Os seis maiores bancos privados portugueses – BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio – lucraram 3,3 mil milhões, mais 74,2% do que um ano antes. A rentabilidade dos capitais próprios ronda agora em média os 16%, acima do custo do capital, que oscila entre os 12% e os 14%. Em 2022 os sete maiores bancos portugueses – CGD, BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio – lucraram 2.761 milhões de euros, mas, excluindo a Caixa que ainda não apresentou as contas de 2023, os seis maiores bancos privados tiveram em 2022 lucros agregados de 1.918 milhões de euros. Ora, esse valor é 74,2% inferior ao lucro agregado dos mesmos seis bancos em 2023, que somou 3.342,9 milhões de euros.
Sem surpresas a receita da margem financeira que no conjunto dos seis bancos soma 6.965,8 milhões de euros justifica a subida dos lucros. A margem financeira, que integra o produto bancário, subiu em média (simples) 73,4%, acompanhando a evolução dos lucros. Os maiores crescimentos da margem financeira observam-se no Crédito Agrícola, no Santander Portugal e no Novobanco, aumentando 103,8%, 91% e 82%, respetivamente. A subida foi de quase 70% no BPI, de 31,4% no BCP e de 62,3% no Banco Montepio. Mas o indicador que melhor revela os ganhos da banca é a rentabilidade dos capitais próprios, que ronda agora 16%, acima do custo do capital. A última informação do BCE é de que o custo do capital estava em 13,2% no final do primeiro semestre e a estimativa da banca é que está agora entre 12 e 14%. Como as taxas de juro pouco mexeram desde o primeiro semestre, o custo do capital não se terá alterado muito face ao primeiro semestre.
Os bancos geram muitos lucros porque investiram muito capital na atividade, defendeu recentemente o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Vítor Bento, que sublinhou que “a banca, em 2022 na sua totalidade, tinha investido cerca de 36 mil milhões, mais do que qualquer outro sector individual e perto de metade do conjunto das grandes empresas não-financeiras. Logo, é natural que deva apresentar lucros mais volumosos”, num artigo do “Público”.
Vejamos a rentabilidade banco a banco em 2023. O Santander Totta lidera o ranking em rentabilidade dos capitais próprios, ao ter atingido um ROE de 23,4%. O BPI e o Novobanco apresentam a Rentabilidade dos Capitais Próprios Tangíveis (ROTE) que no BPI é de 16% e no Novobanco é de 20,4%. Mas fazendo as contas ao que seria um ROE (resultados/capitais próprios), a média anda à volta dos 17% em ambos. O BCP tem uma rentabilidade de 16%. Depois, o Crédito Agrícola tem um ROE de 13,10% e o Banco Montepio tem a rentabilidade ainda abaixo do custo do capital ao reportar um ROE de 9,3%.
Também a qualidade da carteira de crédito melhorou para a maioria dos bancos. Os dados reportados revelam que os bancos têm no geral rácios de crédito em incumprimento (NPL/NPE) abaixo dos 4%. As excepções aqui são o Novobanco que tem o rácio de NPL em 4,4% e o Grupo Crédito Agrícola que tem um rácio de crédito malparado de 6,2%.
O banco liderado por Licínio Pina revelou ontem as suas contas e diz que em termos absolutos, a carteira de NPL (Non Performing Loans) registou um acréscimo de 143,0 milhões de euros face a 31 de dezembro de 2022 para 728,9 milhões em 31 de dezembro de 2023 (+24,4% face ao saldo de final do ano).
“O aumento verificado no rácio de NPL é justificado, principalmente, pelo aumento dos créditos Unlikely-to-Pay, que representavam cerca de 65,8% do total (+3,0 p.p face a 2022). Os créditos ’90 days past due’, ou seja, com incumprimento há mais de 90 dias, apresentavam um peso de 34,2% do total de NPL, tendo reduzido o seu peso no rácio”, revela o banco.
O banco da agricultura é assim o que pior qualidade da carteira de crédito revela em 2023. O grupo CA explica que “as imparidades de crédito acumuladas, com referência ao final de dezembro de 2023, ascendiam a 389,3 milhões de euros, resultando numa cobertura de NPL porimparidades de crédito de 53,4%” e que as “imparidades de Non Performing Loans acumuladas, com referência ao final de dezembro de 2023, ascendiam a 276,9 milhões de euros, resultando num nível de cobertura de NPL por imparidades de NPL de 38%”.
Nos outros bancos privados, depois de o Crédito Agrícola e do Novobanco, surge, com um rácio de NPL de 3,4% o BCP e o Banco Montepio com 3,2%. Os bancos venderam muito malparado nos últimos anos, o que ajudou aos rácios. Não chega a carteira de crédito improdutivo, é preciso ver a política de “imparidades para crédito”. Aqui o campeão é o BPI com 98%; segue-se o Santander com 89,20%; o Novobanco com 84,30%; o BCP com 81,80%; o Banco Montepio com 73,9% e o Crédito Agrícola com uma cobertura do crédito malparado por imparidades de 53,4%.
Quando se analisa o custo do risco, ou seja as novas entradas em imparidade sobre o total da carteira de crédito, o que vemos é que o pior continua a ser o Crédito Agrícola com um rácio de 0,77%. O segundo pior é o Novobanco com 0,50%, seguido do BCP com 0,42%, o Banco Montepio com 0,40% e as estrelas aqui são o Santander com 0,17% e o BPI com 0,16%.
Os vários indicadores revelam muito do perfil de cada banco. Os lucros revelam, em regra, a dimensão. Mas neste caso o mais lucrativo não é o maior. O Santander Totta é o campeão dos lucros em Portugal na banca privada. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida registou lucros de 894,6 milhões, seguido do maior banco privado, o BCP. O banco liderado por Miguel Maya registou lucros consolidados de 856 milhões em 2023, o que compara com os lucros em 2022 que foram de 197,4 milhões de euros (reexpresso). Pelo que a subida anual é de 333,7%. Mas em Portugal o resultado líquido do BCP fixou-se em 724,9 milhões de euros. O que em bom rigor é o valor comparável com o Santander Totta, que só está em Portugal.
A medalha de bronze do pódio (o terceiro lugar) é do Novobanco que teve lucros de 743,1 milhões. Mas também aqui é preciso ressalvar que ao contrário do BCP a atividade do Novobanco é apenas doméstica.
O quarto maior do ranking é o BPI com 524 milhões de euros, o que representa uma subida de 42%. Mas na atividade apenas doméstica (sem bancos em Angola e Moçambique) o lucro foi de 444 milhões (+86%).
Temos depois o Crédito Agrícola com lucros de 296,8 milhões, a subirem 238,1% face a 2022. Por fim o Banco Montepio que registou lucros de 28,4 milhões de euros. Mas aqui a venda do Finibanco Angola no primeiro semestre de 2023, tirou 116 milhões aos lucros do banco liderado por Pedro Leitão, que sem isso teria o melhor lucro de sempre. O lucro acabou por cair 16% face a 2022. O resultado recorrente foi de 144,5 milhões de euros, valor que mais do que quadruplica o valor obtido no ano anterior. No produto bancário o Santander Totta é o banco número dois depois do gigante BCP. Superando mesmo nas receitas core (margem e comissões) o Novobanco.
Num ano de inflação a gestão dos custos foi determinante para a eficiência e mais uma vez o Santander Totta liderou com um rácio de cost-to-income de 26,60%. O BCP é o segundo melhor com 32%; segue-se o Novobanco com 33%; o BPI com 38,8%; o Crédito Agrícola com 41,80%; e o Montepio com 50,8%.
Os custos operacionais subiram em todos os bancos (fruto da inflação). Mas o BPI destacou-se com um agravamento de 13,00% dos custos. Quem conseguiu conter mais a subida dos custos foi o Banco Montepio com uma subida de apenas 3,8%.
No balanço a tendência foi de contração do crédito. O Montepio regista uma queda de 2,8%; o BCP uma redução de 1,6%. Mas o Santander e o BPI surpreenderam ao subirem a carteira de crédito (bruto) 3% cada. Os depósitos subiram 2,7% no BCP, mas foi a exceção do grupo. O Santander viu os depósitos caírem 8,5%. No BPI os depósitos caíram 4%; no Crédito Agrícola e Montepio caíram 1,9% e no Novobanco 1%.
Os bancos tiveram um “tremendo aumento” dos lucros em 2023, beneficiando da subida das taxas de juro, mas espera-se uma quebra em 2024 face ao ‘pico’ do ano anterior. A demonstrar isso mesmo está o facto de o BCP, por exemplo, ter registado um resultado anual histórico de 856 milhões de euros graças à margem financeira, mas o resultado do quarto trimestre do maior banco privado português ter iniciado a descida ao cair 16% no quarto trimestre, o que é um sinal de que a época dourada acabou em setembro (Jornal Economico, texto da jornalista Maria Teixeira Alves)
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