terça-feira, outubro 17, 2023

SONDAGEM: País confia em Marcelo e nos presidentes de Junta

Os portugueses confiam pouco no Parlamento, no Governo e, ainda menos do que em qualquer outra instituição, nos partidos políticos — são 80% os que dizem que tendem a não confiar em partidos. A sondagem ICS/ISCTE confirma a perceção de que se vive um tempo de descrédito das instituições, com a política à cabeça. Embora não transversal. Quase no extremo oposto estão também instituições políticas, mas de proximidade. As Juntas de Freguesia e as Câmaras Municipais colhem a confiança de mais de metade dos inquiridos. Ou seja, confiança no presidente da Junta sim, no Governo e no Parlamento não. Mesmo numa altura em que se sucedem casos de investigação judicial ao poder local, como o mais recente processo Tutti Frutti. O Presidente da República aparece também com um nível de confiança elevado: 69%. Mas essa é uma função marcada pelo pendor de proximidade que Marcelo lhe deu. Os outros lugares altos da política, distantes da população em geral, aparecem todos mal cotados. E também aqui, como na leitura sobre o estado do país, as perceções parecem estar, se não partidarizadas, pelo menos influenciadas pela ideia que se tem sobre quem governa. O que é mais um mau sinal para o Governo de António Costa.

DA POLÍCIA AOS TRIBUNAIS

Quando comparados os simpatizantes dos dois maiores partidos, os do PS confiam mais do que os do PSD em quase todas as instituições. Se o contexto de maioria absoluta favorece que isso aconteça em relação ao Governo ou ao Parlamento, surpreende a análise sobre outras instituições. Mesmo as não políticas, como a polícia e as Forças Armadas, que aparecem destacadas como aquelas em que os portugueses mais confiam. Ainda que em alguns casos com margens curtas, os socialistas acreditam mais do que os sociais-democratas no Presidente da República (76% vs. 72%), nos partidos (22% vs. 12%), na comunicação social (43% vs. 40%) e até mesmo nos tribunais — mais de metade dos simpatizantes do PS tendem a confiar na Justiça (51%), em comparação com menos de um terço dos do PSD (31%). Um resultado que sugere uma outra desconfiança: a de uma Justiça partidarizada.

QUEM MANDA NO PAÍS?

É talvez um dos dados mais significativos: os portugueses consideram que a União Europeia (UE) é a instituição mais influente nas decisões dos Governos, acima até do Parlamento. E concordam que assim seja, pois 87% dizem que a UE tem “muita” ou “alguma” influência nas medidas dos Governos; e 88% consideram que a UE deve, de facto, ter esse grau de influência.

A conclusão é parecida quando olhamos para o Parlamento. Mesmo que dele desconfiem, os portugueses reconhecem-lhe a importância e validam-na: 85% dizem que a casa da democracia deve ter, e tem, “muita” ou “alguma” influência no país.

Se em relação à política o clima de desconfiança não é novo, o estudo traz luz sobre o momento que vivem a Igreja Católica e a comunicação social. Que não só são das que causam maior desconfiança, logo a seguir aos políticos, como são vistas como tendo mais influência na sociedade portuguesa do que a que deveriam ter.

Depois do abalo provocado pela revelação de abusos sexuais a menores, a Igreja ainda é vista como influente por mais de metade dos inquiridos (56%), acima dos que acham que essa é a medida certa (que ainda assim são 45%). Mas já faz parte do lote de instituições sobre as quais a desconfiança é maior do que a confiança. Os órgãos de comunicação tradicionais, que vivem um momento de descrédito promovido pelos próprios responsáveis políticos em países como EUA e Brasil, também ficam mal na fotografia. Há uma tendência de desconfiança e uma desproporção da perceção entre o peso que a comunicação social tem e o que deveria ter.

O ciclo fecha-se com as grandes empresas, que têm estado no olho do furacão pelas acusações de saírem a ganhar com a crise inflacionista. Na semana passada foi a vez da banca, com o Governo a ser acusado de a favorecer ao encerrar uma das séries mais rentáveis dos Certificados de Aforro. Embora a sondagem tenha sido feita entre 13 e 28 de maio, a mensagem é clara: as grandes empresas contam mais (83%) do que deviam (77%) para as decisões do Governo.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 13 e 28 de maio de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE/IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis: sexo, idade (4 grupos), instrução (3 grupos), região (5 regiões NUTII) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foram selecionados aleatoriamente 128 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 3894 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 1204 entrevistas válidas (taxa de resposta de 31%, taxa de cooperação de 42%). O trabalho de campo foi realizado por 52 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 1204 inquiridos é de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto do jornalisdta JOÃO DIOGO CORREIA e infografia de SOFIA MIGUEL ROSA)

Sem comentários: