sábado, março 16, 2024

Balanço eleitoral simples de perceber: Sem os 3 deputados da Madeira, Montenegro e a sua AD teriam sido derrotados!

Acho que se há balanço eleitoral - mesmo sem termos os resultados eleitorais finais dos dois círculos da emigração, e que eu antevejo possam atribuir 2 mandatos ao PS e 2 mandatos à AD (eventualmente o Chega até pode "roubar" 1 deles na Europa), a única conclusão possível e verdadeira é simples: sem os 3 deputados eleitos na Madeira pela coligação PSD-CDS, Luis Montenegro e a sua AD teriam sido derrotados nas eleições legislativas do passado dia 10 de Março. E isto é demasiado mau para uma coligação que pelos vistos, foi derrotada em muitos distritos continentais e que nem sequer conseguiu aproveitar os falhanços socialistas a seu favor. Inclusivamente no Algarve acabou por ser a terceira força política, depois do Chega e do PS. Ponto final! Perante esta evidência, elaborei um conjunto de constatações, acompanhadas de alguns quadros explicativos, que procuram fazer o balanço eleitoral de modo que todos entendam.

- Considerando os resultados do território nacional - sem, os dois círculos da emigração - o PS é o mais votado com 1,759 milhões de votos, 77 deputados, contra 1,757 milhões de votos da AD com 76 deputados. O que salva a AD, mesmo desconhecendo os resultados dos dois círculos da emigração que elegem 4 deputados, são os 3 deputados que o PSD-CDS elegeram na Madeira

Vamos a números:

- Total de deputados, 230

- Maioria absoluta (metade mais um), 116 deputados

- Deputados do centro-direita (AD e IL), 87

- Deputados da direita radical (Chega), 48

- Deputados do centro-direita mais direita radical, 135 (maioria absouta)

- Deputados do PS, 77

- Deputados do PS mais esquerda, incluindo a esquerda radical, 91.

- Os fenómenos político-eleitorais PRD e CHEGA, diferentes, apesar de ambos não terem identidade ideológica clara mas dependerem apenas de uma pessoa, Ramalho Eanes e André Ventura

Tal como o Chega, que diz combater o sistema o PRD combatia alguns aspectos do sistema e particularmente do sistema partidário, com propostas de alteração constitucional e do sistema eleitoral. A principal vítima do PRD foi o PS, a principal vítima do Chega é o PSD.

- O PCP foi um dos sacrificados nestas eleições. Os comunistas que em 2002 tinham 14 deputados, que manteve em 2005, aumentou para 15 em 2009, para 16 em 2011 e para 17 em 2015, descendo para 12 em 2019, descendo ainda mais em 2022 para 6 deputados e agora elegendo apenas 4 deputados em 2024.

-Marcelo Rebelo de Sousa acaba por ser o principal responsável por esta crise de governação e ninguém sabe o que vai acontecer com os Açores e a posição do Chega perante um programa do governo de coligação que não quer assinar acordos com a extrema-direita. Se isso acontecer, MRS vai arriscar dissolver mais um parlamento e provocar mais uma crise de governação neste caso na Madeira, caso tenhamos dois impasses em Lisboa e Açores que podem ditar novas eleições?

- Aceito que tivemos uma surpresa do Chega na RAM, graças a um voto de protesto tal como a nível nacional. Não caio da idiotice de achar que os eleitores do Chega são a extrema-direita. Nada disso. São eleitores influenciados por um discurso populista com muitas mentiras, especulação, manipulação, com  as redes sociais a desempenharem um importante papel. Suspeito - mas esse trabalho teria que ser feito com base nos resultados mais pormenorizados - que os jovens votaram mais e muitos deles no Chega e que muitos pensionistas, que nos últimos anos terão estado com o PS - depois de terem fugido do PSD nos tempos de Passos Coelho e devido às patifarias do seu governo - fizeram o mesmo, tal como muitos membros de algumas classes profissionais desiludidas com o poder socialista, caso dos professores, profissionais da saúde, membros de corporações policiais, etc.

- O desfecho eleitoral na Madeira mostra que, apesar do PSD regional ter obtido a pior percentagem de sempre, a coligação PSD-CDS acabou por se aguentar, na convicção de que eventuais votos perdidos na chamada flutuação eleitoral ao centro (falo de perdas versus ganhos) foram compensados, pela leitura que faço, pela mobilização de eleitores que se mantiveram na abstenção nos últimos tempos e que porventura pretenderam demonstrar, tal como previ, que o PSD-Madeira, apesar de todas as vicissitudes e de todos os problemas envolvendo a justiça e algumas das suas figuras destacadas, não era um partido derrotado porque os eleitores várias vezes mostraram que não confundem a árvore com a floresta.

- Fiz uma projecção - manipulação a que sou contrário, na medida em que são eleições diferentes, há influencias diferentes sobre os eleitores, há realidades políticas e partidárias que influenciam as opções dos eleitores de forma diferente, etc - dos resultados das legislativas 2024 na Madeira no caso de se tratar da eleição de deputados regionais. De acordo com o método de Hondt, o PSD-CDS teria 19 deputados (23 actualmente) contra 10 do PS (11), 9 do Chega (4), 5 do JPP (os mesmos), 2 da Iniciativa Liberal (1), 1 do Bloco (igual) e 1 do PAN (igual). O PCP (1 deputado) ficaria fora do parlamento regional.

- Os resultados eleitorais no Pais revelaram-se um desastre, para muitas das sondagens, para uma espécie de "sondagens" diárias que de sérias pouco ou nada têm, para muitos comentadores, alguns deles transformados em adivinhos de pacotilha e para discursos de circunstância, apenas para consumo mediático e preservação de imagens pessoais, relativamente ao Chega, desvalorizado nos écrans em contraste com os sinais dados pelas sondagens mais alargadas, cenário que a noite eleitoral veio confirmar de forma surpreendente. O Chega teve mais de 1,1 milhões de votos e elegeu quase meia centena de deputados! Com este cenário e com a recusa do PSD em negociar acordos com o partido de André Ventura, a governabilidade do  pais fica em causa, até porque a esquerda fica apenas com cerca de 90 deputados.

- Parece-me obvio que o cenário de novas eleições no horizonte é uma possibilidade a considerar. Se admito que a AD minoritária possa ver passar o programa der governo - a geringonça em 2015 votou contra porque havia uma alternativa maioritária, o que não é o caso em 2024, mantendo-se todas as prerrogativas nesta data existentes - já duvido muito que na questão orçamental e das leis reformistas mais ambiciosas haja entendimentos alargados. Ou seja, a AD, dependendo de terceiros, vai apresentar não o seu orçamento, mas o orçamento que os outros exijam, uma espécie de "queijo Limiano" alargado e com maior visibilidade. Um governo assim não governa coisa nenhuma, será sempre um governo fraco, de absoluta parvoíce e refém de terceiros.

- Aceito que tenha havido nos resultados da Madeira e nos Açores alguma influência da política nacional e da dinâmica de algumas das forças concorrentes no desfecho dos resultados e nos mandatos. No caso dos Açores fica-me a dúvida: afinal os açorianos estão-se borrifando para a possibilidade do Chega deitar abaixo um governo da AD e provocar novas eleições regionais, cenário perfeitamente plausível? É que para além do deputado eleito obteve o maior resultado eleitoral de sempre em linha com o que aconteceu a nível nacional. Já na Madeira, constata-se que o problema do PS-M, em meu entender, tem a ver com a falta de alguma renovação de figuras gastas aos olhos das pessoas, e que se encontram há demasiado tempo na política, à falta de uma alternativa efectivamente estruturada e construída de baixo para cima, e com uma liderança que não percebe que não basta os sorrisos, forçados ou não, para conquistar votos. E finalmente, faltam quadros para uma aposta politicamente mais ambiciosa.

- No caso do JPP não se trata de morrer ou não na praia - já que o objectivo era a eleição de um deputado o que significa também uma derrota, embora o desfecho fosse previsível. A JPP, sem o Funchal tinha um deputado eleito à custa do PS. O Funchal acabou por tramar o pequeno partido de Santa Cruz. À JPP faltou, entre outros itens, o impulso que uma dinâmica nacional, com presença mediática diária constante, sempre ajuda, tal como aconteceu, por exemplo ao Chega que acabou elegendo um deputado com relativa folga. A JPP até cresceu, entre 2022 e 2024, mais 5.623 votos, mas não chegou para o seu grande objectivo, o que não esconde uma derrota eleitoral por causa disso. Ficou a cerca de 560 votos o quem, no caso daquele partido, é muito voto.

- Falemos da abstenção que anima e alimenta tanta discussão: em 2024 não votaram 3.131.190 eleitores no território nacional, o que corresponde a 33,8% de abstencionistas. Em 2022 não votaram 3.908.685 eleitores, 42% dos inscritos. No caso da Madeira a abstenção passou de 129.320 eleitores, 50,4% dos inscritos em 2022 para 104.719 eleitores, 41,2% em 2024. Votaram, entre 2022 e 2024, mais 22.672 eleitores. Estes dados podem ter muitas interpretações mas ao certo ninguém sabe esta massa eleitoral que resolveu ir às urnas este ano como votou e quem penalizou.

- O PS na Madeira foi o grande derrotado na Região, em linha aliás com o que aconteceu nas regionais do ano passado: perdeu 1 deputado e perdeu cerca de 10.100 votos. O Chega aumentou 18.569 votos, a coligação PSD-CDS manteve os mesmos 3 deputados e até aumentou mais 2.358 votos. Deixo a análise mais "profunda" aos especialistas no assunto e aos adivinhos. Uma coisa é certa, projectar estes resultados e estas eleições para um eventual cenário de eleições regionais, como fez Paulo Cafofo para furtar-se ao incómodo do desaire, é possível, obviamente, mas errado, desonesto e reprovável, dado que se tratam de eleições diferentes com objectivos e motivações diferentes e com uma discussão mediática mais reduzida e mais circunscrita ao espaço geográfico regional, com tudo o que se positivo e/ou negativo isso comporta.

- Gostem ou não, é evidente que, terminado o apuramento no território nacional o PS é o mais votado com 1.759.937 votos de votos e 77 deputados contra 1.757.879 votos e 76 deputados da AD. Só juntando os 3 deputados da coligação PSD-CDS na Madeira dá uma vitória a Montenegro - 79 deputados contra 77 do PS - e mais votos, 1 810 871 votos, uma diferença de apenas mais 50.934 votos! Paradoxalmente - para Montenegro e o PSD nacional - são os votos e os deputados do PSD-CDS na Madeira que podem safar Montenegro que logo na noite eleitoral mentiu ao reclamar um triunfo eleitoral no território nacional que não aconteceu, salvo juntando os resultados na Madeira, algo que o líder do PSD nacional nunca referiu como tal. Uma indelicadeza

- Montenegro andou a envolver "esqueletos" políticos do passado na campanha eleitoral da AD que revelaram, não ter trazido mais-valias nenhumas, como os resultados o demonstram. Eu até acho que desenterraram fantasmas de um passado recente. O Chega até foi o mais votado na terra de Cavaco Silva!!! Está tudo dito! Quando é que percebem nas sedes partidárias que uma coisa é um político ser comentador na televisão, outra coisa é ter empatia com  o eleitorado?!

- Vou ser muito claro: sempre afirmei que os resultados de 10 de Março eram fundamentais para o PSD-Madeira e que essa prova de vida era o maior desafio. Confesso que o PSD (CDS) superou, não só manteve os 3 mandatos como subiu na votação. Ou seja, este desfecho – porque apenas existiam duas possibilidades antes das eleições – obriga a que se repense muita coisa, incluindo no plano da disputa interna no PSD-M. Fico satisfeito porque os eleitores mostraram, como sempre antecipei, que não confundem a floresta com duas ou três árvores. A coligação PSD-CDS na Madeira é quem vai salvar a AD de Montenegro…

- Destaco também o PAN que, apesar da diferença entre eleições, alcançou nestas legislativas a maior votação - total de votos obtidos nas urnas - de sempre, o que demonstra que o tal "negócio" com o PSD, depois das regionais de 2023, não foi mal avaliado. E os contestatários locais da liderança nacional do PAN e da estrutura regional do partido acabaram também por ser derrotados nesta noite eleitoral. O PAN totalizou em 2024 3.127 votos, 2,1% mas verdade seja dita que fez uma boa campanha, diariamente na rua. Marco Gonçalves não é propriamente um maçarico da política... Nas regionais o PAN tinha alcançado 3.046  votos, 2,3% o que demonstra que o partido conseguiu segurar o seu eleitorado.

- Já se percebeu que Paulo Cafofo não vai ter vida fácil. Voltou ao PS-M julgando-se "salvador" do partido depois da derrota copiosa nas regionais de 2023, enganou-se quando pensou que o cargo no governo de Costa lhe rendia votos, sofreu mais uma derrota eleitoral com menos votos e menos um deputado, parece-me que conseguiu unir a oposição interna no PS-Madeira que começa a querer a sua cabeça e a exigir a demissão por não acreditar no seu sucesso num eventual cenário de eleições regionais que ainda estou para ver. Cafofo vai ter uma vida difícil. E sem os resultados finais no Funchal chegou a ter como perdido um segundo mandato a favor da JPP cenário que sei ter causado uma tremenda ansiedade na noite eleitoral no quartel-general dos socialistas locais.

- Com estes resultados na Madeira e com o cenário de ingovernabilidade nacional devido a um clamoroso erro do comentador Marcelo Rebelo de Sousa eleito Presidente, e ainda com um quadro de potencial instabilidade política nos Açores, onde a antecipação de novas eleições regionais não está fora de enquadramento, ainda estou para ver se MRS, repito, com estes resultados da coligação na RAM associados a uma vitória de Albuquerque na corrida interna no PSD-M, vai arriscar o cenário de eleições antecipadas, sob pena de ficar nos braços com outro quadro de potencial ingovernabilidade. MRS pode ser acusado, por muito que diga e faça - e faz e diz demais - como o principal "padrinho" do crescimento da extrema-direita no pais, o que para um comentador como ele é pouco dignificante, mesmo que se perceba que o homem em final de mandato, se esteja a borrifar para o assunto. Veremos o que vai acontecer depois de 24 de Março mas confesso que tenho muitas dúvidas quanto à obrigatoriedade da solução de eleições antecipadas que alguns vaticinam como inevitável. E não sei mesmo se o PS, ao contrário do Chega - obviamente - estará tão entusiasticamente a manter agora a mesma posição quanto à exigência de antecipadas. Não se pode confundir política e eleições com justiça e muito menos nos podemos substituir à justiça. Ser arguido não é impeditivo de nada e que eu saiba MA até esta data não esta formalmente acusado de nada, nem sequer foi ouvido pelas autoridades judiciais apesar de o ter solicitado. E acresce que Cafofo e o PS-M não podem assobiar para o lado porque é sabido que estão pendentes no MP vários processos em investigação no MP que envolvem eleitos do PS na Madeira em diferentes patamares políticos.

- Nas regionais de 2023 o ADN obteve na Madeira 617 votos, 0,5%. Nas legislativas nacionais de 2022, alcançou na Madeira 550  votos, 0,4%. Em 2024, nas mesmas eleições legislativas, ficou-se pelos 2.348 votos, 1,6%. No plano nacional, o ADN obteve em 2022 um total de 10.001 votos, 0,2% que passaram, em 2024, para 100.044 votos e 1,6%. Obviamente que ninguém acredita nisto. A polémica que envolveu a AD e o ADN, devido à potencial e confirmada confusão de siglas, obviamente que assentou na realidade mas a AD devia ter pensado - antes de formalizar a coligação - que o AND já existia muito antes desse acordo entre Montenegro e Nuno Melo. Por isso, independentemente de acreditarmos, e eu tenho a certeza, que o ADN "roubou" muitos votos à AD, nem Montenegro nem Melo se podem queixar disso. Mudassem a designação da coligação que nem as eleições conseguiu vencer no território nacional (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira de 15 de Março de 2024)

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