quinta-feira, novembro 08, 2012

Grécia: Dois suspensos, um outro detido: este país não é para jornalistas?

 
"Apresentadores de uma estação de televisão pública foram suspensos depois de criticarem o ministro do Interior grego. Muitos gregos não se recompuseram ainda do choque de verem detido Costas Vaxevanis, o jornalista que revelou os nomes de gregos com contas num banco suíço, enquanto uma investigação a estas pessoas nunca foi sequer ordenada - uma notícia que provocou grande polémica dentro e fora da Grécia. Ainda a onda de indignação por causa deste caso ia de vento em popa quando surgiram mais duas notícias que fazem temer pelo estado da liberdade de imprensa e de opinião no país. Dois jornalistas de uma popular emissão televisiva da manhã foram suspensos depois de fazerem comentários sobre o ministro do Interior, e um jornalista de uma emissora regional foi detido após ter ameaçado divulgar dados sobre acordos entre o Governo grego e a troika recolhidos pelo grupo de hackers activistas Anonymous. O caso mais falado é o dos dois apresentadores, e levou mesmo a uma paralisação de jornalistas na estação NET TV. Marelina Katsami e Costas Arvantitis discutiam, todas as manhãs, com uma chávena de café à frente, a actualidade nacional e internacional, num estilo descontraído. Na segunda-feira, entre vários assuntos, comentaram o facto de o ministro do Interior ter ameaçado processar o diário britânico The Guardian por difamação por causa de um artigo denunciando maus tratos da polícia a activistas de esquerda anti-Aurora Dourada (o grupo-partido de extrema-direita). "Não processou?", perguntou Arvanitis. "Não, porque as conclusões [de relatórios médicos] mostram que de facto é um crime", respondeu Katsami. "Não se vai demitir?", perguntou ele de novo. "Penso que não", respondeu ela. "É difícil para ele. Ele é do mesmo sítio que tu, Corfu", comentou o jornalista. "Sim, e é um homem sério", retorquiu ela. Horas depois, os dois foram informados de que no dia seguinte não iam apresentar o programa. "Fomos muito críticos de outros ministros, de todos os partidos, e já houve queixas, mas isto é novo", comentou Katsami ao Guardian. A jornalista nota que esta é uma de várias "coisas peculiares" a acontecer na emissora. "Em todo o lado, nos media, as pessoas estão a ser despedidas. Aqui estão a ser contratadas. O Governo quer pessoas que concordem com os seus pontos de vista, e querem contratar os amigos."
Greve de protesto
Os jornalistas lançaram de imediato uma acção de protesto em apoio aos colegas com uma série de greves. Ontem foi decretada uma paralisação geral dos jornalistas, a segunda greve nos media deste mês. Outro caso que teve menor repercussão foi o do jornalista Spiros Karatzaferis, que tem um programa numa televisão local, a Art TV, de Arta (ocidente da Grécia). Segundo a agência italiana ANSA e o site Greek Reporter, Karatzaferis foi detido depois de ter ameaçado divulgar informação confidencial sobre as negociações entre a troika e o Governo, que lhe teriam sido passadas pelo grupo Anonymous. Karatzaferis (irmão do líder do Laos, o partido de extrema-direita populista que esteve brevemente no Governo liderado pelo tecnocrata Lucas Papademos) foi detido por uma acusação anterior de difamação por alegações contra os juízes gregos. Mas o jornalista diz que a detenção foi muito conveniente antes de ele divulgar as informações no seu programa nesse mesmo dia. A Grécia tem, segundo os Repórteres sem Fronteiras, o segundo pior lugar da União Europeia em termos de liberdade de imprensa, a seguir à Bulgária(texto da jornalista do Publico, Maria João Guimarães, com a devida vénia)