terça-feira, outubro 17, 2023

Sondagem Expresso/SIC: PSD em queda, PS à frente e direita sem maioria


Apesar de má avaliação ao Governo e de tendência decrescente do PS, sociais-democratas continuam a marcar passo. Montenegro sob pressão. Ninguém capitaliza, líderes políticos com má avaliação. Foi um fim de verão que entusiasmou o PSD, com a apresentação de um pacote de medidas fiscais a marcar a agenda mediática, a que se seguiu a entrada em cena de vários barões da social-democracia, casos de Cavaco Silva, Durão Barroso e Marques Mendes, este à boleia das presidenciais. Porém, ao aparente élan em torno do PSD, o país fora da bolha mediática parece reagir com indiferença. Ou mesmo rejeição.

Na mais recente sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso e para a SIC, o dado mais relevante a reter nas intenções de voto é que o PSD cai cinco pontos (ver gráfico abaixo). E que, não se observando transferência dessas intenções de voto para outros partidos da mesma área política, a direita estaria em minoria (apesar dos 2% do PAN, agora elevado à categoria de joker, que pode jogar nos dois lados do tabuleiro).

O relatório da sondagem, com trabalho de campo feito entre 16 e 25 de setembro, deixa o habitual aviso de que o estudo surge fora de contexto eleitoral e que, por isso, não só não reflete “intenções de voto plenamente cristalizadas” como menos ainda significa uma previsão de futuros resultados eleitorais.

No entanto, permite traçar um cenário que, juntamente com outros indicadores, não favorece o maior partido da oposição. Aliás, pode mesmo voltar a sentar o PSD no divã à volta da pergunta: será Luís Montenegro, líder empossado há mais de um ano, o homem certo para levar o partido de volta ao poder? Com Pedro Passos Coelho a admitir que está “na reserva”, a pressão sobre o seu ex-líder parlamentar sobe ao mesmo ritmo das sondagens. Repete-se então a pergunta dos últimos meses: Montenegro resiste às europeias?

TUDO QUASE NA MESMA

No essencial, a sondagem de setembro agora publicada não traz diferenças significativas em relação à anterior, de maio/junho. Ou seja, embora haja um ligeiro sinal mais à esquerda, com Bloco, PCP e Livre, um outro à direita, com o CDS, e um sinal menos na Iniciativa Liberal, as subidas e descidas de um ponto percentual são estatisticamente irrelevantes. Por isso, com mais ou menos pozinhos, está tudo na mesma.

Pedro Magalhães, coordenador do estudo ICS/ISCTE, é cauteloso na leitura dos resultados, salientando que “não se sabe para onde foram os cinco pontos” do PSD e que há tantos “sinais de estabilidade”, isto é, de resultados semelhantes, que uma eventual repetição da sondagem poderia levar-nos aos números de junho (o PSD aparecia com 30%).

No entanto, esta sondagem “é suficiente para se dizer que, ao longo do último ano e meio, há uma tendência de o PS perder apoio”, que se nota na avaliação do primeiro-ministro (abaixo na imagem) e do Governo. O coordenador de sondagens do instituto diz que a tendência de queda é comum para quem está há muitos anos no poder. “O tempo não perdoa, causa erosão e cansaço.” A juntar a isso está, no caso do Governo Costa, a inflação, com que a sociedade portuguesa “não era confrontada há anos e anos”.

A outra conclusão que se pode ler nas sondagens é, garante Magalhães, que essa tendência no PS “isso não resulta num aumento do apoio ao PSD”. E esse é o dilema agora: quem fica com os insatisfeitos da maioria absoluta?

Além da sondagem do ICS/ISCTE para a SIC/Expresso foi também conhecida esta segunda-feira uma sondagem da Aximage para a TVI/CNN Portugal que põe em evidência uma aproximação entre PS e PSD. Nesta sondagem, o PS lidera com 27,6% de intenções de voto e o PSD com 24,1%. O CH é a terceira força política com 12,8%. Nesta sondagem, há uma recuperação do BE que passa a ser a quarta força política com 6.7% das intenções, seguido da IL com 5%, CDU com 4%. PAN com 3,4%, Livre com 2,6% e por fim o CDS com 2,4%.

OS ANTI-POLÍTICOS

Há dados da sondagem que parecem apontar para uma certa indiferença do eleitorado face à política e aos políticos. Por um lado, num estudo feito com recurso à simulação do voto em urna, há um aumento de 3 pontos dos que optaram por votar nulo ou branco. Por outro, a popularidade dos líderes cai em bloco.

Como tem acontecido em todos os últimos estudos do ICS-ISCTE, o Presidente da República é um caso singular, mantendo a avaliação positiva. Todos os outros não só têm avaliações negativas (abaixo do ponto central da escala, 5 pontos) como caem em relação a maio. Dessas quebras, há duas ou três notas a reter.

Uma delas é também sobre Luís Montenegro. O líder do PSD tem vindo a subir em termos de reconhecimento (85% dizem agora que sabem quem é Montenegro), mas a cair em termos de avaliação. Não sendo definitivo, é mais um sinal de que a liderança não tem funcionado a favor do PSD. Mesmo que haja quem lhe tenha dado um “empurrão”, caso de Cavaco Silva em maio, que chegou a dizer que Montenegro estava “tão ou mais preparado” que o próprio quando subiu a primeiro-ministro, nos idos de 1985. Embora também haja quem tivesse visto nesses elogios (houve vários) uma forma de menorização de Montenegro, que não consegue impulsionar-se sem o amparo de uma figura tutelar da direita.

A outra nota é sobre o reconhecimento: Rui Rocha, presidente da IL há mais de um ano e meio, não chega a ser conhecido por metade dos inquiridos - e os que conhecem, não parecem muito bem impressionados (2.8). É o único líder abaixo dos 50% de reconhecimento, mesmo atrás de Nuno Melo, que não está no Parlamento nem lidera um partido com representação parlamentar.

É um cenário totalmente diferente do que acontece com André Ventura. O líder do Chega, ao contrário dos homólogos dos outros partidos, é quase tão conhecido pelos inquiridos (95%) como o Presidente da República e o primeiro-ministro (ambos com 96%). O que não muda o facto de ser avaliado com apenas 2.9 pontos numa escala até 10.

Ventura já não é o líder político com pior avaliação, como era há três meses, sendo agora igualado por Paulo Raimundo, do PCP, e superado por Rui Rocha, Nuno Melo e Inês Sousa Real. De notar, quanto à líder do PAN, que o acordo na Madeira para formar Governo com o PSD não tem influência no resultado, uma vez que o estudo foi feito maioritariamente antes das eleições (16-25 de setembro). Em suma, todos descem. Mesmo António Costa, o mais bem avaliado fora Marcelo e que parece aguentar o PS no topo das sondagens, ou Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco que se estreou nas sondagens com menos popularidade do que Catarina Martins há três meses.

FICHA TÉCNICA

Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 16 e 25 de setembro de 2023. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído pelos indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos), Região (5 regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados aleatoriamente 94 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas, de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2926 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 804 entrevistas válidas (taxa de resposta de 27%, taxa de cooperação de 39%). O trabalho de campo foi realizado por 41 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 804 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nos gráficos seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto do jornalista João Diogo Correia)

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