terça-feira, agosto 11, 2020

É tempo de fazer balanços. Que setores saem mais mais beneficiados com pandemia da Covid-19?

Nesta fase, á beira dos seis meses de combate ao ‘vírus fantasma’, parece já certo que a pandemia da Covid-19 trouxe alterações sociais e económicas que deverão perdurar no tempo. Estas alterações passam pela redução da necessidade de espaço de escritórios; redução da densidade populacional nas grandes cidades; a procura de alternativas à gestão just-in-time das cadeias de produção; a descentralização das cadeias de produção globais num esforço de redução dos riscos de disrupção; um aumento da intervenção do estado na economia; o reconhecimento do valor acrescentado, criado pelas empresas de biotecnologia e farmacêuticas, para a sociedade. E para beneficiar destas mudanças, “serão necessários avultados investimentos que exigirão empresas com larga escala, o que poderá vir a exigir maior consolidação dentro dos setores e/ou a criação de parcerias público/privadas. As transformações ocorridas não trarão reflexos idênticos para a maioria dos setores, prejudicando severamente alguns, mas trazendo sérios benefícios para outros”, destacam os analistas da Syxty Degrees.

E-commerce
Sem dúvida que a aceleração do comércio online é a face mais visível das grandes alterações infligidas pelo surto de coronavírus, no sentido em que a disrupção online das cadeias de valor aumentou fortemente em muitas indústrias. A crise atual veio acelerar a utilização dos canais online para aquisição de bens e serviços, obrigando assim muitas empresas a adotarem uma postura mais rápida e agressiva, ao nível do seu investimento, para acompanharem esta transição e beneficiarem das elevadas taxas de crescimento esperadas.
Apesar do comércio online ser visto como a área de mais rápida adaptação a esta realidade, é natural que esta tendência se torne cada vez mais evidente em muitos outros setores, como a saúde, os seguros, a educação e a banca, mas também no reconhecimento do teletrabalho como forma de melhoria da produtividade.
É fácil perceber que a imposição de confinamento tenha favorecido o comércio online, durante os últimos meses, já que os consumidores ficaram restritos nas suas deslocações. Para além disso, os receios de contágio do vírus fazem com que as pessoas evitem mesmo dirigir-se para quaisquer locais de aglomeração social.
De destacar também o apoio fiscal que tem sido dado pelos governos aos trabalhadores, com o intuito de preservar os seus rendimentos, nesta fase. Os programas de “layoff”, bem como os apoios ao desemprego, têm permitido sustentar de alguma forma o rendimento disponível dos consumidores, potencialmente favorecendo a sua despesa online.
Segundo a consultora, no futuro, “mesmo que o receio de contágio do Covid-19 venha a diminuir, é natural que a tendência de teletrabalho e  de maior centralização, a partir de casa, de atividades como consumo e entretenimento se mantenha. De facto, é provável que, mesmo após o episódio do Covid-19, os consumidores venham a recear o surgimento de novos surtos virais e por isso adaptem o seu modo de vida de forma mais definitiva.
Adicionalmente e apesar dos apoios governamentais, é expectável que muitos retalhistas procedam ao encerramento de lojas físicas, o que também deverá favorecer o comércio eletrónico. A ascensão do comércio online terá de ser acompanhada pelo aumento dos pagamentos online, o que deverá beneficiar empresas como a Paypal, mas também as gestoras das redes de cartões de crédito/débito, Visa e Mastercard. De salientar também, o aumento da utilização de “carteiras digitais” e cartões com tecnologia contactless.
Saúde (Telemedicina)
A telemedicina é outra área que apresenta potencial de crescimento no atual contexto e que assenta uma vez mais no uso online, segundo a análise da Syxt Degrees. Nos EUA, desde o início do surto pandémico, a proporção de consultas médicas online disparou de 1% para cerca de 12% do total.
Esta tendência de crescimento poderá ser sustentada no tempo, já que médicos e doentes têm revelado um elevado nível de satisfação com a nova modalidade. As consultas online acabam por ter um menor custo, beneficiando também as seguradoras. Por outro lado, o ambiente regulatório foi rapidamente adaptado, permitindo a cobrança dos serviços.
A telemedicina poderá ser decisiva no caso de doenças crónicas, já que permite um maior controle, bem como uma maior integração de sistemas de monitorização remota de doentes. Empresas fabricantes deste tipo de soluções digitais estarão entre os vencedores, onde se destacam empresas cotadas em bolsa, como a CVS, a Health Catalyst ou a Unitedhealth, mas também os gigantes tecnológicos Apple, Google e Microsoft.
Na verdade, importa referir que a componente online tenderá a tornar-se transversal às mais variadas áreas. No caso do setor segurador, provavelmente assistiremos a uma passagem mais acelerada do modelo baseado em agentes, para uma modalidade de distribuição online de seguros de habitação ou seguros automóveis. Outras empresas beneficiárias de toda esta transformação tenderão a ser fabricantes de software cloud e hardware, e tecnológicas que permitam alcançar um aumento da capacidade de armazenamento de dados.
Farmacêutica
Outro setor que poderá vir a colher benefícios será o farmacêutico, já que a pandemia veio reformular o debate na área da saúde, em especial no que toca ao preço dos medicamentos. Na maioria das regiões fora dos EUA, existe alguma forma de controle de preços, permitindo, em geral, menores custos com medicamentos para os consumidores. No entanto, esse controle traduz-se em menores orçamentos disponíveis para Investigação &  Desenvolvimento (I&D) do lado das farmacêuticas.
A presente pandemia veio trazer novo equilíbrio a este debate, sendo expectável que a população em geral passe a valorizar mais a necessidade de investimento em I&D, como forma de reduzir o tempo de resposta a novos episódios pandémicos. Assim sendo, consideramos que o setor farmacêutico poderá vir a gozar de um quadro regulatório mais favorável no futuro. Já do lado das empresas biotecnológicas, o surto trouxe-lhes uma maior flexibilidade e rapidez regulatória, uma maior colaboração público/privada e maiores dotações governamentais.
Neste setor deveremos estar atentos ao desenvolvimento de novas tecnologias na produção de vacinas e de outros medicamentos para doenças infeciosas, à menor pressão da opinião pública sobre os preços praticados, à centralização dos ensaios clínicos num menor número de laboratórios como forma de acelerar a descoberta do medicamento mais adequado para cada doença e, por fim, à descentralização das cadeias de distribuição e produção para reduzir a probabilidade de disrupção na oferta.
Em suma, a pandemia deverá provocar alterações profundas na sociedade e na economia, existindo alguns setores e empresas que deverão beneficiar de forma sustentada do novo contexto.
“Será razoável que as decisões de investimento futuras tenham em conta as transformações em curso e as empresas potencialmente vencedoras no novo ambiente. Apesar de algumas destas ações já terem registado uma outperformance significativa nos últimos meses, consideramos que poderá ser aproveitada alguma volatilidade de mercado para equacionar a sua aquisição”, conclui a Sixty Degrees (Executive Digest, texto da jornalista Sónia Bexiga)

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