domingo, agosto 09, 2020

Precários, os primeiros sacrificados da crise

Redução do emprego no segundo trimestre foi ditada pelos trabalhadores com contratos a termo e de prestação de serviços. A pandemia trocou as voltas à sazonalidade e, ao contrário do que é habitual, o emprego em Portugal não só não aumentou como até diminuiu no segundo trimestre deste ano. E os trabalhadores com contratos precários foram os primeiros sacrificados no embate da crise. Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a população empregada total diminuiu em 134,7 mil pessoas do primeiro para o segundo trimestre do ano. Nos trabalhadores por conta de outrem, em concreto, a redução foi de 116 mil pes­soas. Uma queda determinada pelos contratos precários. O número de trabalhadores com contratos a termo (sobretudo contratos a prazo) encolheu em 64,1 mil pessoas (menos 10%). Já a redução nos trabalhadores com outro tipo de contrato (como contratos de prestação de serviços) foi de 38,8 mil pessoas (menos 29,7%).

Quanto aos trabalhadores com contratos sem termo, isto é, permanentes, que representam 83% dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, estiveram, em grande medida, protegidos do primeiro embate da crise. Os dados do INE mostram que a redução no emprego foi muito ligeira, apenas 13,2 mil pessoas (menos 0,4%). Uma evolução indissociável do regime de lay-off simplificado, que assumiu grande peso no país (mais de 850 mil trabalhadores abrangidos, segundo os números do Governo) e tem mantido estes trabalhadores relativamente protegidos. Agora, com o fim deste regime para a generalidade das empresas, será preciso ver como evolui o emprego.
1,1 MILHÕES EM TELETRABALHO
Com o confinamento a marcar o segundo trimestre, o recurso ao teletrabalho disparou, mostram também os números do INE. Quase 1,1 milhões de pessoas empregadas em Portugal exerceram a sua profissão sempre ou quase sempre a partir de casa. Este número representou 23,1% da população empregada, ou seja, quase um em cada quatro trabalhadores.
Quase 1,1 milhões de pessoas empregadas em Portugal trabalharam a partir de casa no segundo trimestre.
Quem são estas pessoas? Uma grande fatia — 42% — residia na Área Metropolitana de Lisboa. Uma percentagem muito superior aos 27% de peso da região no emprego total do país. O segundo número a reter é que 86% trabalhavam no sector dos serviços. Mais uma vez é uma percentagem mais elevada do que o peso do sector no emprego total, que, apesar de ser maioritário, fica pelos 70%.
Terceiro aspeto, estamos a falar de profissionais muito qualificados: 70% das pessoas que trabalharam a partir de casa no segundo trimestre tinham qualificações ao nível do ensino superior. Isto quando estes trabalhadores representam apenas 30% do emprego total. Uma análise por profissões confirma esta ideia. 57% dos profissionais em teletrabalho no segundo trimestre eram “especialistas das atividades intelectuais e científicas”, mostram os dados do INE. Uma percentagem que é mais do dobro do peso que estes trabalhadores têm no total do emprego no país, que fica pelos 22%. Por fim, foram mais mulheres (54%) do que homens (46%), apesar de elas representarem um pouco menos de metade do total do emprego no país (49%) (Expresso, texto da jornalista SÓNIA M. LOURENÇO)

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