segunda-feira, novembro 12, 2012

Metas da dívida na Grécia impossíveis de atingir com as atuais políticas

Li aqui que “a Grécia não vai conseguir reduzir a sua dívida para um nível sustentável até 2020 com as atuais políticas, admitiu sábado o responsável do Banco Central Europeu Joerg Asmussen em entrevista a um jornal Belga. O aviso deste membro do Conselho Executivo do BCE junta-se ao que foi feito ontem por um ex-responsável do FMI que considerou que a dívida grega já não é suportável sem um novo “perdão maciço” por parte dos credores. O segundo resgate que foi concedido à Grécia em março tinha como objetivo expresso tornar a dívida do Estado helénico sustentável até 2020, devendo então, segundo os especialistas, situar-se em 116,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), mas duas eleições depois e um conjunto de atrasos nas reformas do país deitaram a perder as metas que então tinham sido definidas. “Se as políticas não forem alteradas, a dívida estará em 2020 acima dos 140 por cento do PIB, segundo estima o BCE” disse Joerg Asmussen numa entrevista ao jornal De Tijd. Atualmente, estima-se que a dívida grega equivalha a 175 por cento do PIB e espera-se que atinja os 190 por cento no próximo ano. Na próxima segunda-feira, os ministros das Finanças da Zona Euro vão reunir-se para debater quais os rumos a tomar face a esta derrapagem.A falta de acordo entre credores sobre o estado futuro das finanças gregas arrisca-se a atrasar ainda mais a próxima tranche do empréstimo a Atenas, no montante de 31,5 mil milhões de euros, o que coloca o Estado grego, uma vez mais, à beira da bancarrota. As primeiras estimativas dos inspetores a Comissão Europeia e do Banco Central Europeu indicavam que a dívida seria, pelo menos, 130 por cento do PIB em 2020, mas o FMI não concorda e considera que as previsões europeias pecam por otimismo.
Eurogrupo vai estudar alternativas
Asmussen disse que os ministros que integram o Eurogrupo vão ter de examinar um leque alargado de opções para ajudar a Grécia, “incluindo recompras voluntárias da dívida e uma baixa das taxas de juro nos atuais empréstimos” . Uma estratégia radical seria a dos 17 membros do euro, que até agora emprestaram um total de 127 mil milhões de euros à Grécia , ao abrigo de dois resgates, estarem preparados para perdoar uma parte dos empréstimos, mas Asmussen diz que essa é uma possibilidade muito remota. “O apetite para uma segunda restruturação da dívida é extremamente baixo entre os Estados membros “, disse o responsável do BCE, referindo-se ao perdão parcial da dívida que já foi feito no setor privado no início do ano. Para Asmussen, o melhor será manter a Grécia na Zona Euro e conceder ao país mais anos de financiamento, embora ainda não exista acordo sobre a forma de o fazer. “Nos próximos dias precisamos de um acordo sobre mais medidas na Grécia e ajuda adicional por parte dos outros membros da Zona Euro, para garantir a sustentabilidade da dívida “ , disse.
Ex-responsável do FMI diz que é preciso "perdão maciço" da dívida grega
Mais pessimista é o ex-responsável o FMI, Arvind Virmani, que tinha preconizado que “apenas um perdão maciço” da dívida grega poderá levar á sustentabilidade desta. “A dívida grega já não é suportável sem um perdão maciço, que se costuma designar, em termos educados, por restruturação, isto independentemente de quaisquer reformas que o governo grego possa vir a aplicar ” disse Arvind, que acaba deixar as suas funções como responsável do Fundo Monetário Internacional na Índia. “No seio da Zona Euro, os Estados mais sólidos recusaram-se a reconhecer essa realidade, mesmo depois de o FMI ter começado, talvez um pouco tardiamente a admiti-la”, disse. Arvind Virmani, que fez parte do conselho de administração do FMI entre 2009 e 2012, diz que será aos países europeus cujos estabelecimentos financeiros deixaram apressadamente a Grécia e os outros países atingidos pela crise, garantir “a maior parte” desse apagamento da dívida. “Quanto mais tarde for a decisão, maior será o custo para os credores e para a população grega”, afirma Virmani numa mensagem de email endereçada à AFP.
Fundos que a Grécia recebe servem sobretudo para pagar aos credores
“Isto está ligado ao facto de, na atual situação da Grécia, os novos fundos que são endereçados ao país servirem principalmente para reembolsar os emprestadores imprudentes (e os países que se arriscam a ser contagiados)", escreve o ex-responsável do FMI sem entrar em pormenores. Virmani critica também a instituição de que até à pouco fez parte, reprovando ao FMI o facto de ter privilegiado, “ o pensamento convencional europeu”, que preconizava planos drásticos de austeridade para a Europa, dos quais o próprio Fundo Monetário Internacional começa a duvidar. Segundo ele, a instituição negligenciou as “vozes não conformistas” que avisavam contra o impacto negativo que uma redução imediata nas despesas teria no crescimento da dívida. Recentemente, o FMI admitiu ter subestimado este impacto, e alertou apara o facto de que a austeridade pode vir a tornar-se “politica e socialmente” insustentável. “Como diz o provérbio, mas vale tarde do que nunca”, disse o economista indiano, que também disse que o FMI se arrisca “a perder a sua legitimidade” se não conceder mais peso aos países emergentes”