sexta-feira, janeiro 22, 2021

Notas presidenciais (IV)

 

Marcelo Rebelo de Sousa pareceu-me em queda nos últimos dias e algumas sondagens apontavam nessa direcção apesar de não questionarem a sua vitória

O problema é que, de repente, começaram todos a preocupar-se com a abstenção e com a vergonha de Portugal poder vir a ter um presidente da República eleito por uma margem de eleitores que o envergonha e nos cobre a todos de ridículo. Isto se se confirmarem as previsões de uma abstenção superior a 65% - e nem falo de previsões ainda mais catastrofistas quanto à participação de eleitores.

Uma eleição que não colocará em causa a legitimidade de quem for eleito, mas que evidenciará uma representatividade que poderá ser, vai ser, repetidamente questionada por todos.

Marcelo cometeu uma primeira e grave asneirada, muito à imagem pindérica que ele alimenta e à infantilidade que caracteriza a sua acção política em determinados momentos. E fê-lo porque desvalorizou as eleições e pelo convencimento de que seriam "favas contadas". Acho que se esta campanha tivesse sido normal, no terreno, e sem os condicionalismos que a ridicularizaram, MRS teria passado por muitas dificuldades.

A grande asneirada que falo tem a ver com o facto de ter prescindido de ocupar os seus tempos de antena. Afinal o que é que MRS disse ao povo eleitor, que ideias deixou, que propostas defende? Bastaram os debates nas televisões? Os mesmos debates que eu acho que marcaram o princípio da queda de MRS, porque as pessoas perceberam que uma coisa é um porreirão em Belém que gosta de selfies e que fala de tudo até fartar-nos, outra coisa é ter uma espécie de "rainha de Inglaterra" em Belém que tem a mania, errada, de que manda em tudo e em todos, quando não tem poderes para coisa nenhuma.

Eu não votei nesta personagem em 2015 e voltarei a não votar nele este ano. Nada mudou e não tenho pachorra para dar o "agrément" a este tipo de protagonismo político que assenta na vulgaridade, na construção mediática, na manipulação, na contradição, nos avanços e nos recuos, na conversa da treta por tudo e por nada, como se fosse não um Presidente mas antes um comentador televisivo com saudades dos tempos em que ocupava espaços nas televisões, sem contraditório, impondo a sua verdade absoluta e única. Todos os dias ele fala, todos os dias comenta, fala de tudo e sobre tudo, protagoniza idiotices como aquela cena dos cinco ou seis testes covid19 em dois dias, quando há portugueses que nem um teste fizeram mesmo com sintomas, etc. E nem falo do comentador das decisões do governo,  nem da frequente invasão de áreas que são reserva absoluta da governação. Mas também acho que as pessoas, apesar de fartas, gostam deste teatro, desta fanfarronice, deste faz-de-conta, deste vazio, etc.

Estas serão eleições falhadas, se a abstenção subir a mais de 60%, que elegerão um presidente eleito falhado em termos de necessária representatividade.

Segundo alguns sustentam, MRS terá sido um dos responsáveis por este esvaziamento eleitoral, graças às cumplicidades que construiu com Costa e o PS amansados...

Lembro as eleições anteriores:

2001 - Jorge Sampaio, eleito com 53,9% dos votos (abstenção de 33,7%)

2006 - Cavaco Silva, eleito com 50,5% dos votos (abstenção de 38,5%)

2011 - Cavaco Silva, eleito com 53% dos votos (abstenção de 53,5%)

2016 - Marcelo Rebelo de Sousa, eleito com 52% dos votos (abstenção de 51,3%)

Finalmente, gostaria de sublinhar que tenho a certeza, a minha certeza, que o desfecho eleitoral no próximo domingo vai trazer muitas surpresas, algumas inesperadas. Falo dos resultados eleitorais (LFM)

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