domingo, agosto 09, 2020

Banca: 400 mil moratórias somam 40 mil milhões

Nos primeiros seis meses do ano, os principais bancos a operar em Portugal concederam mais de 400 mil moratórias, apesar de terem visto os seus resultados caírem nesse período. A queda dos lucros dos maiores bancos nacionais a operar no mercado nacional - juntos, a Caixa Geral de Depósitos, o Santander Totta, o BCP e o BPI lucraram 540,5 milhões nos primeiros seis meses do ano, ainda assim, uma queda face a igual período do ano passado e só com o Novo Banco a contrariar a tendência ao apresentar prejuízos de 555,3 milhões - foi acompanhada por um aumento dos pedidos de moratórias.  Só o BCP que apresentou uma queda de lucros de 55,3% nos primeiros seis meses do ano para os 76 milhões de euros aprovou até junho mais de 120 mil moratórias, atingindo créditos no valor de quase nove mil milhões de euros. Na apresentação de resultados, a instituição financeira liderada por Miguel Maya revelou que foram constituídas imparidades para riscos de crédito associados à pandemia covid-19 no valor de 87,9 milhões de euros.  Logo a seguir no ranking surge o Santander Totta. Depois de ter apresentado lucros de 172,9 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, um decréscimo homólogo de 37,3% face a igual período do ano passado, contava 88 mil clientes (famílias e empresas) com moratórias no pagamento dos empréstimos, abrangendo créditos correspondentes a 22% da carteira de crédito total. Estas moratórias correspondem a um montante superior a 8,9 mil milhões de euros de crédito, segundo a instituição liderada por Castro e Almeida.

Também o BPI aprovou até ao final do semestre mais de 73 mil pedidos de moratórias no pagamento de créditos, abrangendo créditos no valor de quase 5,7 mil milhões de euros. Do total de moratórias, 31,5 mil referem-se a moratórias de crédito à habitação (no valor total de 2,6 mil milhões de euros), 23,8 mil a moratórias de crédito pessoal e financiamento automóvel (no valor total de 373 milhões de euros) e 17,9 mil moratórias de crédito a empresas (no valor de 2,7 mil milhões de euros). O banco agora liderado por João Pedro Oliveira e Costa apresentou lucros de 42,6 milhões de euros no primeiro semestre, menos 68% do que no mesmo período do ano passado, tendo registado 83 milhões de euros em imparidades. 
Banco público dá menos 
Ao contrário dos três maiores bancos privados, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) aprovou 48.326 moratórias de crédito até ao final de julho, num valor que totaliza os 6.982 milhões de euros. O presidente da Caixa justificou o menor número de moratórias do banco público por ter menos crédito ao consumo e por ter uma base de clientes com rendimentos mais estáveis (como pensionistas e funcionários públicos). 
De acordo com as contas do banco liderado por Paulo Macedo, deste total 36.604 moratórias dizem respeito a particulares e 12.222 a empresas. Já relativamente aos montantes, as moratórias concedidas aos particulares totalizam 3.063 milhões de euros e as que dizem respeito às empresas 3.919 milhões de euros. A instituição financeira apresentou, na semana passada, as suas contas referentes ao primeiro semestre com os lucros a descerem 41% para 249 milhões de euros. 
Em contraciclo
O Novo Banco registou prejuízos de 555,3 milhões no primeiro semestre, um valor que representa um agravamento face às perdas de 400 milhões que tinham sido registadas em igual período do ano passado. Ainda assim, aprovou mais de 38 mil moratórias até ao final de junho, num total de 6,8 mil milhões de euros. De acordo com a instituição financeira liderada por António Ramalho, cerca de 67% do montante foram operações atribuídas a empresas, 30% a operações de moratória do crédito à habitação e o remanescente para operações de crédito ao consumo e outras.
A instituição financeira revelou ainda que os resultados negativos são justificados por quatro fatores: perdas de 260,6 milhões de euros que resultam da avaliação independente aos fundos de reestruturação; um impacto de 138,3 milhões de euros com a imparidade adicional constituída para cobrir riscos de crédito decorrentes da pandemia covid-19; 78,7 milhões de euros relacionados com a cobertura de risco de taxa de juro de títulos de dívida pública portuguesa e 26,9 milhões de euros de reforço da provisão para reestruturação.
Nem Banco CTT escapa
Também o Banco CTT registou 2,9 mil pedidos de moratórias no primeiro semestre, com uma exposição total de 66,6 milhões de euros, representando cerca de 7% do total da carteira bruta de crédito. O anúncio foi feito depois de a instituição financeira ter apresentado prejuízos de dois milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, o que compara com lucros de nove milhões de euros registados em igual período de 2019.
Já o Montepio concedeu, até final de junho, 34 mil moratórias no pagamento de créditos. Estas correspondem a créditos no valor de três milhões de euros e, deste total, 20.500 foram atribuídas a famílias e 13.500 a empresas. Isto num semestre em que o banco liderado por Pedro Leitão terminou (o primeiro semestre) com prejuízos de 51,3 milhões de euros, o que compara com lucros de 3,6 milhões registados nos na primeira metade do ano passado. A instituição financeira registou 109,4 milhões de euros de imparidade de crédito que resultam do aumento do risco de crédito motivado pela pandemia covid-19 e pelo reforço dos níveis de imparidade.
Medidas prolongadas
As moratórias bancárias - suspensão do pagamento de prestações de empréstimos - foram alargadas até 31 de março de 2021, por decisão de Governo, em resposta à crise gerada pela pandemia. De acordo com o Banco de Portugal, esta «prorrogação aplica-se automaticamente às operações de crédito já abrangidas pela moratória, exceto se os clientes bancários comunicarem à instituição mutuante a sua oposição à extensão do prazo até ao dia 20 de setembro de 2020». 
As medidas excecionais devem ser aplicadas aos consumidores que vejam os seus rendimentos reduzidos, numa ótica de médio ou até de longo prazo. No entanto, a DECO lembra que «apesar de já na sua redação inicial afirmar que a moratória não vai representar um acréscimo de custos para o consumidor, o documento legislativo em vigor leva a que o pedido de suspensão das prestações não seja totalmente gratuito». E dá uma justificação: os bancos contabilizam os juros decorridos durante o período de suspensão do crédito e adicionam-nos ao capital em dívida. «Na prática, apesar de ficarem até 12 meses sem receberem os reembolsos dos créditos concedidos, no final do processo, os bancos irão obter um ganho extra, que vai acabar por ser superior ao que existiria, caso a carência de capital fosse a única parcela em causa. Esta última opção é possível, quer nesta moratória, quer nas definidas pelos bancos», isso significa, segundo a entidade «que o consumidor terá de suportar os juros durante o período de suspensão» (SOL, texto da jornalista Sónia Peres Pinto)

Sem comentários: