Acho que se há balanço eleitoral - mesmo sem termos os resultados eleitorais finais dos dois círculos da emigração, e que eu antevejo possam atribuir 2 mandatos ao PS e 2 mandatos à AD (eventualmente o Chega até pode "roubar" 1 deles na Europa), a única conclusão possível e verdadeira é simples: sem os 3 deputados eleitos na Madeira pela coligação PSD-CDS, Luis Montenegro e a sua AD teriam sido derrotados nas eleições legislativas do passado dia 10 de Março. E isto é demasiado mau para uma coligação que pelos vistos, foi derrotada em muitos distritos continentais e que nem sequer conseguiu aproveitar os falhanços socialistas a seu favor. Inclusivamente no Algarve acabou por ser a terceira força política, depois do Chega e do PS. Ponto final! Perante esta evidência, elaborei um conjunto de constatações, acompanhadas de alguns quadros explicativos, que procuram fazer o balanço eleitoral de modo que todos entendam.
- Considerando os resultados do território
nacional - sem, os dois círculos da emigração - o PS é o mais votado com 1,759
milhões de votos, 77 deputados, contra 1,757 milhões de votos da AD com
76 deputados. O que salva a AD, mesmo desconhecendo os resultados dos dois
círculos da emigração que elegem 4 deputados, são os 3 deputados que o PSD-CDS
elegeram na Madeira
Vamos a números:
- Total de deputados, 230
- Maioria absoluta (metade mais um), 116 deputados
- Deputados do centro-direita (AD e IL), 87
- Deputados da direita radical (Chega), 48
- Deputados do centro-direita mais direita radical, 135 (maioria
absouta)
- Deputados do PS, 77
- Deputados do PS mais esquerda, incluindo a esquerda radical, 91.
- Os fenómenos político-eleitorais PRD e
CHEGA, diferentes, apesar de ambos não terem identidade ideológica
clara mas dependerem apenas de uma pessoa, Ramalho Eanes e André Ventura
Tal como o Chega, que diz combater o sistema o PRD combatia alguns aspectos do sistema e particularmente do sistema partidário, com propostas de alteração constitucional e do sistema eleitoral. A principal vítima do PRD foi o PS, a principal vítima do Chega é o PSD.
- O PCP foi um dos sacrificados nestas eleições. Os comunistas que em 2002
tinham 14 deputados, que manteve em 2005, aumentou para 15 em 2009, para 16 em
2011 e para 17 em 2015, descendo para 12 em 2019, descendo ainda mais em 2022
para 6 deputados e agora elegendo apenas 4 deputados em 2024.
-Marcelo Rebelo de Sousa acaba por ser o principal responsável
por esta crise de governação e ninguém sabe o que vai acontecer com os Açores e
a posição do Chega perante um programa do governo de coligação que não quer
assinar acordos com a extrema-direita. Se isso acontecer, MRS vai arriscar
dissolver mais um parlamento e provocar mais uma crise de governação neste caso
na Madeira, caso tenhamos dois impasses em Lisboa e Açores que podem ditar
novas eleições?
- Aceito que tivemos uma surpresa do Chega na
RAM, graças a um voto de protesto tal como a nível nacional. Não caio da
idiotice de achar que os eleitores do Chega são a extrema-direita. Nada
disso. São eleitores influenciados por um discurso populista com muitas
mentiras, especulação, manipulação, com
as redes sociais a desempenharem um importante papel. Suspeito - mas
esse trabalho teria que ser feito com base nos resultados mais pormenorizados -
que os jovens votaram mais e muitos deles no Chega e que muitos pensionistas,
que nos últimos anos terão estado com o PS - depois de terem fugido do PSD nos
tempos de Passos Coelho e devido às patifarias do seu governo - fizeram o
mesmo, tal como muitos membros de algumas classes profissionais desiludidas com
o poder socialista, caso dos professores, profissionais da saúde, membros de
corporações policiais, etc.
- O desfecho eleitoral na Madeira mostra que, apesar
do PSD regional ter obtido a pior percentagem de sempre, a coligação PSD-CDS acabou
por se aguentar, na convicção de que eventuais votos perdidos na chamada flutuação
eleitoral ao centro (falo de perdas versus ganhos) foram compensados, pela
leitura que faço, pela mobilização de eleitores que se mantiveram na abstenção
nos últimos tempos e que porventura pretenderam demonstrar, tal como previ, que
o PSD-Madeira, apesar de todas as vicissitudes e de todos os problemas envolvendo
a justiça e algumas das suas figuras destacadas, não era um partido derrotado porque
os eleitores várias vezes mostraram que não confundem a árvore com a floresta.
- Fiz uma projecção - manipulação a que sou
contrário, na medida em que são eleições diferentes, há influencias diferentes
sobre os eleitores, há realidades políticas e partidárias que influenciam as
opções dos eleitores de forma diferente, etc - dos resultados das legislativas
2024 na Madeira no caso de se tratar da eleição de deputados regionais. De
acordo com o método de Hondt, o PSD-CDS teria 19 deputados (23 actualmente)
contra 10 do PS (11), 9 do Chega (4), 5 do JPP (os mesmos), 2 da Iniciativa
Liberal (1), 1 do Bloco (igual) e 1 do PAN (igual). O PCP (1 deputado) ficaria
fora do parlamento regional.
- Os resultados eleitorais no Pais
revelaram-se um desastre, para muitas das sondagens, para uma espécie de
"sondagens" diárias que de sérias pouco ou nada têm, para muitos
comentadores, alguns deles transformados em adivinhos de pacotilha e para
discursos de circunstância, apenas para consumo mediático e preservação
de imagens pessoais, relativamente ao Chega, desvalorizado nos écrans em
contraste com os sinais dados pelas sondagens mais alargadas, cenário que a
noite eleitoral veio confirmar de forma surpreendente. O Chega teve mais de 1,1
milhões de votos e elegeu quase meia centena de deputados! Com este cenário e
com a recusa do PSD em negociar acordos com o partido de André Ventura, a
governabilidade do pais fica em causa,
até porque a esquerda fica apenas com cerca de 90 deputados.
- Parece-me obvio que o cenário de novas eleições no
horizonte é uma possibilidade a considerar. Se admito que a AD minoritária
possa ver passar o programa der governo - a geringonça em 2015 votou contra
porque havia uma alternativa maioritária, o que não é o caso em 2024,
mantendo-se todas as prerrogativas nesta data existentes - já duvido muito que
na questão orçamental e das leis reformistas mais ambiciosas haja entendimentos
alargados. Ou seja, a AD, dependendo de terceiros, vai apresentar não o seu orçamento,
mas o orçamento que os outros exijam, uma espécie de "queijo Limiano"
alargado e com maior visibilidade. Um governo assim não governa coisa nenhuma,
será sempre um governo fraco, de absoluta parvoíce e refém de terceiros.
- Aceito que tenha havido nos resultados da Madeira e
nos Açores alguma influência da política nacional e da dinâmica de algumas das
forças concorrentes no desfecho dos resultados e nos mandatos. No caso dos
Açores fica-me a dúvida: afinal os açorianos estão-se borrifando para a
possibilidade do Chega deitar abaixo um governo da AD e provocar novas eleições
regionais, cenário perfeitamente plausível? É que para além do deputado eleito
obteve o maior resultado eleitoral de sempre em linha com o que aconteceu a
nível nacional. Já na Madeira, constata-se que o problema do PS-M, em meu
entender, tem a ver com a falta de alguma renovação de figuras gastas aos olhos
das pessoas, e que se encontram há demasiado tempo na política, à falta de uma
alternativa efectivamente estruturada e construída de baixo para cima, e com
uma liderança que não percebe que não basta os sorrisos, forçados ou não, para
conquistar votos. E finalmente, faltam quadros para uma aposta politicamente
mais ambiciosa.
- No caso do JPP não se trata de morrer ou não na
praia - já que o objectivo era a eleição de um deputado o que significa também
uma derrota, embora o desfecho fosse previsível. A JPP, sem o Funchal tinha um
deputado eleito à custa do PS. O Funchal acabou por tramar o pequeno partido de
Santa Cruz. À JPP faltou, entre outros itens, o impulso que uma dinâmica
nacional, com presença mediática diária constante, sempre ajuda, tal como
aconteceu, por exemplo ao Chega que acabou elegendo um deputado com relativa
folga. A JPP até cresceu, entre 2022 e 2024, mais 5.623 votos, mas não chegou
para o seu grande objectivo, o que não esconde uma
derrota eleitoral por causa disso. Ficou a cerca de 560 votos o quem, no caso
daquele partido, é muito voto.
- Falemos da abstenção que anima e alimenta tanta
discussão: em 2024 não votaram 3.131.190 eleitores no território nacional, o
que corresponde a 33,8% de abstencionistas. Em 2022 não votaram 3.908.685
eleitores, 42% dos inscritos. No caso da Madeira a abstenção passou de 129.320
eleitores, 50,4% dos inscritos em 2022 para 104.719 eleitores, 41,2% em 2024.
Votaram, entre 2022 e 2024, mais 22.672 eleitores. Estes dados podem ter muitas
interpretações mas ao certo ninguém sabe esta massa eleitoral que resolveu ir
às urnas este ano como votou e quem penalizou.
- O PS na Madeira foi o grande derrotado na Região, em
linha aliás com o que aconteceu nas regionais do ano passado: perdeu 1 deputado
e perdeu cerca de 10.100 votos. O Chega aumentou 18.569 votos, a coligação
PSD-CDS manteve os mesmos 3 deputados e até aumentou mais 2.358 votos. Deixo a
análise mais "profunda" aos especialistas no assunto e aos adivinhos.
Uma coisa é certa, projectar estes resultados e estas eleições para um eventual
cenário de eleições regionais, como fez Paulo Cafofo para furtar-se ao incómodo
do desaire, é possível, obviamente, mas errado, desonesto e reprovável, dado
que se tratam de eleições diferentes com objectivos e motivações diferentes e
com uma discussão mediática mais reduzida e mais circunscrita ao espaço
geográfico regional, com tudo o que se positivo e/ou negativo isso comporta.
- Gostem ou não, é evidente que, terminado o
apuramento no território nacional o PS é o mais votado com 1.759.937 votos de
votos e 77 deputados contra 1.757.879 votos e 76 deputados da AD. Só juntando
os 3 deputados da coligação PSD-CDS na Madeira dá uma vitória a Montenegro - 79
deputados contra 77 do PS - e mais votos, 1 810 871 votos, uma
diferença de apenas mais 50.934 votos! Paradoxalmente - para Montenegro e o PSD
nacional - são os votos e os deputados do PSD-CDS na Madeira que podem safar
Montenegro que logo na noite eleitoral mentiu ao reclamar um triunfo eleitoral
no território nacional que não aconteceu, salvo juntando os resultados na
Madeira, algo que o líder do PSD nacional nunca referiu como tal. Uma
indelicadeza
- Montenegro andou a envolver "esqueletos"
políticos do passado na campanha eleitoral da AD que revelaram, não ter trazido
mais-valias nenhumas, como os resultados o demonstram. Eu até acho que
desenterraram fantasmas de um passado recente. O Chega até foi o mais votado na
terra de Cavaco Silva!!! Está tudo dito! Quando é que percebem nas sedes
partidárias que uma coisa é um político ser comentador na televisão, outra
coisa é ter empatia com o eleitorado?!
- Vou ser muito claro: sempre afirmei que os
resultados de 10 de Março eram fundamentais para o PSD-Madeira e que essa prova
de vida era o maior desafio. Confesso que o PSD (CDS) superou, não só manteve
os 3 mandatos como subiu na votação. Ou seja, este desfecho – porque apenas
existiam duas possibilidades antes das eleições – obriga a que se repense muita
coisa, incluindo no plano da disputa interna no PSD-M. Fico satisfeito porque
os eleitores mostraram, como sempre antecipei, que não confundem a floresta com
duas ou três árvores. A coligação PSD-CDS na Madeira é quem vai salvar a AD de
Montenegro…
- Destaco também o PAN que, apesar da diferença entre eleições, alcançou nestas legislativas a maior votação - total de votos obtidos nas urnas - de sempre, o que demonstra que o tal "negócio" com o PSD, depois das regionais de 2023, não foi mal avaliado. E os contestatários locais da liderança nacional do PAN e da estrutura regional do partido acabaram também por ser derrotados nesta noite eleitoral. O PAN totalizou em 2024 3.127 votos, 2,1% mas verdade seja dita que fez uma boa campanha, diariamente na rua. Marco Gonçalves não é propriamente um maçarico da política... Nas regionais o PAN tinha alcançado 3.046 votos, 2,3% o que demonstra que o partido conseguiu segurar o seu eleitorado.
- Já se percebeu que Paulo
Cafofo não vai ter vida fácil. Voltou ao PS-M julgando-se "salvador"
do partido depois da derrota copiosa nas regionais de 2023, enganou-se quando
pensou que o cargo no governo de Costa lhe rendia votos, sofreu mais uma
derrota eleitoral com menos votos e menos um deputado, parece-me que conseguiu
unir a oposição interna no PS-Madeira que começa a querer a sua cabeça e a
exigir a demissão por não acreditar no seu sucesso num eventual cenário de
eleições regionais que ainda estou para ver. Cafofo vai ter uma vida difícil. E
sem os resultados finais no Funchal chegou a ter como perdido um segundo
mandato a favor da JPP cenário que sei ter causado uma tremenda ansiedade na
noite eleitoral no quartel-general dos socialistas locais.
- Com estes resultados na
Madeira e com o cenário de ingovernabilidade nacional devido a um clamoroso
erro do comentador Marcelo Rebelo de Sousa eleito Presidente, e ainda com um
quadro de potencial instabilidade política nos Açores, onde a antecipação de
novas eleições regionais não está fora de enquadramento, ainda estou para ver
se MRS, repito, com estes resultados da coligação na RAM associados a uma
vitória de Albuquerque na corrida interna no PSD-M, vai arriscar o cenário de
eleições antecipadas, sob pena de ficar nos braços com outro quadro de potencial
ingovernabilidade. MRS pode ser acusado, por muito que diga e faça - e faz e
diz demais - como o principal "padrinho" do crescimento da
extrema-direita no pais, o que para um comentador como ele é pouco dignificante,
mesmo que se perceba que o homem em final de mandato, se esteja a borrifar para
o assunto. Veremos o que vai acontecer depois de 24 de Março mas confesso que
tenho muitas dúvidas quanto à obrigatoriedade da solução de eleições
antecipadas que alguns vaticinam como inevitável. E não sei mesmo se o PS, ao
contrário do Chega - obviamente - estará tão entusiasticamente a manter agora a
mesma posição quanto à exigência de antecipadas. Não se pode confundir política
e eleições com justiça e muito menos nos podemos substituir à justiça. Ser
arguido não é impeditivo de nada e que eu saiba MA até esta data não esta
formalmente acusado de nada, nem sequer foi ouvido pelas autoridades judiciais
apesar de o ter solicitado. E acresce que Cafofo e o PS-M não podem assobiar
para o lado porque é sabido que estão pendentes no MP vários processos em
investigação no MP que envolvem eleitos do PS na Madeira em diferentes
patamares políticos.
- Nas regionais de 2023 o
ADN obteve na Madeira 617 votos, 0,5%. Nas legislativas nacionais de 2022,
alcançou na Madeira 550 votos, 0,4%. Em
2024, nas mesmas eleições legislativas, ficou-se pelos 2.348 votos, 1,6%. No
plano nacional, o ADN obteve em 2022 um total de 10.001 votos, 0,2% que
passaram, em 2024, para 100.044 votos e 1,6%. Obviamente que ninguém acredita
nisto. A polémica que envolveu a AD e o ADN, devido à potencial e confirmada
confusão de siglas, obviamente que assentou na realidade mas a AD devia ter
pensado - antes de formalizar a coligação - que o AND já existia muito antes
desse acordo entre Montenegro e Nuno Melo. Por isso, independentemente de
acreditarmos, e eu tenho a certeza, que o ADN "roubou" muitos votos à
AD, nem Montenegro nem Melo se podem queixar disso. Mudassem a designação da
coligação que nem as eleições conseguiu vencer no território nacional (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira de 15 de Março de 2024)
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