É voz
corrente - e desde há muitos anos que me avisaram disso - que quando não termos
nada de útil para apresentar fazemos conferências para ganharmos tempo e mediatismo
na comunicação social. Espero que alguma instituição, um dia, me confirme que
os que assim pensavam, e pensam, estavam e estão enganados.
Desejo
toda a sorte do mundo ao Conselho Consultivo para a Economia, criado no âmbito
da Secretaria Regional da Economia e de Rui Barreto.
Muito
sinceramente eu acho que mais do que as conferências realizadas na ALRAM o que
os madeirenses precisam é de respostas, não de uma aparente perda de tempo
habitual na discussão de assuntos urgentes, muitas vezes perdendo um tempo
infindável na discussão do sexo dos anjos, sobretudo quando a política
ultrapassa a linha vermelha que confunde tudo e que condiciona todo o debate e
inviabiliza consensos.
E
mais do que as conferências, muitos sinceramente acho que este Conselho devia
assumir, como urgente, a realização de reuniões sectoriais com representantes
de todos os sectores penalizados pela pandemia, elaborando para cada caso um
memorando do qual constem essencialmente três itens fundamentais:
- a
dimensão do impacto, em termos de facturação e em termos sociais sociais,
provocado pela pandemia nas empresas regionais;
-
quais foram os níveis de facturação desses empresas regionais nos meses da
pandemia, quando as restrições foram mais apertadas ao abrigo do confinamento;
- um
retrato total do recurso ao lay-off, e a indicação de quantos trabalhadores
continuam nesta data nessa situação;
-
quantos trabalhadores foram despedidos na RAM pelas empresas como consequência
(e durante) da pandemia;
-
quais são as principais reclamações e propostas das empresas, nos sectores mais
penalizados pela pandemia, e quais as mais prioritárias numa lógica de efectiva
retoma da actividade, já que se sabe que, devido às especificidades da nossa
economia regional - e à sua
dependência forte (ou excessiva?) do turismo e da construção - provavelmente
essa retoma não passará, no caso de muitas empresas e de muitos sectores, de
uma enorme ilusão, pois sem turismo nada será conseguido.
Basicamente
nós não sabemos qual o impacto real da pandemia no tecido empresarial regional,
mormente nas micro e pequenas empresas por um lado, e nas empresas ditas
maiores por outro, com destaque para o turismo. E quantas empresas, incluindo
hotéis, continuam encerradas, muitas delas nunca retomaram a actividade depois
de Março por falta de turistas.
Se
para cada sector afectado pela pandemia na RAM essa inventariação for feita, de
forma séria e sem manipulação, incluindo para muitas empresas que já retomaram
a sua actividade mas que o fazem a conta-gotas, muitas delas com reduções
drásticas que coloca em causa a sua sobrevivência, então sim, teremos um
Conselho Consultivo para a Economia realmente a marcar uma posição de
indiscutível utilidade aos olhos da opinião pública.
Aliás,
dificilmente se pode acreditar na credibilidade de propostas sem que seja
previamente feita uma inventariação da realidade, do choque social e económico
causado na estrutura empresarial regional pelo covid19. Ninguém vai ao médico
procurar uma cura sem identificar a doença de que padece!
Mas,
repito, julgo que o CCE nunca se deve perder em conferências de efeito quase
nulo, porque quando se junta muita gente numa sala, muitas coisas ficam por ser
ditas porque há pessoas que querem falar e não se sentem suficientemente à
vontade para isso.
Repito,
desejo os maiores sucessos ao Conselho Consultivo para a Economia, mas desejo
sobretudo que seja eficaz, que não caia no risco da banalização e da
inutilidade e que, ao invés disso, seja diferente e que mostre a sua utilidade
e a sua inovação, apontando caminhos sustentados e soluções e identificando
"sem espinhas" a realidade e as prioridades que ela suscita.
Nós
vamos precisar, hoje mais do que nunca, de pessoas com imaginação, com
capacidade de análise, construtores de consensos, com capacidade de antecipação
até de acontecimentos futuros no quadro da economia, vamos precisar, hoje mais
do que nunca, de competências, e não de mais politiquices (LFM).
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