um largo período de prosperidade e paz. Dizem, agora, estar este país em pré-falência. Aflitos, dizem que é preciso refundar o Estado... Pelos vistos, quando estão de cabeça perdida, dá-lhes para a pompa. Nada aprenderam com os voluntarismos reformistas da nossa época” (texto de Pedro Tadeu no DN de Lisboa, com a devida vénia)