Apesar de má avaliação ao Governo e de tendência decrescente do PS, sociais-democratas continuam a marcar passo. Montenegro sob pressão. Ninguém capitaliza, líderes políticos com má avaliação. Foi um fim de verão que entusiasmou o PSD, com a apresentação de um pacote de medidas fiscais a marcar a agenda mediática, a que se seguiu a entrada em cena de vários barões da social-democracia, casos de Cavaco Silva, Durão Barroso e Marques Mendes, este à boleia das presidenciais. Porém, ao aparente élan em torno do PSD, o país fora da bolha mediática parece reagir com indiferença. Ou mesmo rejeição.
Na mais recente
sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e para a SIC, o dado mais relevante a
reter nas intenções de voto é que o PSD cai cinco pontos (ver gráfico abaixo).
E que, não se observando transferência dessas intenções de voto para outros
partidos da mesma área política, a direita estaria em minoria (apesar dos 2% do
PAN, agora elevado à categoria de joker, que pode jogar nos dois lados do
tabuleiro).
O relatório da sondagem, com trabalho de campo feito entre 16 e 25 de setembro, deixa o habitual aviso de que o estudo surge fora de contexto eleitoral e que, por isso, não só não reflete “intenções de voto plenamente cristalizadas” como menos ainda significa uma previsão de futuros resultados eleitorais.
No entanto,
permite traçar um cenário que, juntamente com outros indicadores, não favorece
o maior partido da oposição. Aliás, pode mesmo voltar a sentar o PSD no divã à
volta da pergunta: será Luís Montenegro, líder empossado há mais de um ano, o
homem certo para levar o partido de volta ao poder? Com Pedro Passos Coelho a
admitir que está “na reserva”, a pressão sobre o seu ex-líder parlamentar sobe
ao mesmo ritmo das sondagens. Repete-se então a pergunta dos últimos meses:
Montenegro resiste às europeias?
TUDO QUASE NA
MESMA
No essencial, a
sondagem de setembro agora publicada não traz diferenças significativas em
relação à anterior, de maio/junho. Ou seja, embora haja um ligeiro sinal mais à
esquerda, com Bloco, PCP e Livre, um outro à direita, com o CDS, e um sinal
menos na Iniciativa Liberal, as subidas e descidas de um ponto percentual são
estatisticamente irrelevantes. Por isso, com mais ou menos pozinhos, está tudo
na mesma.
Pedro Magalhães,
coordenador do estudo ICS/ISCTE, é cauteloso na leitura dos resultados,
salientando que “não se sabe para onde foram os cinco pontos” do PSD e que há
tantos “sinais de estabilidade”, isto é, de resultados semelhantes, que uma
eventual repetição da sondagem poderia levar-nos aos números de junho (o PSD
aparecia com 30%).
No entanto, esta
sondagem “é suficiente para se dizer que, ao longo do último ano e meio, há uma
tendência de o PS perder apoio”, que se nota na avaliação do primeiro-ministro
(abaixo na imagem) e do Governo. O coordenador de sondagens do instituto diz que
a tendência de queda é comum para quem está há muitos anos no poder. “O tempo
não perdoa, causa erosão e cansaço.” A juntar a isso está, no caso do Governo
Costa, a inflação, com que a sociedade portuguesa “não era confrontada há anos
e anos”.
A outra conclusão
que se pode ler nas sondagens é, garante Magalhães, que essa tendência no PS
“isso não resulta num aumento do apoio ao PSD”. E esse é o dilema agora: quem
fica com os insatisfeitos da maioria absoluta?
Além da sondagem
do ICS/ISCTE para a SIC/Expresso foi também conhecida esta segunda-feira uma
sondagem da Aximage para a TVI/CNN Portugal que põe em evidência uma
aproximação entre PS e PSD. Nesta sondagem, o PS lidera com 27,6% de intenções
de voto e o PSD com 24,1%. O CH é a terceira força política com 12,8%. Nesta
sondagem, há uma recuperação do BE que passa a ser a quarta força política com
6.7% das intenções, seguido da IL com 5%, CDU com 4%. PAN com 3,4%, Livre com
2,6% e por fim o CDS com 2,4%.
OS ANTI-POLÍTICOS
Há dados da
sondagem que parecem apontar para uma certa indiferença do eleitorado face à
política e aos políticos. Por um lado, num estudo feito com recurso à simulação
do voto em urna, há um aumento de 3 pontos dos que optaram por votar nulo ou
branco. Por outro, a popularidade dos líderes cai em bloco.
Como tem
acontecido em todos os últimos estudos do ICS-ISCTE, o Presidente da República
é um caso singular, mantendo a avaliação positiva. Todos os outros não só têm
avaliações negativas (abaixo do ponto central da escala, 5 pontos) como caem em
relação a maio. Dessas quebras, há duas ou três notas a reter.
Uma delas é também
sobre Luís Montenegro. O líder do PSD tem vindo a subir em termos de
reconhecimento (85% dizem agora que sabem quem é Montenegro), mas a cair em
termos de avaliação. Não sendo definitivo, é mais um sinal de que a liderança
não tem funcionado a favor do PSD. Mesmo que haja quem lhe tenha dado um
“empurrão”, caso de Cavaco Silva em maio, que chegou a dizer que Montenegro
estava “tão ou mais preparado” que o próprio quando subiu a primeiro-ministro,
nos idos de 1985. Embora também haja quem tivesse visto nesses elogios (houve
vários) uma forma de menorização de Montenegro, que não consegue impulsionar-se
sem o amparo de uma figura tutelar da direita.
A outra nota é
sobre o reconhecimento: Rui Rocha, presidente da IL há mais de um ano e meio,
não chega a ser conhecido por metade dos inquiridos - e os que conhecem, não
parecem muito bem impressionados (2.8). É o único líder abaixo dos 50% de
reconhecimento, mesmo atrás de Nuno Melo, que não está no Parlamento nem lidera
um partido com representação parlamentar.
É um cenário
totalmente diferente do que acontece com André Ventura. O líder do Chega, ao
contrário dos homólogos dos outros partidos, é quase tão conhecido pelos
inquiridos (95%) como o Presidente da República e o primeiro-ministro (ambos
com 96%). O que não muda o facto de ser avaliado com apenas 2.9 pontos numa
escala até 10.
Ventura já não é o líder político com pior avaliação, como era há três meses, sendo agora igualado por Paulo Raimundo, do PCP, e superado por Rui Rocha, Nuno Melo e Inês Sousa Real. De notar, quanto à líder do PAN, que o acordo na Madeira para formar Governo com o PSD não tem influência no resultado, uma vez que o estudo foi feito maioritariamente antes das eleições (16-25 de setembro). Em suma, todos descem. Mesmo António Costa, o mais bem avaliado fora Marcelo e que parece aguentar o PS no topo das sondagens, ou Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco que se estreou nas sondagens com menos popularidade do que Catarina Martins há três meses.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo
trabalho de campo decorreu entre os dias 16 e 25 de setembro de 2023. Foi
coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE
IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da
sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou
superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal
Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas,
com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução
(3 grupos), Região (5 regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados
populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat,
foram selecionados aleatoriamente 94 pontos de amostragem onde foram realizadas
as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi
recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos,
em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida
recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2926 lares elegíveis
(com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 804 entrevistas
válidas (taxa de resposta de 27%, taxa de cooperação de 39%). O trabalho de
campo foi realizado por 41 entrevistadores, que receberam formação adequada às
especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por
pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença
a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou
mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do
European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma
amostra aleatória simples de 804 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de
confiança de 95%. Nos gráficos seguintes, todas as percentagens são
arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso,
texto do jornalista João Diogo Correia)
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