Muitos responsáveis políticos
passaram a usá-las e são já recomendadas na Áustria, Baviera e França para
conter a nova variante do vírus Sars-Cov-2 Quando usadas corretamente, as
máscaras FFP2 prometem filtrar perto de 95% das partículas do novo coronavírus
– daí se terem também tornado conhecidas pela sigla N95. Especialmente
aconselhadas, desde o início da pandemia, para profissionais de saúde, fizeram
o pleno nos últimos dias no rosto de uma série de governantes, nacionais e
estrangeiros. Da chanceler alemã, Angela Merkel, ao seu congénere austríaco,
Sebastian Kurz, aos portugueses Marcelo Rebelo de Sousa, Marta Temido ou
António Lacerda Sales – respetivamente, Presidente da República, ministra da
Saúde e secretário de estado adjunto e da Saúde, todos optaram por elas.
A opção tem uma razão de ser. Desde o início da semana que este tipo de máscaras passaram a ser obrigatórias tanto na Áustria como na região alemã da Baviera, e França seguiu pelo mesmo caminho, porque são consideradas mais seguras do que as máscaras comunitárias ou as descartáveis.
Estes países recomendaram que
se faça um “upgrade” no tipo de máscaras usadas por todos diariamente, já que
“podem não oferecer proteção suficiente contra as variantes do coronavírus mais
altamente transmissíveis”, como sublinhou o conselho consultivo de saúde
francês. “Como não temos novas armas, a única coisa que podemos fazer é
melhorar as que já temos”, disse Daniel Camus, membro do conselho, à emissora
pública francesa.
Foi no início desta semana que
a medida foi conhecida: o estado alemão da Baviera tornou obrigatório este tipo
de máscara bico de pato e com características técnicas específicas para quem
anda de transporte público ou para ir a espaços comerciais fechados – como é o
caso dos supermercados. A medida seguiu o exemplo da Áustria, cujo chanceler,
Sebastian Kurz, já o anunciara no domingo, 17, para entrar em vigor a partir de
dia 25 de janeiro.
Máscara oferece maior proteção
Trata-se da FFP2, sigla por
que é conhecida na Europa e que os americanos popularizaram como N95, e que
vários estudos internacionais há muito classificaram como a que oferece maior
proteção. Em junho, um estudo publicado na revista médica Lancet comparou as
taxas de transmissão em 16 países e conclui que “tanto as máscaras N95 como as
máscaras cirúrgicas têm uma associação mais forte com a proteção do que as
máscaras de camada única”, lê-se, no documento. Dois meses depois, uma outra
análise da Duke University, nos EUA, que comparava a eficácia dos diferentes
revestimentos faciais, também concluía que as N95 eram as mais eficazes –
seguidas das cirúrgicas, que são cerca de três vezes mais eficazes do que as de
tecido.
Ainda assim, a Organização
Mundial da Saúde manteve sempre a sua posição, sublinhando que este tipo de
material mais específico deveria ser usado em exclusivo pelos profissionais de
saúde – e voltou a repeti-lo nas recomendações do final de 2020. E o que não
faltam são especialistas com muitas dúvidas que a generalização da opção possa
surtir os efeitos desejados.
“Por um lado, o seu uso
incorreto inviabiliza que seja eficaz: as pessoas continuam a mexer na cara,
nos óculos, na própria máscara… Depois, há a questão da sua escassez – e se
houver uma corrida ao mercado, podem fazer falta a quem está na linha da
frente…”, sublinha à VISÃO Henrique Lopes, professor de Saúde Pública da
Universidade Católica e membro do conselho superior da ASPHER (Associação de
Escolas de Saúde Pública da Região Europeia), para quem a questão é simples: “o
grau de proteção que devemos usar depende da atividade que estamos a fazer.”. E,
“se é verdade que as pessoas de grande exposição e risco devem usar
respiradores de qualidade, também é verdade que devem ter informação sobre o
seu uso correto”.
Em teoria sim, mas…
Outros especialistas levantam
a mesma questão: “em teoria, a mudança para máscaras mais profissionais é
bem-vinda”, disse Jonas Schmidt-Chanasit, um virologista alemão e professor na
Universidade de Hamburgo, citado pelo The Guardian. “Mas seria imprudente
copiar simplesmente o modelo da Baviera sem considerar os possíveis inconvenientes”.
Como explicou, acabarão por se
revelar ineficazes “se não forem ajustadas corretamente. As pessoas acabarão
por respirar através do espaço entre a máscara e o rosto, em vez de o fazerem
através do filtro designado para o efeito”. Andreas Podbielski, diretor do
Instituto de Microbiologia Médica, Virologia e Higiene da Universidade de
Rostock, no nordeste da Alemanha, é mais radical: no seu entender, segundo
disse ao jornal Abendzeitung, de Munique, o novo requisito de máscara não traz
ganhos em segurança, antes muitos riscos – e não passa de “populismo e
disparate”.
No entender dos fabricantes,
há ainda outra questão a ter em conta tão ou mais preocupante, que é a da
escassez do material. “Até ao momento temos respondido às necessidades”, disse
já um porta-voz da União Federal das Associações Alemãs de farmacêuticos,
citado pelo The Guardian. “Mas fornecer máscaras destas para 80 milhões de
pessoas (a população alemã ronda os 83 milhões) é um desafio diferente. Não
gostaríamos de especular sobre o resultado…”, aludindo à possibilidade de não
haver produção em quantidade suficiente para quem está na linha da frente. É
que, se é verdade que já há alguns fornecedores alemães a especializar-se no
seu fabrico, o grosso da produção é na China e pode demorar até quatro semanas
a ser entregue.
Nada que abale as convicções
dos responsáveis da Baviera: segundo disse Markus Söder, o líder da região,
citado pelo The Washington Post: “se o vírus se tornou mais perigoso, a máscara
usada tem de ser melhor” (Visão)
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