Líder socialista madeirense, que é membro do
Governo, contestado internamente por ter culpado “desgaste da governação
nacional” pela perda de votos e de um deputado na região. Começam a vir à
superfície as primeiras discussões internas no PS motivadas pelo mau resultado
do partido nas eleições legislativas de domingo passado. Faltando ainda apurar
a distribuição dos quatro eleitos pela emigração (dois pelo Círculo da Europa e
outros dois pelo Círculo de Fora da Europa), já é claro que o partido perdeu
cerca de meio milhão de votos e de 40 deputados.
O tiro de partida foi dado na Madeira - círculo onde o PS passou de três eleitos (em seis, sendo os outros três do PSD) para dois, tendo o deputado perdido passado para o Chega. O PS passou de 31,47% para 19,84%, perdendo cerca de 11 mil votos (de 40 mil desceu para 29,7 mil). O líder socialista regional, Paulo Cafôfo, colocou-se debaixo de fogo ao ter justificado a perda de votos do PS na ilha somente com o “desgaste da governação nacional”. Prosseguindo o mesmo raciocínio, assegurou que, se as eleições fossem apenas regionais - e o PS exige-as antecipadamente, devido à demissão do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque -, “os resultados seriam claramente outros”, segundo Cafôfo.
Nas redes sociais surgiram vários comentários de
figuras do PS-Madeira contestando os argumentos do líder regional. Carlos
Pereira, deputado madeirense eleito pelo Círculo de Lisboa, revelou-se
“chocado” com o resultado do PS na região e considerou que Cafôfo “não pensou
bem no que disse”, sendo as suas declarações enquadráveis num “clima de tensão
e de stress”.
No Facebook, Miguel Silva Gouveia, dirigente
socialista vereador na Câmara do Funchal, escreveu que “a atitude digna seria
reconhecer a derrota eleitoral, reconhecer que a estratégia de tentativa de
capitalizar politicamente os processos judiciais falhou redondamente,
reconhecer que foi um erro construir um projeto assente na imagem de uma única
pessoa, reconhecer a incapacidade em unir o partido e reconhecer que não estão
reunidas as condições para que o PS se afirme como uma alternativa de Governo
para a Madeira”, sendo tudo isto “assuntos que devem merecer profunda reflexão
nos próximos dias”.
Paulo Cafôfo não gostou do que ouviu e leu, e
ontem reagiu dizendo que continua “muito concentrado em mudar a região,
enquanto há outros militantes que estão preocupados unicamente em mudar a
direção do partido”.
“Eu não vou perder tempo, quando quero é mudar a
região. Não vou fazer o jogo do PSD, porque estar a falar demasiado de questões
internas, quando as pessoas não têm coragem de se apresentar a eleições e
podiam tê-lo feito, quando não têm a coragem de aparecer na campanha eleitoral
e nos eventos promovidos pelo partido, é um jogo que só beneficia o adversário
[o PSD]”, disse aos jornalistas, ontem de manhã no Funchal, depois da primeira
reunião da Comissão Política Regional do PS realizada após as legislativas
nacionais.
"Autonomia 24"
Entretanto, formou-se dentro do PS-Madeira um movimento de reflexão denominado Autonomia 24, fundado por, entre outros, o deputado à Assembleia da República Carlos Pereira. Esta nova corrente de opinião parece agregar descontentes com a liderança de Paulo Cafôfo no PS-Madeira. O PS pede eleições regionais antecipadas. A partir do próximo dia 24, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltará a ter o poder de as marcar (DN-Lisboa, texto do jornalista João Pedro Henriques)
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